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    O que você precisa saber sobre a visita de Nancy Pelosi a Taiwan

    Apesar de ameaças de retaliação da China, presidente da Câmara dos Deputados dos EUA desembarcou em Taiwan, marcando demonstração de apoio a ilha autogovernada

    Nectar GanSelina WangEric Cheungda CNN* , Hong Kong, Pequim e Taipei

    A presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, desembarcou em Taiwan na noite de terça-feira (2), marcando uma demonstração significativa de apoio a Taiwan, apesar das ameaças de retaliação da China sobre a visita.

    A parada de Pelosi em Taipé marca a primeira vez que um presidente da Câmara dos EUA visita Taiwan em 25 anos. Sua viagem acontece em um momento ruim nas relações EUA-China e mesmo depois de advertências do governo Biden contra uma parada em Taiwan.

    A democrata da Califórnia está liderando uma delegação do Congresso em uma turnê pela Ásia nesta semana, que inclui paradas em Singapura, Malásia, Coreia do Sul e Japão. Embora não incluída em seu itinerário oficial, as expectativas de que ela planejava uma visita a Taiwan alimentaram as tensões entre EUA e China desde que surgiram relatos de uma possível viagem no mês passado.

    Em um comunicado após o desembarque, Pelosi e a delegação do Congresso que a acompanhou disseram que a visita “honra o compromisso inabalável dos Estados Unidos em apoiar a vibrante democracia de Taiwan”.

    Pelosi, uma crítica direta de Pequim, disse anteriormente que é importante que os EUA mostrem apoio a Taiwan.

    A China criticou a visita. Em um comunicado após a chegada de Pelosi, o Ministério das Relações Exteriores da China disse que a viagem teria um “severo impacto na base política das relações China-EUA”.

    “A China definitivamente tomará todas as medidas necessárias para salvaguardar resolutamente sua soberania e integridade territorial em resposta à visita da presidente da Câmara dos EUA”, disse o comunicado.

    Um porta-voz do Ministério da Defesa da China disse que o Exército de Libertação Popular está “em alerta máximo” e lançará “uma série de operações militares direcionadas para neutralizar a situação, defender resolutamente a soberania nacional e a integridade territorial e impedir a interferência de forças externas e esquemas separatistas de ‘independência de Taiwan'”.

    Antes da visita, as autoridades dos EUA estavam preocupadas com a possibilidade de a China responder militarmente, potencialmente desencadeando a pior crise do Estreito em décadas. Na semana passada, o Ministério da Defesa da China alertou: “Se os EUA insistirem em seguir seu próprio curso, os militares chineses nunca ficarão de braços cruzados”.

    As tensões serviram de pano de fundo para uma longa ligação telefônica entre o presidente dos EUA, Joe Biden, e o líder chinês, Xi Jinping, na quinta-feira (28), na qual Xi alertou os Estados Unidos para não “brincar com fogo” na questão de Taiwan. Nenhum dos lados confirmou imediatamente se os planos de Pelosi foram discutidos, embora uma autoridade dos EUA tenha confirmado posteriormente que sim. A preparação para a ligação antecedeu os relatórios da possível viagem.

    Veja aqui o que você precisa saber sobre essa visita de alto risco.

    Nancy Pelosi em reunião com premiê de Singapura, Lee Hsien Loong, em 1º de agosto de 2022. / Ministry of Communications and Information, Singapore/Anadolu Agency via Getty Images

    Por que Pequim está furiosa com a visita de Pelosi?

    O Partido Comunista da China reivindica a democracia autogovernada de Taiwan como seu próprio território – apesar de nunca tê-lo governado – e não descartou o uso da força para “reunificar” a ilha com o continente chinês.

    Durante décadas, Pequim procurou isolar Taipé no cenário mundial, desde afastar seus aliados diplomáticos até impedi-lo de ingressar em organizações internacionais.

    Qualquer movimento que pareça dar a Taiwan um senso de legitimidade internacional é fortemente contestado pela China. E aos olhos de Pequim, visitas ao exterior de autoridades do alto escalão taiwanês ou visitas de autoridades estrangeiras a Taiwan farão exatamente isso.

    Em 1995, uma visita do então presidente de Taiwan, Lee Teng-hui, aos Estados Unidos desencadeou uma grande crise no Estreito de Taiwan. Enfurecida com a viagem, a China disparou mísseis nas águas ao redor de Taiwan, e a crise só terminou depois que os EUA enviaram dois grupos de batalha de porta-aviões para a área em uma forte demonstração de apoio a Taipé.

    Nos últimos anos, Taiwan recebeu uma enxurrada de visitas de delegações dos EUA, compostas por autoridades e legisladores em exercício e aposentados. Isso atraiu respostas iradas da China, incluindo o envio de aviões de guerra para a autodeclarada zona de identificação de defesa aérea de Taiwan.

    Mas o patamar que Pelosi ocupa na política torna sua visita ainda mais provocativa a Pequim.

    “Pelosi é a terceira autoridade pública na linha de sucessão, atrás apenas do presidente e vice-presidente, e acho que os chineses levam isso muito a sério”, disse Susan L. Shirk, presidente do 21st Century China Center, da Universidade de San Diego.

