Teremos aumento exponencial de casos de varíola dos macacos no país, diz Júlio Croda
Em entrevista à CNN o infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Júlio Croda afirmou que o país deve se preparar para o aumento no número de casos da doença
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou emergência em saúde pública de interesse internacional devido ao surto de varíola dos macacos no sábado (23).
“Temos um surto que se espalhou rapidamente pelo mundo, por meio de novos modos de transmissão, sobre os quais entendemos muito pouco e que atendem aos critérios do Regulamento Sanitário Internacional”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom.
Em entrevista à CNN, nesta segunda-feira (25), o infectologista Júlio Croda, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), afirmou que o país deve se preparar para o aumento no número de casos da doença.
“A gente vai ter um aumento exponencial no número de casos. A gente tem uma estrutura, tem o SUS [Sistema Único de Saúde] que poderia estar sendo utilizado de uma melhor forma. Falta coordenação do Ministério da Saúde, falta comunicação, treinamento para orientar a população que está sob risco, reduzir a transmissão da doença e atingir o controle da doença”, diz Croda.
A CNN entrou em contato com o Ministério da Saúde sobre a avaliação do especialista da Fiocruz e aguarda retorno.
No Brasil, já foram confirmados mais de 800 casos da doença, de acordo com o ministério. Os casos foram registrados em São Paulo (595), no Rio de Janeiro (109), em Minas Gerais (42), no Distrito Federal (13), no Paraná (19), no Goiás (16), na Bahia (3), no Ceará (2), no Rio Grande do Sul (3), no Rio Grande do Norte (2), no Espírito Santo (2), em Pernambuco (3), em Mato Grosso do Sul (1) e em Santa Catarina (3).
Medidas de prevenção
O infectologista afirma que a conscientização sobre a doença, incluindo informações sobre sintomas e formas de transmissão, é uma das principais formas de prevenção.
“A maior forma de transmissão nesse momento é o contato íntimo, não necessariamente o contato sexual com penetração ou sexo oral. O contato pele a pele, beijos, o contato muito próximo pode estar associado à transmissão”, diz o especialista.
Os sintomas da varíola dos macacos incluem bolhas no rosto, mãos, pés, olhos, boca ou genitais, febre, linfonodos inchados, dores de cabeça e musculares e falta de energia.
“É importante alertar que qualquer paciente que apresente esse tipo de ferida deve procurar o sistema de saúde, fazer o diagnóstico. O diagnóstico deve ser acessível, em tempo oportuno. E também orientar os contactantes – as pessoas devem evitar o contato com as pessoas que apresentem esse tipo de lesão para evitar a propagação do vírus”, explica Croda.
O que significa a declaração de emergência
O anúncio da declaração de emergência pela OMS acontece após a segunda reunião do Comitê de Emergência do Regulamento Sanitário Internacional (2005) sobre o surto da doença, realizada na quinta-feira (21).
“A avaliação da OMS é que o risco de varíola é moderado globalmente e em todas as regiões, exceto na região europeia, onde avaliamos o risco como alto”, disse o diretor-geral da OMS, acrescentando que “há também um risco claro de maior disseminação internacional, embora o risco de interferência no tráfego internacional permaneça baixo no momento”.
De acordo com o Regulamento Sanitário Internacional, são considerados cinco elementos para decidir se um surto constitui uma emergência de saúde pública de interesse internacional.
“Primeiro, as informações fornecidas pelos países – que neste caso mostram que esse vírus se espalhou rapidamente para muitos países que não o viram antes. Em segundo lugar, os três critérios para declarar uma emergência de saúde pública de interesse internacional, que foram atendidos”, afirmou Adhanom à imprensa.
“Terceiro, o parecer do Comitê de Emergência, que não chegou a um consenso. Quarto, princípios científicos, evidências e outras informações relevantes – que atualmente são insuficientes e nos deixam com muitas incógnitas. E quinto, o risco para a saúde humana, disseminação internacional e o potencial de interferência no tráfego internacional”, completou o diretor-geral da OMS.
Sobre a varíola dos macacos
A doença é causada por um vírus que pertence ao gênero ortopoxvírus da família Poxviridae. Existem dois grupos de vírus da varíola dos macacos: o da África Ocidental e o da Bacia do Congo (África Central).
As infecções humanas com o tipo de vírus da África Ocidental parecem causar doenças menos graves em comparação com o grupo viral da Bacia do Congo, com uma taxa de mortalidade de 3,6% em comparação com 10% para o da Bacia do Congo.
“A coisa mais importante sobre a varíola dos macacos é que ela causa uma erupção cutânea que pode ser desconfortável, pode causar coceira e pode ser dolorosa. Portanto, a coisa mais importante sobre cuidar de alguém com essa doença é basicamente cuidar da pele e cuidar de quaisquer sintomas que alguém possa ter, como dor ou coceira”, afirma a cientista Rosamund Lewis, líder técnica sobre varíola dos macacos do Programa de Emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O vírus da varíola dos macacos é transmitido de uma pessoa para outra por contato próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados, como roupas de cama. O período de incubação é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias.
“A varíola dos macacos se espalha pela proximidade, cara a cara, pele a pele, contato direto. É assim que sempre foi descrito. Pode haver algumas coisas novas acontecendo neste surto agora. Não sabemos tudo. Ainda há muito o que aprender”, disse a pesquisadora da OMS.
A OMS alerta que alguns desses casos estão sendo identificados em pacientes gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens. A doença pode ser transmitida pelo contato com a pele durante o sexo, incluindo beijos, toques, sexo oral e com penetração com alguém que tenha sintomas.
(*Supervisionada por Layane Serrano)