Entenda o crescimento da extrema-direita na Europa nos últimos anos
Vitória de uma coalizão de extrema-direita nas eleições na Itália marca a chegada do extremismo no governo de um dos países mais importantes da Europa
A vitória de uma coalizão de extrema-direita nas recentes eleições na Itália marca a chegada do extremismo no governo de um dos países mais importantes da Europa.
Com esses resultados, Giorgia Meloni, líder eurocética do partido Irmãos da Itália – que reivindica o ditador Benito Mussolini -, se torna primeira-ministra.
Com o slogan “Deus, pátria e família”, Meloni, de 45 anos, liderou uma campanha baseada no euroceticismo – ou seja, na rejeição à União Europeia – e nas políticas anti-imigração, além de propor a redução dos direitos da comunidade LGBTQ e de acesso ao aborto.
Sua ascensão marca o mais recente avanço da extrema-direita na Europa – cuja agenda eurocética, anti-imigração e socialmente conservadora parece transcender fronteiras – que vem se espalhando pelo continente nos últimos anos e especialmente desde a crise dos refugiados de 2015.
Este é um vislumbre desse crescimento:
Itália
Os Irmãos da Itália, liderados por Meloni, obtiveram neste momento 26% dos votos nas eleições gerais deste domingo (25), segundo a contagem preliminar. Seus principais aliados, a La Liga de Matteo Salvini e o Forza Italia do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, alcançaram 9% e 8%, respectivamente.
Com esses números, registra-se um enorme sucesso especialmente para Meloni, cujo partido obteve apenas 4,5% dos votos nas eleições anteriores de 2018.
É um desenvolvimento impressionante para a jovem política.
Meloni foi uma das fundadoras em 2012 dos Irmãos da Itália, uma ramificação do Movimento Social Italiano, um partido fascista fundado em 1946 por seguidores de Mussolini.
Enquanto isso, seus parceiros de coalizão Salvini e Berlusconi dominaram a política de direita no país nos últimos anos, com Meloni servindo no governo de Berlusconi.
Suécia
No início de setembro, os democratas suecos surpreenderam ao se tornar a segunda minoria no país depois de seus bons resultados nas eleições gerais.
Com raízes neonazistas, os Democratas Suecos terão um papel importante na política sueca a partir de agora.
Sua popularidade, como a de tantas outras forças de extrema-direita na Europa, disparou após a crise migratória de 2015, quando vários países europeus – incluindo a Suécia – decidiram abrir suas portas para refugiados que fugiam das guerras na Síria e no Iêmen.
Os democratas suecos alcançaram apenas 5,7% dos votos nas eleições de 2010, mas cresceram para 12,9% em 2014 e 17,2% em 2018, após a crise. E em setembro subiu para 20,5%, ficando em segundo lugar atrás dos sociais-democratas.
Hungria
No poder desde 2010, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, construiu uma base de poder precisamente graças às suas políticas anti-imigração, que lhe renderam o apoio de eleitores de extrema-direita e prejudicaram a oposição.
E, à medida que a crise migratória se normalizou, Orban e seu partido Fidesz voltaram sua atenção para membros da comunidade LGBT: nas eleições gerais de abril, seu governo também realizou um polêmico referendo para proibir a educação sobre orientação sexual nas escolas, uma medida considerada por alguns setores como discriminatório.
O Fidesz voltou a vencer nessas eleições: alcançou 53% e apoiou Orban, embora o referendo não tenha atingido o nível de participação necessário para ser válido.
As relações entre Budapeste e Bruxelas, neste contexto, têm sido muito tensas. Em fevereiro, o Tribunal de Justiça da União Europeia abriu caminho para restringir o envio de fundos à Hungria por descumprimento das normas europeias, especialmente ao impor controles políticos ao sistema judicial e à mídia e restringindo direitos básicos.
E o bom relacionamento de Orban com Vladimir Putin, o presidente russo agora envolvido em sua invasão da Ucrânia, prejudicou ainda mais essas relações.
Polônia
A Polônia também foi atingida pela decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia, e pode sofrer restrições na transferência de fundos da União Europeia para programas de saúde pública, digitalização e cuidado ambiental.
“A Hungria e a Polônia regrediram rapidamente em termos de liberdade de imprensa, independência dos juízes e direito de protesto”, disse a Anistia Internacional.
Antigas repúblicas comunistas que sofreram após o colapso da URSS em 1991, ambos os países se beneficiaram de ajuda econômica desde a adesão à União Europeia em 2004.
No caso da Polônia, o partido de direita Lei e Justiça governa desde 2015 e seu atual primeiro-ministro é Mateusz Morawiecki.
França
Por trás das vitórias de Emmanuel Macron nas eleições presidenciais de 2017 e 2022 na França, aparece a sombra da extrema-direita Marine Le Pen, da Frente Nacional, que chegou ao segundo turno nas duas vezes.
Le Pen obteve 34% dos votos em 2017 (em comparação com os 66 de Macron) e subiu para 41% em 2022 (em comparação com os 59 de Macron), consolidando sua posição como alternativa e diminuindo a diferença.
Atualmente, Le Pen, de 53 anos, é membro da Assembleia Nacional Francesa por Calais, a cidade costeira de frente para o Reino Unido, onde se concentram os imigrantes que se dirigem à Grã-Bretanha.
Le Pen se opõe à migração – e especialmente à influência do Islã na França -, é eurocética e defende o nacionalismo econômico, dizendo que representa as classes trabalhadoras francesas que sofreram com a globalização e o progresso tecnológico.
Ela também tem sido uma admiradora vocal de Putin e se opõe fortemente à OTAN, da qual a França é um de seus pilares.
A situação em outras partes da Europa
Os partidos de extrema-direita estão consolidados em quase todo o continente, embora em todos os países estejam tão próximos de posições de poder.
Na Alemanha, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) cresceu rapidamente com sua agenda contra os migrantes e a União Europeia até se tornar a terceira força em 2017. Embora desde então sua influência tenha sido reduzida: atualmente a quinta força no Bundestag, o parlamento alemão, com 79 assentos.
Enquanto na Espanha o partido Vox, também com uma agenda ligada à extrema-direita, é atualmente a terceira força no Congresso dos Deputados, com 52 cadeiras.
E na Áustria, o Partido da Liberdade Austríaco (FPÖ) é a quarta maior força, com 30 assentos. Sua popularidade, no entanto, está em declínio: nas últimas eleições obteve 17,3% dos votos, enquanto em 2017 havia alcançado 26% e um espaço na coalizão do governo, que foi posteriormente dissolvida em 2019.
Contribuiram com a reportagem: Kara Fox, Antonia Mortensen, Barbie Latza Nadeau, Nicola Ruotolo, Sharon Braithwaite e Valentina DiDonato.