Reino Unido se despede da rainha em meio à pior crise do custo de vida em década
Em cenário de inflação crescente, moeda em queda e a pior crise de custo de vida em décadas, país perde um de seus poucos indicadores de continuidade e estabilidade
A morte da rainha Elizabeth veio em um momento ruim para o Reino Unido.
Em um cenário de inflação crescente, moeda em queda e a pior crise de custo de vida em décadas, o país perdeu um de seus poucos indicadores de continuidade e estabilidade.
O governo da primeira-ministra Liz Truss, que na quinta-feira (8) revelou uma grande aposta para resgatar a economia apenas dois dias no cargo e poucas horas antes da morte da rainha, declarou um período de luto nacional que durará até o dia do funeral.
Algumas lojas e locais esportivos foram fechados como sinal de respeito, mas, em grande parte do país, os negócios continuaram como de costume.
Os mercados financeiros de Londres abriram na sexta-feira, com as ações ganhando terreno em linha com outros mercados da Europa e da Ásia.
A Bolsa de Valores de Londres disse que espera que as negociações continuem durante o período de luto. Fechará apenas para o funeral, cuja data ainda não foi anunciada, mas é provável que seja um feriado.
Uma das lojas de departamento mais antigas, a Selfridges, fechou suas lojas em Londres, Manchester e Birmingham, mas disse que reabriria no sábado.
Enquanto isso, os sindicatos ofereciam algum alívio a uma recente onda de greves. O Sindicato dos Trabalhadores da Comunicação cancelou uma greve envolvendo 115.000 trabalhadores dos correios do Royal Mail planejada para esta sexta-feira.
Os sindicatos dos transportes também cancelaram as paralisações organizadas para a próxima semana e ainda este mês nas ferrovias.
E enquanto a Academia Britânica de Artes Cinematográficas e Televisivas cancelou seu evento anual pré-Emmy programado para este fim de semana, os teatros do West End de Londres estavam abertos.
Holger Schmieding, economista-chefe do Berenberg, um banco privado, disse à CNN Business que espera que o impacto econômico da morte da rainha seja “menor”.
“A interrupção das greves ferroviárias disruptivas por enquanto deve compensar parcialmente o impacto dos dias de luto. As receitas turísticas adicionais provavelmente contribuirão para isso”, disse ele.
Resgate econômico interrompido?
A notícia da morte do monarca veio poucas horas depois que Truss anunciou planos para limitar as contas de energia dos britânicos a partir de outubro, proporcionando alívio a milhões de lares e milhares de empresas que lutam para lidar com a alta dos preços.
Mas o pacote de resgate pode custar até 150 bilhões de libras (US$ 172 bilhões), segundo analistas da Berenberg, e ser amplamente financiado por empréstimos do governo.
O ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, deve confirmar o preço do plano ainda este mês.
No entanto, grande parte da atenção do governo agora pode se voltar para os eventos dos próximos dias, enquanto se prepara para o funeral da rainha e a coroação de seu sucessor, o rei Charles III. Os negócios normais no parlamento também foram suspensos pelos próximos dias.
“É provável que o orçamento de emergência iminente seja adiado”, disse Danni Hewson, analista da empresa de investimentos AJ Bell, à CNN Business.
A forma como o Banco da Inglaterra responde ao enorme aumento dos empréstimos do governo também é crucial.
Os investidores já estão nervosos com o estado das finanças do governo do Reino Unido, e o banco estava programado para se reunir na quinta-feira, onde deveria aumentar as taxas de juros novamente.
Mas, nesta sexta-feira, o Banco da Inglaterra anunciou que adiaria sua decisão sobre a taxa de juros por uma semana “à luz do período de luto nacional”. Agora, ele se reunirá em 22 de setembro.
O Tesouro do Reino Unido não respondeu imediatamente à CNN Business para comentar. O porta-voz oficial de Truss disse a repórteres que o teto do preço da energia estaria em vigor conforme planejado em 1º de outubro, apesar do período de luto.
A libra foi negociada em alta na sexta-feira a US$ 1,16, recuperando-se das mínimas de 37 anos atingidas no início da semana, mas o declínio de longo prazo em seu valor visto desde a crise financeira global provavelmente continuará “até que haja uma mudança sísmica na direção da economia e política econômica”, disse Kit Juckes, macroestrategista do Société Générale, em nota nesta sexta-feira.
“Há uma grande chance de que o rei Charles III seja o primeiro monarca britânico a pagar mais de uma libra por um dólar, ou mais de uma libra por um euro, ou ambos”, acrescentou, dizendo que é improvável que a libra caia abaixo paridade com o dólar este ano.
Quanto às notas do Reino Unido, que apresentam o retrato da rainha, elas “continuam a ter curso legal”, disse o Banco da Inglaterra, acrescentando que anunciaria planos para imprimir novo dinheiro com um retrato do rei Charles III após o término do período de luto.
— Rob North, Sandra Gonzalez, Max Foster, David Wilkinson, Luke McGee e Morgan Povey contribuíram com reportagens.