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    “Aço pintado com madeira”; veja a curiosa relação da rainha com os 15 premiês

    Flerte no jardim do Palácio, premiê que lavava a louça após encontros, relações próximas e desafiadoras; entenda o convívio da rainha com os chefes de governo

    Daniela Costa Teixeirada CNN

    rainha Elizabeth II, do Reino Unido, morreu nesta quinta-feira (8), aos 96 anos, no Castelo de Balmoral, na Escócia. Ao longo do reinado de 70 anos, a monarca britânica contou com 15 chefes de governo.

    Confira como era a relação de Elizabeth II com os 15 primeiros-ministros com quem trabalhou.

    1. Winston Churchill, Partido Conservador. 1951–1955 

    O cargo não era uma novidade para Churchill mas era para a rainha. Ele já tinha 77 anos quando assumiu o governo britânico e foi o primeiro a fazê-lo no reinado de Elizabeth II, quando ela tinha apenas 25.

    A diferença de idade não foi um entrave para a relação criada entre ambos, quase como uma continuação da ligação que o político já tinha com o pai da monarca, o rei George VI. Segundo o British Heritage, Elizabeth II e Churchill eram próximos e o primeiro-ministro não hesitava em elogiar a rainha, um ato que pouco ou nada se verificou com os seus sucessores.

    Antes de abandonar o cargo, ele disse que “todas as pessoas de cinema do mundo, se tivessem vasculhado o globo, não podiam ter encontrado alguém tão adequado para o papel”, referindo-se à aptidão quase orgânica de Elizabeth II para o cargo de rainha.

    Em 1955, já com a oficialização do anúncio do fim do mandato de Churchill, a monarca escreveu uma carta a Churchill para dizer que, embora a sua confiança no próximo primeiro-ministro fosse completa, “seria inútil fingir que Anthony Eden [que assumiu de seguida o cargo] ou qualquer um daqueles sucessores que um dia possam segui-lo no cargo “jamais será, para mim, capaz de ocupar o lugar de meu primeiro-ministro”, disse a rainha.

    “A quem tanto o meu marido quanto eu devemos muito e por cuja sábia orientação durante os primeiros anos do meu reinado sempre serei profundamente grata”, completou, como se lê no site da International Churchill Society.

    Anos depois, quando Churchill, com quase 80 anos, viu uma fotografia da rainha num jornal, o antigo primeiro-ministro murmurou: “O país tem tanta sorte”.

    Winston Churchill, primeiro-ministro britânico entre 1940 e 1945 e de 1951 até 1955
    Winston Churchill, primeiro-ministro britânico entre 1940 e 1945 e de 1951 até 1955 / Photo by Keystone/Getty Images

    2. Anthony Eden, Partido Conservador. 1955–1957

    Se com Churchill a relação era de proximidade, até por estar habituada a vê-lo junto do seu pai, com Anthony Eden a relação foi mais “formal”, diz a imprensa britânica, mas as reuniões eram semanais e muitas vezes com temas factuais, como o caso do canal Suez – tendo, pela primeira vez, um primeiro-ministro mostrado documentos confidenciais do governo à rainha – e o possível (esteve quase a acontecer) casamento da sua irmã Margaret com o capitão Peter Townsend, divorciado e pai de duas crianças.

    Sir Anthony Eden, primeiro-ministro britânico entre 1955 e 1957
    Sir Anthony Eden, primeiro-ministro britânico entre 1955 e 1957 / Photo by Jimmy Sime/Central Press/Getty Images

    A relação entre os dois “era de impecável propriedade constitucional” e foram feitas e mantidas “confidências”.

    “A rainha foi capaz de aproveitar essas experiências em reuniões posteriores com Margaret Thatcher durante a Guerra das Malvinas”, lê-se no site do governo britânico.

    No entanto, apesar de manter uma boa relação com a rainha e de a manter a par de tudo, o fracasso de Anthony Eden na tentativa de recuperar o recém-nacionalizado canal Suez por parte do Egito, diz a Time, culminou na sua saída do governo, uma saída que é ainda hoje classificada como humilhante, mas não há relatos de trocas de palavras em público por parte da rainha.

    3. Harold Macmillan, Partido Conservador. 1957–1963

    Harold Macmillan, primeiro-ministro britânico entre 1957 e 1963
    Harold Macmillan, primeiro-ministro britânico entre 1957 e 1963 / Photo by Jeremy Grayson/Radio Times/Getty Images

    Foram confidentes em todas as reuniões e essa proximidade foi ainda procurada pela rainha já após a reforma de Harold Macmillan, como aconteceu em 1965 quando a monarca lhe pediu conselhos sobre questões como a construção do memorial inglês ao presidente John F Kennedy, em Runnymede.

    E ao seu sucessor deixou um breve aviso, tendo descrito a rainha com “aço pintado como madeira”, relata o The Washington Post.

    4. Alec Douglas-Home, Partido Conservador. 1963–1964

    Alec Douglas-Home, primeiro-ministro britânico entre 1963 e 1964
    Alec Douglas-Home, primeiro-ministro britânico entre 1963 e 1964 / Getty Images

    Quando Macmillan renunciou em outubro de 1963, a rainha foi acusada de ter conspirado para bloquear que o vice-primeiro-ministro, Rab Butler, seguisse como sucessor, o que levou “à controversa nomeação de Alec Douglas-Home como o novo primeiro-ministro”, diz o site do governo do Reino Unido.

