Confrontos em Bagdá deixam mortos após clérigo xiita anunciar saída da política
Pelo menos cinco pessoas morreram e mais de 40 ficaram feridas; manifestantes foram expulsos do Palácio Republicano do Iraque
Pelo menos cinco pessoas foram mortas e mais de 40 ficaram feridas em confrontos violentos que eclodiram na fortemente fortificada Zona Verde de Bagdá na segunda-feira, após um anúncio do poderoso clérigo xiita iraquiano Muqtada al-Sadr de que estava se retirando da vida política, disseram fontes médicas à CNN.
Várias testemunhas disseram à CNN que as forças de segurança expulsaram os manifestantes do Palácio Republicano do Iraque, disparando gás lacrimogêneo e balas reais. Centenas de manifestantes invadiram o prédio dentro da Zona Verde após o anúncio de al-Sadr, disseram autoridades de segurança iraquianas à CNN na segunda-feira.
O Palácio Republicano é onde o gabinete iraquiano se reúne, e o primeiro-ministro Mustafa al-Kadhimi suspendeu todas as reuniões de seu governo até novo aviso, de acordo com um comunicado divulgado por seu gabinete. O primeiro-ministro pediu a al-Sadr “que ajude a pedir aos manifestantes que se retirem das instituições governamentais”.
O presidente do país, Barham Salih, também pediu calma, dizendo em comunicado na segunda-feira que “a circunstância difícil pela qual nosso país está passando exige que todos respeitem a calma, a contenção, evitem a escalada e garantam que a situação não deslize para labirintos desconhecidos e perigosos, nos quais todos perderão”.
Al-Sadr disse que tomou a decisão há dois meses de “não interferir nos assuntos políticos”, mas agora anuncia sua “aposentadoria final” da política e fecha todos os seus escritórios políticos em todo o país, de acordo com um comunicado divulgado por seu escritório na segunda-feira.
O anúncio veio após semanas de tensões e protestos que foram desencadeados pela decisão de al-Sadr em junho de ordenar que todo o seu bloco político se retirasse do parlamento iraquiano em uma aparente demonstração de força após meses de impasse político.
Naquela época, ele disse que seu pedido era “um sacrifício meu pelo país e pelo povo para livrá-los do destino desconhecido”.
O Iraque tem lutado para formar um novo governo desde as eleições parlamentares de outubro, quando os blocos xiitas apoiados pelo Irã perderam assentos para os sadristas.
Al-Sadr, que no passado se posicionou contra o Irã e os Estados Unidos, é popular no Iraque. No entanto, suas tentativas de formar um governo fracassaram nos meses seguintes à eleição em meio à oposição de blocos rivais.
Finalmente, em julho, o Quadro de Coordenação, a maior aliança xiita no parlamento iraquiano, nomeou Mohammed Shiya al-Sudani para liderar o país — provocando uma onda de protestos dos leais a al-Sadr.
As forças de segurança iraquianas pediram na segunda-feira que milhares de manifestantes se retirem imediatamente de dentro da Zona Verde. Em um comunicado, os militares iraquianos disseram que estavam praticando “os mais altos níveis de autocontrole e comportamento fraterno para evitar confrontos ou derramamento de sangue iraquiano”.
“As forças de segurança afirmam sua responsabilidade de proteger instituições governamentais, missões internacionais e propriedades públicas e privadas”, disse o comunicado, acrescentando: “Lidar com manifestações pacíficas é feito por meio da constituição e das leis, e as forças de segurança cumprirão seu dever de proteger a segurança e a estabilidade.”
Os militares decretaram toque de recolher completo, inclusive para veículos e pedestres, a partir das 15h30, horário local na capital, e 19h, horário local, no resto do país. O toque de recolher estará em vigor até novo aviso, de acordo com um comunicado militar.
A Missão de Assistência das Nações Unidas no Iraque (Unami) também pediu aos manifestantes que deixem os prédios governamentais e “permitam que o governo continue com suas responsabilidades de administrar o Estado” para o povo iraquiano.
“As instituições estatais devem operar desimpedidas a serviço do povo iraquiano, em todas as circunstâncias e em todos os momentos. O respeito pela ordem constitucional será agora vital”, disse a Unami em comunicado divulgado na segunda-feira.
A embaixada dos EUA em Bagdá também pediu calma, twittando que “agora é a hora do diálogo para resolver as diferenças, não pelo confronto”.
“O direito ao protesto público pacífico é um elemento fundamental de todas as democracias, mas os manifestantes também devem respeitar as instituições e propriedades do governo iraquiano, que pertencem e servem ao povo iraquiano e devem poder funcionar”, acrescentou a embaixada.