Com real valorizado, dólar dá lugar a outras moedas em casas de câmbio do Brasil
Moeda brasileira perdeu força em relação à estadunidense no primeiro semestre, mas se fortaleceu ante euro, libra e pesos chileno e argentino
Enquanto o dólar segue valorizado em relação ao real —a moeda do Brasil se depreciou 1,24% em relação à americana no primeiro semestre deste ano—, o dinheiro dos brasileiros ganhou força frente ao de outros países no mesmo período.
Essa valorização do real frente a outras moedas se deve a fatores como a alta taxa de juros, que atrai mais investimentos estrangeiros ao país, e à paridade do dólar e do euro, que fortaleceu o real frente à moeda europeia, segundo especialistas ouvidos pela CNN.
Segundo o levantamento da Travelex Confidence, uma das maiores casas de câmbio do mundo, esse movimento contribuiu para que os brasileiros comprassem mais euros e moedas menos negociadas, como a libra esterlina, os dólares canadense e australiano e os pesos mexicano, argentino e chileno.
“Notamos que a participação do dólar na quantidade vendida de papel-moeda entrou em queda, enquanto o euro e outras moedas registraram um aumento”, conta Marcos Weigt, head de tesouraria da Travelex.
O real valorizou 7,55% frente ao euro, 9,67% em relação à libra e chegou a ampliar em 13,75% e 17,43% na comparação com os pesos chileno e argentino, respectivamente. A alta fez com que a procura pelo euro aumentasse em 1.100% no primeiro semestre de 2022, em comparação com o mesmo período de 2021, além de elevar a participação das vendas de moedas menos negociadas nas casas de câmbio, que saltou de 11,8% do total do início do ano para 13,8% em julho.
Dentre os fatores que explicam o cenário positivo da cotação do real e o consequente aumento da procura frente a algumas moedas, a economista e professora de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carla Beni, ressalta o fenômeno da paridade do euro com o dólar, que aconteceu pela primeira vez em 20 anos:
“Com a paridade, o real ganhou força contra o euro e perdeu força contra o dólar. Como as pessoas puderam viajar com a abertura das fronteiras, elas aproveitaram o momento que a moeda da Europa ficou interessante, assim como as outras moedas da América do Sul”, explica a economista.
No último mês, as pesquisas por viagens a países da Europa, Chile e Argentina superaram as buscas pelo turismo nos Estados Unidos, segundo a plataforma Google Trends. A presidente executiva da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam), Kelly Massaro, destaca a mudança de destino no setor provocada pelas diferentes cotações:
“As pessoas estão fazendo análises de viagens e acabam optando por países onde o favorecimento da moeda brasileira fica sendo melhor. Hoje, estamos tendo uma procura muito boa para a libra esterlina – moeda oficial do Reino Unido -, dólar australiano e até o peso argentino – que sofre com o chamado ‘dólar azul’”, afirma Massaro.
Outro fator apontado pela economista da FGV e pelo head da Travelex Confidence é a alta taxa de juros do Brasil. Com a taxa Selic em 13,25%, o país manteve a liderança no ranking de maiores juros reais do mundo. O número acaba mudando o cenário do câmbio do país, e favorece a entrada de capital estrangeiro para aproveitar a taxa, de acordo com as explicações de Beni e Weigt.
Expectativa para o segundo semestre
Apesar do otimismo, o quadro de recessão internacional desenhado nos países desenvolvidos aponta para um cenário diferente no segundo semestre de 2022, segundo Carla Beni. Ela afirma que pela ótica do turismo, que puxou o movimento das casas de câmbio, a expectativa não se espelha no resultado dos primeiros seis meses do ano:
“A gente espera um arrefecimento. Quando você tem uma desaceleração das economias desenvolvidas, não se espera uma demanda ou movimentação tão alta do turismo”, explica. “Também não colocamos grandes esperanças na economia local porque temos eleições no meio do caminho, que faz com que o cenário oscile bastante”, completa a economista.
*Sob supervisão de Helena Vieira