BCE: Governos da zona do euro devem limitar subsídios a alimentos e combustíveis
Alguns governos da zona do euro estão usando medidas fiscais para ajudar famílias vulneráveis, mas isso levanta o risco de elevar os já altos déficits orçamentários
O apoio orçamentário usado para proteger os cidadãos da zona do euro dos altos custos de alimentos e energia deve ser limitado e temporário de forma a aliviar a pressão inflacionária, disse a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, nesta segunda-feira (26).
Alguns governos da zona do euro estão usando medidas fiscais para ajudar famílias vulneráveis, mas isso levanta o risco de elevar os já altos déficits orçamentários, aumentando as pressões inflacionárias em vez de abatê-las.
“É essencial que o apoio fiscal usado para proteger essas famílias do impacto dos preços mais altos seja temporário e focado”, disse Lagarde em uma audiência parlamentar em Bruxelas
“Isso limita o risco de alimentar as pressões inflacionárias, facilitando também a tarefa da política monetária.”
Lagarde também repetiu a mensagem mais recente do BCE de que as taxas de juros precisarão subir nas próximas reuniões do banco, mesmo que o crescimento desacelere substancialmente.
Lagarde espera subir ainda mais as taxas de juros
Lagarde ainda reafirmou nesta segunda-feira que espera aumentar ainda mais as taxas de juros nas próximas reuniões para “amortecer a demanda” e “se proteger contra o risco de uma mudança persistente para cima nas expectativas de inflação”.
“Reavaliaremos regularmente nossa trajetória de política à luz das informações recebidas e da evolução das perspectivas de inflação. Nossas futuras decisões sobre taxas de juros continuarão a depender de dados e seguirão uma abordagem reunião a reunião. Melhor contribuição que podemos dar é assegurar a estabilidade de preços”, garantiu ela, durante discurso no Parlamento Europeu.
De acordo com ela, a instituição quer chegar ao nível neutro — patamar em que as taxas nem estimulam, nem comprimem a atividade econômica — para depois decidir se é necessário elevar ainda mais os juros.
Além disso, ela destacou que quando terminar a alta de juros, o BC do bloco comum pensará em como usará outras ferramentas, como o aperto quantitativo (QE, na sigla em inglês).
Para a banqueira central, subir juros é a “melhor forma de lidar com a inflação”, que, segundo ela, ficará acima da meta por um longo período.
“Não há dúvidas de que devemos agir para diminuir a inflação no médio prazo. As pressões sobre os preços estão se espalhando por mais setores, em parte devido ao impacto dos altos custos da energia em toda a economia. Preços mais elevados da energia e dos alimentos vão piorar antes de melhorar”, destacou.
Christine Lagarde comentou ainda que as consequências econômicas para a área do euro continuaram a surgir desde a última reunião em junho e as perspectivas estão “escurecendo”.
“Esperamos que a atividade desacelere substancialmente nos próximos trimestres. Há quatro razões principais por trás disso: a alta inflação está diminuindo os gastos e a produção em toda a economia; a forte demanda por serviços que veio com a reabertura da economia está perdendo força; o enfraquecimento da procura global; a incerteza permanece alta, refletida na queda da confiança das famílias e das empresas”, pontuou.
Para 2023, ela prevê que será “um ano difícil”.
Apoio fiscal às famílias
A presidente do Banco Central Europeu defendeu também que o apoio fiscal para proteger as famílias da zona do euro do impacto dos preços mais altos deve ser temporário e direcionado.
“Isso limita o risco de alimentar pressões inflacionárias, facilitando também a tarefa da política monetária para garantir a estabilidade de preços e contribuindo para preservar a sustentabilidade da dívida”, explicou.
A banqueira central destacou que a perspectiva da guerra na Ucrânia para a economia europeia está piorando.
“A inflação continua muito alta e provavelmente permanecerá acima da nossa meta por um período prolongado”, afirmou.
Diante deste cenário, ela comentou que qualquer comprimento e volume de compra do instrumento de anti-fragmentação (o chamado TPI), anunciado em julho, levará a inflação em conta.
“Essa ferramenta foi projetada para combater dinâmicas de mercado injustificadas e desordenadas, com flexibilidade suficiente para responder à gravidade dos riscos enfrentados pela transmissão de políticas. Irá salvaguardar a unicidade da nossa política monetária à medida que o BCE prossegue a sua trajetória de normalização”, explicou.
“O TPI está sujeito a uma lista de critérios de elegibilidade que o BCE usará para buscar políticas fiscais e macroeconômicas sólidas e sustentáveis”, completou.
*Com informações da Agência Estado