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    Manifestantes antiguerra são detidos e “convocados diretamente” para o exército russo

    Vladimir Putin anunciou "mobilização parcial" de 300 mil cidadãos; líderes mundiais reagiram à determinação

    Simone McCarthyMatthew Chanceda CNN

    Mais de 1.300 pessoas foram detidas em toda a Rússia na quarta-feira (21) por participarem de protestos contra a guerra na Ucrânia. Alguns foram diretamente recrutados para as Forças Armadas, de acordo com um grupo de monitoramento, depois que o presidente Vladimir Putin anunciou uma “mobilização parcial” dos cidadãos.

    Imagens e vídeos mostram a polícia reprimindo manifestantes em várias cidades, incluindo o centro de Moscou, onde pessoas foram levadas pelas autoridades policiais, e São Petersburgo, onde forças de segurança tentavam conter uma multidão que gritava “sem mobilização” do lado de fora da Catedral Isakiivskiy.

    A polícia realizou detenções em 38 cidades da Rússia na quarta-feira, segundo números divulgados pouco depois da meia-noite pelo grupo de monitoramento independente OVD-Info.

    A porta-voz Maria Kuznetsova disse à CNN por telefone que em pelo menos quatro delegacias de Moscou alguns dos manifestantes presos pela tropa de choque estavam sendo convocados diretamente para o exército russo.

    Um dos presos foi ameaçado de ser processado por se recusar a ser convocado, afirmou Kuznetsova. O governo pontuou que a punição por recusa à determinação agora é de 15 anos de prisão.

    Das mais de 1.300 pessoas detidas em todo o país, mais de 500 estavam em Moscou e mais de 520 em São Petersburgo, ainda de acordo com a OVD-Info.

    Pouco mais da metade dos manifestantes detidos cujos nomes foram tornados públicos são mulheres, complementa a organização, tornando-se o maior protesto antigoverno por participação de mulheres na história recente. No entanto, a OVD-Info alegou que o número total de prisões permanece desconhecido.

    O grupo informou também que nove jornalistas e 33 menores também estão entre os detidos, e que um dos menores teria sido “brutalmente espancado” pela polícia.

    Mobilização parcial

    As manifestações acontecem após um discurso de Putin na manhã de quarta-feira, no qual ele apresentou um plano que aumenta a tensão e suas pretensões com a guerra na Ucrânia.

    Além disso, ocorre em um momento em que uma contra-ofensiva repentina do exército ucraniano recapturou milhares de quilômetros quadrados de território e empurrou as linhas russas para trás. Especialistas dizem que as forças da Rússia estão significativamente esgotadas.

    A anunciada “mobilização parcial” é uma convocação de 300 mil reservistas, segundo o ministro da Defesa, Sergei Shoigu. Putin disse que aqueles com experiência militar estariam sujeitos ao recrutamento e enfatizou que o decreto – que já foi assinado – é necessário para “proteger nossa pátria, sua soberania e sua integridade territorial”.

    A determinação em si não se aplica apenas aos reservistas, pois permite a “convocação [de] cidadãos da Federação Russa para o serviço militar por mobilização nas Forças Armadas da Federação Russa”.

    Putin também citou a questão de armas nucleares durante seu pronunciamento, dizendo que usaria “todos os meios à nossa disposição” se considerasse a “integridade territorial” da Rússia ameaçada. Ele também endossou referendos sobre a adesão ao país que os líderes indicados pelos russos em quatro regiões ocupadas da Ucrânia anunciaram que realizariam nesta semana.

    Protesto contra a guerra em Moscou, capital da Rússia
    Manifestante contra a invasão da Ucrânia é levado pela polícia em Moscou, em 24 de fevereiro / Daniil Danchenko/NurPhoto/Getty Images

    A preocupação entre os cidadãos russos era perceptível na quarta-feira, com sites de agências de viagens mostrando um aumento significativo na demanda por voos para lugares onde os russos não precisam de visto. Sites de venda de passagens indicavam que voos diretos para esses países estão esgotados até, pelo menos, sexta-feira (23).

    Os protestos, cuja maioria pareceu ter atraído algumas dezenas de pessoas, foram outro forte sinal do desespero sentido. A dissidência é, normalmente, rechaçada rapidamente na Rússia. Além disso, as autoridades impuseram mais restrições à liberdade de expressão após a invasão da Ucrânia.

    Imagens nas redes sociais exibiam vários manifestantes em Ulan Ude, no leste da Sibéria, carregando cartazes com os escritos “Não à guerra! Não à mobilização!” e “Nossos maridos, pais e irmãos não querem matar outros maridos e pais!”

    “Queremos que nossos pais, maridos e irmãos permaneçam vivos… e não deixem seus filhos órfãos. Pare a guerra e não leve nosso povo!”, pontuava um manifestante.

    Um vídeo de Yekaterinburg, no oeste da Rússia, mostrou a polícia brigando com várias pessoas. A CNN não pôde verificar de forma independente as imagens de nenhuma das cidades.

    Outro vídeo postado por um jornalista da página The Village, de Moscou, apresentava dezenas de pessoas cantando “Deixe-o ir” enquanto um homem era detido.

    A promotoria da cidade também alertou os cidadãos, na quarta-feira, contra a participação de protestos ou distribuição de informações sobre atos – lembrando às pessoas que elas podem pegar até 15 anos de prisão.

    Reação do Ocidente

    O anúncio de “mobilização parcial” de Putin foi condenado por líderes ocidentais, muitos dos quais se reuniam na abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York.

    Em uma rara declaração conjunta, a primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, destacaram que ambas concordam que o anúncio do líder russo é um sinal de “fraqueza”.

    Os ministros das Relações Exteriores da União Europeia concordaram em avançar com uma nova rodada de sanções contra a Rússia, disse o chefe de política externa do bloco, Josep Borrell, a repórteres na noite de quarta.

    A Ucrânia permaneceu desafiadora diante do anúncio de Putin, com o presidente Volodymyr Zelensky dizendo à Assembleia-Geral em um discurso gravado que a Rússia estava “com medo de negociações reais (de paz)” e apontando para o que ele caracterizou como “mentiras” russas.

    A Rússia “fala sobre as negociações, mas anuncia uma mobilização militar. A Rússia quer a guerra”, afirmou Zelensky.

    Enquanto isso, análises de pesquisadores do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) observaram que a medida não terá um impacto significativo no resultado imediato da guerra.

    A análise indicou que levaria semanas ou meses para preparar os reservistas para o combate, pois são “mal treinados para começar” e que as fases de implantação descritas pelo ministro da Defesa da Rússia provavelmente impedirão “qualquer influxo repentino de forças russas que poderiam mudar drasticamente a maré da guerra”.

    “A ordem de Putin de mobilizar parte da reserva ‘treinada’ da Rússia, ou seja, indivíduos que completaram seu serviço obrigatório de recrutamento, não gerará um poder de combate russo utilizável significativo por meses”, afirmam os especialistas.

    “Pode ser suficiente para sustentar os níveis atuais de mão de obra militar russa em 2023, compensando as baixas russas, embora isso ainda não esteja claro”, ressaltaram.

    *Katya Krebs, Uliana Pavlova, Gianluca Mezzofiore, Anastasia Graham-Yooll, Sugam Pokharel, Clare Sebastian, Idris Muktar e Stephanie Halasz, da CNN, contribuíram para esta reportagem

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