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    CNN no Plural+: Pais pela diversidade

    Como pais dentro da comunidade LGBTQIA+ enfrentam a adoção, o dia a dia na criação dos filhos e o preconceito da paternidade

    Rafael Câmarada CNN , São Paulo

    Quando você se sentiu próximo do seu pai?

    Próximo de olhar no olho, chorar, dizer que ama.

    Esse pai, felizmente, eu posso dizer que hoje é o meu – mas isso só foi possível depois que eu saí do armário.

    Louco né?

    Nunca vou esquecer do dia em que sr. Carlos me ligou e disse sem rodeios: “filho, conversei com a sua mãe agora e ela me contou que você é gay”.

    Eu fiquei tão surpreso que não conseguia nem responder.

    Ele, mais rápido, completou: “para mim isso não tem problema algum, eu te amo de qualquer jeito, mas estou triste por saber que você casou e não contou nada para gente”.

    Sim, sim… eu fiz isso. Vergonha.

    E aí veio a frase, pra encerrar: “eu programei o casamento do seu irmão e no seu eu nem fui. Eu tinha esse direito”.

    Sim pai, o senhor tinha o direito, mas o medo de achar que vamos decepcionar quem mais amamos às vezes nos paralisa.

    E com certeza, como eu, muitas pessoas da comunidade LGBTQIA+ também ficam paralisadas diante da LGBTfobia.

    Mas ainda bem que temos força para seguir.

    Preparados para a história de hoje? 

    Quando a gente fala que “alguém se tornou pai”, eu tenho certeza que para o All Ice essa frase tem um peso maior.

    Quando o filho Malcon completou dois anos, All Ice entendeu que era uma pessoa trans.

    Eu passei por um processo muito longo em me tornar pai, em me entender pai. Eu tive o Malcom com 18 anos, muito novo, fiquei muito confuso com várias sensações de medo, de receio, né de medo desse novo. Então foi muito confuso para mim, porque eu nunca me identifiquei enquanto uma figura feminina. Eu nunca fui mãe, né? Nunca estive nesse lugar, então foi bem assustador para mim

    All Ice, pai do Malcom

    Ser pai, para o músico e supervisor técnico de uma casa de acolhimento LGBTQIA+, é quase como um reconhecimento da sua identidade.

    Eu acho que essa paternidade me fortificou muito até em aceitar quem eu era de verdade. Me entendi um homem trans e o Malcom era bem novinho, só que ele me acolheu muito, e aí a partir disso eu fui desconstruindo para as pessoas e para mim mesmo essa imagem materna e fui me aproximando cada vez mais dessa imagem paterna”, conta All Ice, que atualmente tem 24 anos.

    All Ice e Malcom / Arquivo pessoal

    Eu ainda não sou pai, mas acho que essa imagem paterna vai se construindo independentemente se você é cis ou trans.

    Acho também que nos falta é referência de pais na comunidade.

    Se a gente parar para pensar que só em 2015 o STF – Supremo Tribunal Federal – regulou a nível nacional a adoção por casais homoafetivos, realmente entramos muito tarde nessa fila.

    Betho e Erick foram um desses casais. 

    Eu costumo dizer que a gente espera muito essa ligação, eu esperava todos os dias, mas ela vem em um momento em que você menos espera

    Betho, pai da Steffanie

    Essa ligação chegou dois anos depois que eles entraram com o processo de adoção. Hoje, Stefannie tem quatro anos e, para os dois, ser pai ainda é uma viagem recente e sem referências.

    Eu não fui apresentado para famílias como a minha, não foi apresentado nas histórias infantis e nos livros, a minha família não me apresentou a casos reais quando era criança ou adolescente e a gente entra no processo sem conhecer nenhuma família”, contou Betho.

    Hoje, os medos e desafios de educar uma criança no papel de pai vão sendo superados dia a dia. E os brinquedos espalhados pela casa são a prova que por aqui, como em qualquer casa com filhos, quem domina são eles.

    Na casa do João, psicólogo, não é diferente. Gabriel também chegou depois de quase cinco anos de espera. Hoje, ele cria o filho ao lado do marido e de seu pai, que não esconde o orgulho de ter dado o sobrenome para o neto.

    Eu fiquei feliz da vida. Ter um neto, o Gabriel, é muito legal. O João me mandou o registro do nascimento, então é Gabriel Rezende Romão, que é o meu sobrenome. Então eu fiquei muito feliz. Eu acompanhei com o João essa batalha dele, muito demorada e burocrática para adotar e a hora que a gente conseguiu foi ótimo

    sr. Devancir, pai do João, avô do Gabriel

    Por mais pais como Devancir, Betho, Erick, João, All Ice. E o meu pai Carlos.

    Pais que colocam o filho em primeiro lugar nas vidas.

    E lutando para que nós, e eles sejamos quem a gente quer ser.

    Feliz Dia dos Pais.

    • Produção: Carol Raciunas e Letícia Brito
    Betho, Erick e Steffanie / Arquivo pessoal

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