    “Então ela é uma figura muito importante na política americana. É diferente dos membros comuns do Congresso”.

    Pelosi é uma crítica de longa data do Partido Comunista Chinês. Ela denunciou o histórico de violações de direitos humanos de Pequim e se reuniu com dissidentes pró-democracia e Dalai Lama – o líder espiritual tibetano exilado que continua sendo uma pedra no sapato do governo chinês.

    Em 1991, Pelosi estendeu uma faixa na Praça Tiananmen (ou Praça da Paz Celestial) em Pequim para homenagear as vítimas do massacre de manifestantes pró-democracia em 1989. Mais recentemente, ela expressou apoio aos protestos pró-democracia de 2019 em Hong Kong.

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    Por que a viagem está alimentando tensões entre EUA e China?

    Pequim vê a viagem de Pelosi como uma “grave violação” dos acordos históricos entre EUA e China que regem suas relações.

    Os EUA trocaram formalmente o reconhecimento diplomático de Taipé para Pequim em 1979 – mas há muito trilham um delicado caminho intermediário. Washington reconhece a República Popular da China como o único governo legítimo da China, mas mantém estreitos laços não oficiais com Taiwan.

    Os EUA também fornecem armamento defensivo a Taiwan sob os termos da Lei de Relações de Taiwan, que já dura décadas, mas o país permanece deliberadamente vago sobre se defenderia Taiwan no caso de uma invasão chinesa – uma política conhecida como “ambiguidade estratégica”.

    A virada autoritária da China sob a liderança de Xi e as relações com Washington indo ladeira abaixo, aproximaram Taiwan da órbita dos EUA. Isso enfureceu Pequim, que acusou Washington de “dar a cartada de Taiwan” para conter a ascensão da China.

    Enquanto isso, os EUA intensificaram seu envolvimento com Taiwan, aprovando a venda de armas e enviando delegações para a ilha.

    Desde que a Lei de Viagens de Taiwan foi sancionada pelo então presidente dos EUA, Donald Trump, em março de 2018, autoridades e legisladores dos EUA embarcaram em mais de 20 viagens à ilha, de acordo com uma contagem da CNN. A lei de 2018 incentiva visitas entre funcionários dos EUA e de Taiwan em todos os níveis.

    Taiwan figurou com destaque no telefonema de duas horas e 17 minutos de Xi e Biden, com o líder chinês instando Washington a honrar os acordos existentes com Pequim “em palavras e atos”, de acordo com uma leitura do Ministério das Relações Exteriores da China. A declaração acrescentou que a China “salvaguardaria resolutamente” sua soberania nacional.

    De sua parte, Biden reiterou que a política dos EUA “não mudou”, de acordo com uma ata da ligação feita pela Casa Branca.

    “Os Estados Unidos se opõem fortemente aos esforços unilaterais para mudar o status quo ou minar a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan”, disse Biden, segundo o comunicado.

    Algum presidente da Câmara dos Deputados dos EUA já visitou Taiwan?

    A viagem de Pelosi não é a primeira que um presidente da Câmara dos EUA visita Taiwan. Em 1997, Newt Gingrich visitou Taipé poucos dias depois de sua viagem a Pequim e Xangai. O Ministério das Relações Exteriores da China criticou Gingrich após sua visita a Taiwan, mas a resposta foi limitada à retórica.

    Mas, vinte e cinco anos depois, a China está mais forte, mais poderosa e confiante, e seu líder Xi deixou claro que Pequim não tolerará mais qualquer desprezo ou desafio aos seus interesses.

    Presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, durante visita a Kuala Lumpur / Departamento de Informação da Malásia/Nazri Rapaai/Divulgação via REUTERS

    “A China está em posição de ser mais assertiva, de impor custos e consequências a países que não levam em consideração o interesse da China em suas políticas ou ações”, disse Drew Thompson, pesquisador sênior visitante da Lee Kuan Yew School of Public Policy, da Universidade Nacional de Singapura.

    Mas a decisão de não incluir Taiwan no itinerário oficial divulgado pela delegação “preserva a natureza não oficial da visita” e deve ser um “bom resultado para as relações entre Pequim e EUA-China”, acrescentou Thompson no Twitter, após a divulgação do comunicado de Pelosi no domingo, que listava seu itinerário.

    E quanto ao atual momento?

    A visita de Pelosi ocorre em um momento delicado para a China. A presidente da Câmara havia planejado anteriormente liderar uma delegação do Congresso dos EUA a Taiwan em abril, mas adiou a viagem depois de testar positivo para a Covid-19.

    As forças armadas chinesas comemoraram seu aniversário de fundação em 1º de agosto, enquanto Xi, o líder mais poderoso do país em décadas, está se preparando para quebrar o convencionado e buscar um terceiro mandato no 20º congresso do Partido Comunista neste outono.

    Em agosto, os líderes chineses também devem se reunir no balneário de Beidaihe para seu conclave anual de verão, onde discutirão movimentos de pessoal e ideias políticas a portas fechadas.

