EAD já responde por mais da metade das matrículas realizadas em instituições privadas
Dados são de um estudo realizado pelo grupo SoU Ciência - Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência, da Unifesp
Os dados foram apresentados nesta sexta-feira (29) em um Painel que compilou informações dos últimos 20 anos do cenário educacional público e principalmente privado do país, com o objetivo de pensar a educação superior no Brasil, suas ciências e tecnologias e seus financiamentos.
De acordo com o levantamento, o Brasil aumento em 5 vezes o número de vagas em universidades nos últimos 20 anos. Em 1995, 60% das matrículas estavam concentradas e instituições privadas; em 2020, este número cresceu para quase 80% (79,5%).
O interesse das universidades também foi analisado no painel, que considerou o fato de que até 1996 as universidades não podiam ter fins lucrativos; realidade que mudou no ano seguinte. Dessa forma, a partir deste momento, o número de matrículas em instituições privadas estava muito mais concentrado nas que tinham fins lucrativos.
O comportamento dos estudantes seguiu se transformando ao longo do tempo e se está refletido atualmente. Antes da pandemia, um movimento chamou a atenção dos pesquisadores, que perceberam que já existe uma forte migração da adesão de cursos presenciais para cursos à distância.
Em 2020, por exemplo, 80% das matrículas realizadas foram em instituições privadas, 62% aconteceram em apenas 10 grandes grupos educacionais; 60% dessas matrículas foram em cursos à distância; 47% dos estudantes que se matricularam estudaram em cursos EAD com ENAD conceito 1 e 2; e quase metade deles desistiu com menos de 2 anos letivos.
A conclusão que a pesquisadora Maria Angélica Minhoto, coordenadora do SoU Ciência e responsável pela coleta e análise dos dados, é que essas universidades que formam esses grandes grupos educacionais atraem alunos com mensalidades super baixas e estes, por sua vez, se endividam e desistem do curso.
Outro ponto é que em muitos casos, esses grupos fazem a aquisição de várias instituições, para ganhar prerrogativa da autonomia universitária e abrir cursos sem autorização do MEC.
“O MEC precisa ter uma atuação de monitoramento e fiscalização dessas instituições. O Brasil já é um dos países com maior número de instituições de ensino superior privadas do mundo. E se faz necessário que se repense esse comportamento de atender as necessidades do mercado financeiro mais do que as necessidades educacionais”, provoca a docente.