    Douglas-Home era amigo próximo da família real e, no meio de toda a polêmica, a rainha decidiu distanciar-se da questão, ficando em Londres e alocando as responsabilidades das conversações entre o Castelo de Windsor e o Gabinete do primeiro-ministro ao seu secretário particular e assistente, Edward Ford, como relata o governo britânico.

    5. Harold Wilson, Partido Trabalhista. 1964–70 e 1974–1976

    Wilson, que veio de uma família de classe média-baixa, tornou-se o primeiro premiê do Partido Trabalhista e o único a ocupar duas vezes o cargo. Segundo a CNN Internacional, Wilson quebrava muitas vezes tradições nas reuniões com Elizabeth II e gostava de ajudar a lavar a louça depois dos churrascos em Balmoral – uma das residências da rainha.

    A rainha gostou desde o primeiro momento da presença informal de Wilson e até o convidou para ficar para beber algo depois do primeiro encontro, o que não era comum.

    6. Edward Heath, Partido Conservador. 1970–1974

    Sir Edward Heath, primeiro-ministro britânico entre 1970 e 1974
    Sir Edward Heath, primeiro-ministro britânico entre 1970 e 1974 / Getty Images

    A relação da rainha com Heath foi difícil, principalmente devido à grande divergência dos pontos de vista.

    Em 2012, John Major (primeiro-ministro nos anos 1990) realizou um jantar com a rainha e com ex-chefes do governo mas foi Edward Heath o protagonista, tendo adormecido em frente a todos os convidados.

    Segundo o Daily Telegraph, na época, a rainha brincou com a situação tendo dito: “Não se preocupe, ele vai acordar um pouco mais tarde e não diremos nada sobre isso”.

    7. James Callaghan, Partido Trabalhista. 1976–1979

    James Callaghan, primeiro-ministro britânico entre 1976 e 1979. Membro do Partido Trabalhista.
    James Callaghan, primeiro-ministro britânico entre 1976 e 1979. Membro do Partido Trabalhista. / Photo by Keystone/Hulton Archive/Getty Images

    “Uma das melhores coisas sobre ela é que ela sempre parece capaz de ver o lado engraçado da vida. Todas as conversas foram muito agradáveis”, disse James Callaghan sobre a rainha, citado pelo The Wall Street Journal.

    A relação de James Callaghan com a rainha era considerada boa, mas foram três anos de altos e baixos. Há relatos de alguns momentos de flerte com a rainha – e ela uma vez prendeu uma flor em sua lapela enquanto caminhava pelos jardins do Palácio de Buckingham.

    Mas também teve momentos de maior tensão. Em uma entrevista com David Frost, da BBC, Callaghan falou sobre o momento em que pediu a opinião a Elizabeth II e que dela apenas teve uma resposta: “É para isso que é pago”.

    8. Margaret Thatcher, Partido Conservador. 1979–1990

    Enquanto Wilson gostava dos convívios com a rainha – e ela da sua presença, pois não era habitual convidar um primeiro-ministro a ficar além do período estipulado para a reunião -, já a ‘Dama de Ferro’, como ficou conhecida, considerava os encontros semanais e o evento anual um atraso para o seu trabalho.

    De acordo com um documentário de 2014, The Queen and Her Prime MinistersThatcher chegava sempre 15 minutos mais cedo aos encontros com Elizabeth II e a rainha fazia-a sempre esperar.

    Segundo a CNN Internacional, Thatcher teve uma relação tensa com a monarca durante as suas tradicionais reuniões. Mas, apesar disso, diz-se que Thatcher foi incrivelmente respeitosa com a rainha e tornou-se a chefe de Governo que mais anos esteve no poder durante o reinado de Elizabeth II.

    Margaret Thatcher, primeira-ministra britânica entre os anos de 1979 e 1990. Durante seu governo, o Reino Unido travou a Guerra das Malvinas contra a Argentina.
    Margaret Thatcher, primeira-ministra britânica entre os anos de 1979 e 1990. Durante seu governo, o Reino Unido travou a Guerra das Malvinas contra a Argentina. / Bettmann Archive

    “Sempre achei a atitude da rainha em relação ao trabalho do Governo absolutamente correta”, escreveu Thatcher na sua autobiografia (Margaret Thatcher: The Autobiography). “É claro que as histórias de confrontos entre ‘duas mulheres poderosas’ eram demasiado boas para não serem contadas”, escreveu.

    Apesar das divergências,Elizabeth II nomeou Thatcher para a Ordem do Mérito, uma das mais altas honras do Reino Unido, e quebrou o protocolo para estar no funeral da antiga primeira-ministra, em 2013.

    9. John Major, Partido Conservador. 1990–1997

    Sir John Major, primeiro-ministro britânico entre os anos de 1990 e 1997. Sucedeu Margaret Thatcher.
    Sir John Major, primeiro-ministro britânico entre os anos de 1990 e 1997. Sucedeu Margaret Thatcher. / Photo by Dan Kitwood/Getty Images

    Em entrevista à Sky News, citada pelo The Wall Street Journal, aquele que foi o primeiro-ministro a estar no declarado annus horribilis por parte da rainha (1992) classificou a monarca como “astuta”.

    Na mesma entrevista, reconheceu porém que era fácil conversar com a rainha: “De muitas maneiras é catártica”.

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