    “É um momento muito tenso na política doméstica chinesa”, disse Shirk. “[Xi] ele mesmo e muitos outros membros da elite na China veriam a visita de Pelosi como uma humilhação de Xi Jinping [e] de sua liderança. E isso significa que ele se sentirá compelido a reagir de forma a demonstrar sua força”.

    Embora o momento politicamente sensível possa desencadear uma resposta mais forte de Pequim, alguns especialistas acreditam que também pode significar que o Partido Comunista gostaria de garantir a estabilidade e impedir que as coisas saíssem do controle.

    “Honestamente, este não é um bom momento para Xi Jinping provocar um conflito militar logo antes do 20º congresso do partido. É do interesse de Xi Jinping gerenciar isso racionalmente e não instigar uma crise além de todas as outras crises que ele tem que lidar”, disse Thompson, citando a desaceleração da economia da China, o aprofundamento da crise imobiliária, o aumento do desemprego e a luta constante para conter surtos esporádicos sob sua política de Covid-zero.

    Como a China reagiu?

    Os militares da China iniciarão exercícios em torno de Taiwan em resposta à visita da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, e lançarão uma série de “operações militares direcionadas para neutralizar a situação”, de acordo com declarações divulgadas pelo Comando do Teatro Oriental e Ministério da Defesa na terça-feira.

    “A partir da noite de 2 de agosto, o Comando do Teatro Oriental realizará uma série de operações militares conjuntas em torno da ilha de Taiwan e exercícios aéreos e marítimos conjuntos nos espaços marítimos e aéreos do norte, sudoeste e sudeste da ilha de Taiwan, conduzirá disparos de munição real de longo alcance no Estreito de Taiwan e organizará testes regulares de tiro guiado nas águas orientais da ilha de Taiwan”, disse o coronel Shi Yi, porta-voz do Comando do Perímetro do Teatro de Operações Oriental.

    “Esta ação é um impedimento solene contra a recente grande escalada das ações negativas dos Estados Unidos sobre a questão de Taiwan e um sério aviso às forças da ‘independência de Taiwan'”, acrescentou o comunicado.

    O Teatro de Operações Oriental é um dos cinco comandos conjuntos do Exército de Libertação Popular com jurisdição sobre as províncias costeiras do leste da China de Fujian e Zhejiang, que ficam em frente e acima de Taiwan.

    Antes de sua chegada, as autoridades de segurança nacional trabalharam discretamente para convencer Pelosi dos riscos que sua viagem a Taiwan poderia representar, enquanto o Pentágono desenvolveu um plano de segurança para usar navios e aeronaves para mantê-la segura.

    A preocupação constante entre as autoridades dos EUA é que erros de cálculo ou incidentes ou acidentes inadvertidos possam ocorrer se a China e os EUA aumentarem significativamente suas operações aéreas e marítimas na região.

    Mas os EUA não esperam uma ação hostil direta de Pequim durante a visita de Pelosi. Pelo menos cinco oficiais de defesa, falando antes de sua chegada, descreveram isso como uma possibilidade muito remota e disseram que o Pentágono quer ver a retórica pública diminuída.

    Mapa China Taiwan
    Mapa China Taiwan / Arte/CNN Brasil

    O que Taiwan disse sobre a viagem de Pelosi?

    Pelosi foi recebida no aeroporto pelo ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu, e o icônico arranha-céu Taipé 101 foi iluminado com uma mensagem de boas-vindas para a presidente da câmara dos deputados, elogiando a “amizade EUA-Taiwan para sempre”.

    A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, receberá Pelosi e sua delegação no Palácio Presidencial na manhã de 3 de agosto, de acordo com um comunicado do gabinete do presidente.

    O porta-voz presidencial Xavier Chang disse que a presidente Pelosi não apenas apoiou Taiwan por um longo tempo, mas também prestou atenção ao desenvolvimento democrático de Taiwan e à paz e segurança regionais.

    Mas antes de sua chegada, Taiwan estava de boca fechada sobre a situação. Quando a potencial visita de Pelosi foi noticiada pela primeira vez pelo Financial Times na semana passada, o Ministério das Relações Exteriores de Taiwan disse que “não recebeu nenhuma informação” sobre a visita.

    Durante uma coletiva de imprensa regular na quinta-feira, uma porta-voz do ministério reiterou que não recebeu nenhuma informação definitiva sobre se Pelosi visitaria a ilha e “não fez mais comentários” sobre o assunto.

    “Convidar membros do Congresso dos EUA para visitar Taiwan tem sido um foco do Ministério das Relações Exteriores de Taiwan e nosso Escritório de Representação Econômica e Cultural de Taipé nos Estados Unidos”, disse a porta-voz, Joanne Ou.

    Embora a mídia internacional esteja acompanhando de perto os eventos, a crescente tensão quase não foi manchete em Taiwan esta semana. A mídia de Taiwan se concentrou principalmente nas próximas eleições locais e nos exercícios militares taiwaneses.

    Anteriormente, as autoridades taiwanesas saudavam publicamente as visitas de delegações dos EUA, vendo-as como um sinal de apoio de Washington.

     

    *Com informações de Simone McCarthy e Kylie Atwood, da CNN em Washington, DC, EUA.

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