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      Luiz Carlos Corrêa Carvalho - presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG)

      Luiz Carlos Corrêa Carvalho é engenheiro agrônomo formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz – ESALQ/US.

      Possui cursos de pós graduação em Agronomia e em Administração pela Faculdade de Economia e Administração da USP e Vanderbilt University (USA).

      É presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG).

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    Cooperação, nunca sanção!

    As mudanças globais seguem em velocidade, mas em direção não tão clara. Essa afirmação está diretamente relacionada aos efeitos da guerra fria entre Estados Unidos
    e China, aos impactos da pandemia e as consequências das inseguranças alimentar e energética decorrentes da guerra entre Rússia e Ucrânia. A humanidade encara guerras de novo, após um período de excelentes resultados da globalização.

    A geopolítica, com o pêndulo econômico global de volta ao Oriente, vai sendo traduzida nas ações desequilibradas da Europa, não só pelo estado de conflito Rússia-Ucrânia, mas também pela busca do espaço perdido nas ações desde o Brexit. “Um olhar no peixe e outro no gato”, como dito popular, é o que faz hoje países europeus que buscam defender suas dificuldades competitivas com mecanismos unilaterais de regulação, procurando o suporte dos outros países desenvolvidos. Através de fórmulas
    macroeconômicas do mundo temperado, tentam atingir os países tropicais cuja realidade de clima e de gerenciamento de produção são muitos diferentes de suas realidades.

    O novo ensaio do Green Deal europeu é de extravagância e de intempestividade típicas de uma fase desequilibrada, sob a indiferença norte-americana e japonesa, sem contar a da China. Olhando para questões objetivas, como as exportações, ou para nossos pontos, como as emissões de gases do efeito estufa, ou até mesmo as relativas aos desmatamentos, tem-se alguns itens relevantes a observar:

    a. O Brasil é um país de leis e tem a mais robusta lei ambiental do mundo, que é o Código Florestal. Segundo ela, há o desmatamento legal, que se enquadra na lei, e o ilegal, que por decorrência da lei é questão policial;
    b. O Brasil produz de 2 a 3 culturas no mesmo ano e na mesma área, com impactos de emissões excepcionais e completamente diferentes daqueles que se observa
    no mundo temperado;
    c. As exportações brasileiras são função da conhecida capacidade produtiva do país e serão fundamentais, segundo a FAO e a OCDE, para a expansão necessária da oferta de alimentos para o mundo nas próximas décadas.

    Os apelos que têm sido feitos pelo Brasil estão na direção da cooperação, principalmente no que diz respeito à Amazônia e às questões policiais envolvidas. Mas há óbvia má vontade com o Governo Bolsonaro por parte da Europa, que no Green Deal esqueceu que as relações são com Estados e não governos. O Brasil é um país democrático e será essencial ao equilíbrio nas questões de segurança alimentar e descarbonização.

    No mês de setembro de 2022, a Comissão Europeia aprovou por maioria esse Acordo com uma série de artigos que trazem a visão de sanções e não de cooperação. Claro
    que isto terá que passar por 2 níveis para posição da União Europeia, mas traz uma mensagem com dois componentes importantes e opostos:

    1. O objetivo de descarbonização permanece, mesmo em guerra;
    2. O objetivo de descarbonização está “sub judice” com a expansão do uso do carvão mineral pelos europeus, assim como uma tendência de volta à energia nuclear.

    Essas posições, os conflitos conceituais e o desejo de ser o ruler do mundo novo tem que passar pela OMC (Organização Mundial do Comércio) ou será “ilegal”. Assim, devem atacar empresas e não o país. As sanções objetivas colocadas pelo mundo ocidental à Rússia, mesmo questionáveis se dão resultado, são um esforço de apoio à Ucrânia. Mas sanções ao Brasil? Cooperação, não?

    No momento da elaboração deste texto, os olhos no mundo estão voltados a focos que se situam nos limites entre Ocidente e Oriente, com a guerra da Ucrânia e a competição estratégica por Taiwan, momento em que a chamada “grande moderação”, pós internacionalismo liberal otimista com a complacência entre Bancos Centrais e economistas tradicionais, despenca em um grave declínio macroeconômico, agravado pela pandemia, um tipo de acelerador de crise global.

    O Brasil se tornou um global player nos temas de insegurança alimentar e energética e se sente um Ocidental sendo colocado pelos ricos europeus nos braços de um Oriente que o respeita e que dele necessita. É momento de reflexão no mundo democrático, onde uma visão de proa consiga sobrepujar a visão conservadora e preconceituosa da popa.

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