Ativos ligados ao dólar disparam diante de incertezas sobre economia global
Aumento das taxas de juros nos EUA impulsiona movimento de investidores
O cenário de incerteza na economia global leva os investidores a buscar abrigo e segurança em ativos de curto prazo atrelados ao dólar.
Já são US$ 4,6 trilhões alocados em fundos mútuos do mercado monetário dos EUA, de acordo com dados do Investment Company Institute, divulgados pela Bloomberg.
A maior disparada aconteceu durante o primeiro ano da pandemia, mas o patamar de capital investidos nesses ativos não voltou mais ao nível anterior à crise sanitária e está em trajetória de alta.
Os investimentos são feitos em fundos monetários que têm bastante liquidez e a segurança da moeda de reserva do mundo.
O dólar se valoriza também em função da política do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) para lidar com a maior inflação em mais de quatro décadas no país.
Os juros dos EUA estão subindo desde março e a expectativa é de novas altas nos próximos meses.
Para o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, o BC americano tem sido mais firme no aumento das taxas na comparação com outros bancos centrais do mundo.
“O dólar continua sendo a moeda de reserva do mundo. Os EUA são um país muito grande com um mercado financeiro muito profundo, que tem relações comerciais com o mundo inteiro. Isso não se consegue replicar facilmente”, explica Megale.
“Todos os outros candidatos à moeda de referência para substituir o dólar acabaram ficando pelo caminho”.
Há um ano, o rendimento de fundos monetários de sete dias acompanhados pela Crane Data era em média apenas 0,02%. Hoje, esses ativos chegam a render 2,5%.
Com títulos em baixa e ações globais no menor nível desde 2020, a estratégia do Fed vai provocar uma forte desaceleração na atividade econômica dos EUA, com reflexos no mundo todo.
“Os juros estão subindo numa velocidade que não tem precedente. É muito raro um movimento rápido como esse, que vai certamente jogar a economia numa situação mais contracionista. Mas é o remédio amargo que tem que ser tomado”, avalia Megale.
Esse cenário faz com que mesmo os poucos pontos percentuais de retorno positivo de ativos atrelados ao dólar se tornem cada vez mais atraentes.
Impactos para o Brasil
O economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, aponta que entre os países emergentes o Brasil aparece em destaque para receber fluxo de investimentos neste momento.
“O Brasil tem características especiais que o colocam nessa posição positiva. O país exporta muitas commodities, que apesar de ter tido uma queda recente nos preços ainda continua alto, e está com a economia se recuperando”.
Megale também avalia que é preciso observar como será a transição do regime fiscal, já que a reformulação do teto de gastos está entre as propostas dos candidatos à Presidência.
“Esse período de incertezas continua e só depois das eleições teremos o caminho para qual a política fiscal no Brasil vai seguir”.