Jogos criados por cientistas podem melhorar tratamento de AVC, diz estudo
Sistema de treinamento por realidade virtual criado por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) pode ajudar na recuperação de movimentos dos pacientes
O acidente vascular cerebral (AVC), também chamado de derrame, acontece quando vasos que levam sangue ao cérebro entopem ou se rompem, provocando paralisia da área cerebral que ficou sem circulação sanguínea. O AVC pode comprometer a movimentação dos membros e está entre as principais causas de incapacidade e de morte no mundo.
Com o objetivo de fortalecer a recuperação de membros comprometidos, pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em Minas Gerais, desenvolveram um sistema de treinamento utilizando realidade virtual.
O projeto consiste em um jogo de realidade virtual personalizável, com níveis e tarefas que podem ser adaptados de acordo com as necessidades específicas de cada paciente. A interação com o chamado “jogo sério” é feita através da alça de uma plataforma robótica que pode ser configurada para estimular ou restringir a execução dos movimentos.
“A solução permeada por jogos sérios parece indicar que a utilização dos mesmos suporta bons tratamentos de natureza fisioterápica e de reabilitação de usuários que sofreram AVC”, diz o professor de Engenharia Elétrica da UFU, Alexandre Cardoso.
No jogo, o paciente deve controlar uma ave de rapina para caçar e fugir de predadores, com objetivos e desafios a serem cumpridos. Para isso, são colocados rastreadores de movimento 3D em diferentes pontos do braço afetado pelo AVC.
Uma ação comum de pacientes com AVC é a utilização do tronco para compensar a perda da função motora de um braço, por exemplo. Identificar os chamados movimentos compensatórios pode melhorar o efeito da prática de reabilitação. Os rastreadores que compõem o jogo permitem justamente a detecção desse tipo de movimento.
Durante a partida, o pássaro deve ser movimentado para diferentes lados. Ao detectar que o paciente está utilizando um movimento compensatório, o pássaro não se move, induzindo o paciente a fazer os movimentos adequados.
O sistema também conta com um painel de controle, onde o terapeuta pode cadastrar, alterar e consultar os dados do paciente, configurar os parâmetros gerais do ambiente virtual, selecionar os níveis de cada sessão e adaptar os desafios para cada um deles.
“A maioria dos ‘jogos sérios’ se limitavam a simples ambientes 2D ou ambientes 3D de baixa qualidade gráfica, o que poderia afetar o interesse e o engajamento do paciente. Assim, o Harpy Game foi concebido, onde, através de um ambiente lúdico e realista, permitiria ao fisioterapeuta a customização dos níveis e tarefas a partir de um painel de controle desenvolvido”, explica Gabriel Cyrino, doutorando em Engenharia Elétrica.
Os pesquisadores afirmam que a utilização de um sistema integrado pode ser útil no processo de reabilitação neurológica, principalmente pela flexibilidade dos ajustes de acordo com as limitações individuais, oferecendo ao terapeuta ferramentas para analisar a evolução e os resultados do tratamento.
Cyrino destaca que o principal desafio é o tratamento dos dados capturados para identificação e classificação dos movimentos. “Assim, será possível identificar, por exemplo, quais conjuntos musculares foram ativados e quais não foram, para que o fisioterapeuta possa retroalimentar o tratamento com tais informações”, diz.
(Com informações da Comunicação da UFU)