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    Fã de anime afirma ter sido interrogada pela polícia por usar quimono na China

    Vestir um quimono em público na China tornou-se cada vez mais controverso nos últimos anos em meio ao aumento do nacionalismo e do sentimento antijaponês

    Nectar Ganda CNN , em Hong Kong

    Uma fã de anime chinesa diz que foi detida e interrogada pela polícia depois de usar uma veste tradicional japonesa para posar para fotos na cidade de Suzhou, no Leste do país, provocando um debate acalorado nas mídias sociais da China sobre o que alguns consideram um nacionalismo exagerado.

    Vestindo um quimono branco decorado com imagens de flores vermelhas e folhas verdes, a jovem disse que estava esperando na fila para comprar um lanche na noite de quarta-feira (19) na rua Huaihai, um animado espaço de comida, popular por seus bares e restaurantes japoneses, quando ela e seu fotógrafo foram subitamente cercados pela polícia.

    A mulher, que atende pelo apelido “Is Shadow Not Self”, postou detalhes do momento no Weibo, plataforma chinesa semelhante ao Twitter, no domingo (14), onde uma hashtag relacionada foi vista mais de 90 milhões de vezes antes de ser censurada nesta segunda-feira (15).

    De acordo com a publicação, a polícia se opôs ao seu quimono, que ela havia combinado com uma longa peruca loira como cosplay de um personagem principal da série de mangá japonesa “Summer Time Rendering”.

    Vestir um quimono em público na China tornou-se cada vez mais controverso nos últimos anos em meio ao aumento do nacionalismo e do sentimento antijaponês. Enraizado na brutal invasão da China pelo Japão durante a Segunda Guerra Mundial, o sentimento público chinês contra o Japão aumentou e diminuiu – muitas vezes ligado à política doméstica da China e ao estado dos laços bilaterais.

    Mas à medida que o nacionalismo chinês se torna mais agressivo e intolerante sob a liderança de Xi Jinping, os fãs da cultura japonesa – que antes era popular entre os jovens da China – enfrentam crescentes críticas e suspeitas.

    ‘Você é chinesa?’

    Em um vídeo que a fã de anime postou no Weibo, supostamente mostrando parte de seu encontro com a polícia, a mulher pode ser ouvida explicando a um policial que estava fazendo uma sessão de fotos.

    “Se você vier aqui vestindo Hanfu, eu não diria isso. Mas você está vestindo um quimono, como uma chinesa. Você é uma chinesa! Você é?”, grita com ela o policial em resposta.

    Hanfu é um termo geral para as roupas antigas usadas tradicionalmente pela etnia chinesa Han antes da Dinastia Qing. Sua popularidade aumentou nos últimos anos em meio à promoção da cultura tradicional por Xi.

    A mulher então perguntou calmamente por que motivo ela estava sendo repreendida aos gritos.

    “Sob a suspeita de provocar brigas e causar problemas”, disse a polícia, referindo-se a uma acusação geral frequentemente usada contra dissidentes, jornalistas, advogados de direitos humanos e ativistas.

    A mulher foi então agarrada e escoltada por vários policiais em um final caótico para o vídeo, que foi visto mais de 8 milhões de vezes nesta segunda-feira.

    A mulher disse no post do Weibo que foi interrogada na delegacia por cerca de cinco horas até 1h da manhã. Segundo ela, seu telefone foi revistado, suas fotos excluídas e seu quimono confiscado. Ela disse que também foi “instruída” e avisada pela polícia para não falar sobre sua experiência na internet.

    A CNN não pode verificar independentemente a postagem da mulher e o vídeo, embora duas vitrines vistas no vídeo correspondam às da rua Huaihai. A CNN tentou entrar em contato com a polícia na estação de Shishan, perto da rua Huaihai, mas um funcionário que atendeu o telefone disse que “não sabia muito da situação”.

    A mulher não respondeu à tentativa de contato da CNN via Weibo.

    Críticas ao quimono

    Em um post anterior no Qzone, outra plataforma de mídia social chinesa, a mulher disse que a polícia também pediu que ela escrevesse uma carta de autocrítica de 500 palavras.

    “Sinto que não tenho dignidade agora”, disse ela no post do Qzone na sexta-feira (19). “A polícia disse que o que eu fiz foi errado. Eu me sinto impotente… Gosto da cultura japonesa, da cultura europeia e também gosto da cultura tradicional chinesa. Gosto de multiculturalismo, gosto de assistir anime, é errado eu gostar de alguma coisa?”.

    “Eu sempre fui muito patriota – ou melhor, eu tinha sido muito patriota e confiava na polícia, até agora… só posso dizer que estou muito desapontada, acontece que nunca tive a liberdade de usar ou dizer o que eu quero”.

    Uma captura de tela de sua postagem no Qzone foi compartilhada no Weibo e se tornou viral no fim de semana, levando a mulher a postar no Weibo a sequência de eventos.

    “Se é isso que você quer ouvir, eu também posso dizer a você: Desculpe, eu não deveria ter desconsiderado o sentimento público de andar nas ruas com roupas japonesas, isso é um comportamento errado e perigoso, tendo ferido nossos sentimentos nacionais”, escreveu ela no Weibo.

    No entanto, alguns a criticaram por usar roupas tradicionais japonesas. “Por que um bom chinês usa quimono? Pense no que seus avós passaram”, disse um usuário.

    No entanto, muitos mais expressaram apoio à fã de anime, dizendo que ela não fez nada de errado, especialmente porque ela não usava o quimono em dias sensíveis ou perto de marcos comemorativos da Guerra Sino-Japonesa (que já havia causado problemas a outros usuários de quimono).

    “Eu vi o vídeo e seu relato dos eventos. Você não feriu a mim ou aos meus sentimentos como chinês. Espero que você não se culpe e deseje que fique segura”, disse o principal comentário com 25.000 votos positivos.

    “Sugiro que a polícia feche todos os restaurantes japoneses, ou vou chamar a polícia para provocar brigas e causar problemas”, disse outro internauta em um comentário sarcástico.

    Alguns acusaram a polícia de abuso de poder, enquanto outros lamentaram a falta de Estado de direito e expressaram preocupação com o sentimento nacionalista cada vez mais tacanho.

    “A caça às bruxas cultural não está mais limitada ao mundo online. Suspiro, este é apenas o primeiro gosto da pílula amarga de alimentar o nacionalismo”, disse um comentário.

    Com informações de Shawn Deng e da redação da CNN em Pequim.

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