Refugiados e migrantes têm baixa qualidade de saúde, apontam dados inéditos da OMS
Estudo também mostra que trabalhadores fora de seus países estão mais propensos a problemas
Milhões de refugiados e migrantes em vulnerabilidade estão em piores condições de saúde do que os habitantes das suas comunidades de origem, especialmente em países onde as condições de vida e de trabalho são precárias.
O alerta é de um relatório inédito da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado nesta quarta-feira (20).
Além do impacto na qualidade da vida de pessoas em todo o mundo, a OMS chama atenção para as consequências do não cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável relacionados à saúde para essas populações.
“Hoje há cerca de um bilhão de migrantes em todo o mundo, uma em cada oito pessoas. A experiência da migração é um determinante-chave da saúde e do bem-estar, e refugiados e migrantes permanecem entre os membros mais vulneráveis e negligenciados de muitas sociedades”, afirma o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom.
De acordo com Adhanom, o relatório faz uma revisão global das condições de saúde de refugiados e migrantes.
“[O relatório] exige uma ação urgente e coletiva para garantir que eles possam acessar serviços de saúde que sejam sensíveis às suas necessidades. Também mostra a necessidade urgente de abordar as causas profundas dos problemas de saúde e reorientar radicalmente os sistemas de saúde para responder a um mundo cada vez mais em movimento”, destaca.
O documento foi elaborado a partir da de uma ampla revisão da literatura científica de todo o mundo. O relatório aponta que a baixa qualidade de saúde em migrantes e refugiados em comparação com a população de seus países é impacto dos vários fatores que também estão abaixo do ideal, como educação, renda, moradia, acesso a serviços, agravados por barreiras linguísticas, culturais e legais.
O relatório afirma que a experiência de migração e deslocamento é um fator chave para a saúde e o bem-estar de uma pessoa, especialmente quando combinado com outros fatores.
Saúde dos trabalhadores
Uma meta-análise recente com mais de 17 milhões de participantes de 16 países em cinco regiões da OMS revelou que, em comparação com trabalhadores não migrantes, aqueles que migraram eram menos propensos a usar serviços de saúde e tinham mais chances de sofrer uma lesão no trabalho.
As evidências também mostraram que um número significativo dos 169 milhões de trabalhadores migrantes em todo o mundo estão envolvidos em trabalhos perigosos e exaustivos e correm maior risco de acidentes de trabalho, lesões e problemas de saúde relacionados ao trabalho do que não migrantes.
Segundo o estudo, as condições tendem a ser exacerbadas pelo acesso limitado ou restrito aos serviços de saúde.
Lacunas nos dados de saúde
De acordo com o levantamento, existem lacunas críticas nos dados e sistemas de informação de saúde em relação à condição de refugiados e migrantes.
O relatório aponta que embora os dados e as evidências sejam abundantes, eles são fragmentados e não são comparáveis entre países e ao longo do tempo, o que torna difícil determinar e acompanhar o progresso de refugiados e migrantes em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável relacionados à saúde.
“É imperativo que façamos mais pela saúde dos refugiados e migrantes, mas se quisermos mudar o status quo, precisamos de investimentos urgentes para melhorar a qualidade, relevância e integridade dos dados de saúde sobre refugiados e migrantes. Precisamos de sistemas sólidos de coleta e monitoramento de dados que representem verdadeiramente a diversidade da população mundial e a experiência que refugiados e migrantes enfrentam em todo o mundo e que possam orientar políticas e intervenções mais eficazes”, disse Zsuzsanna Jakab, vice-diretora-geral da OMS.
De acordo com o estudo, embora a falta de dados comparáveis possa impactar o desenvolvimento de políticas públicas, existem estruturas que abordam e respondem às necessidades de saúde de refugiados e migrantes.
No entanto, as disparidades nos resultados de saúde permanecem e o relatório indica que elas se devem principalmente à falta de implementação significativa e eficaz de políticas.
“A saúde não começa nem termina na fronteira de um país. O status migratório não deve, portanto, ser um fator discriminatório, mas um motor de política sobre o qual construir e fortalecer os cuidados de saúde e a proteção social e financeira”, disse Santino Severoni, Diretor do Programa de Saúde e Migração da OMS.
Severoni sugere a necessidade de reorientação dos sistemas de saúde existentes para serviços de saúde integrados e inclusivos, de acordo com os princípios de atenção primária à saúde e cobertura universal de saúde.
O relatório também reúne contribuições de profissionais de saúde refugiados e migrantes para mudanças na área, além dos contextos econômico e social.
De acordo com a OMS, a implementação de sistemas de saúde inclusivos permitiria que os indivíduos que necessitam de serviços de saúde fossem identificados e apoiados de maneira mais ágil, antes que problemas se agravem.
“Reconhecendo que a migração e o deslocamento têm um impacto na saúde do bilhão de pessoas em movimento, este relatório marca um avanço bem-vindo ao pensar a migração e o deslocamento através de um vidro esclarecedor. A lente é a cobertura universal de saúde e a ideia de que todos têm direito ao ‘completo bem-estar físico, mental e social e não apenas à ausência de doença ou enfermidade’, conforme declarado na Constituição da OMS em 1946”, disse Ban Ki-moon, signatário do relatório global, presidente da Fundação Ban Ki-moon para um Futuro Melhor e 8º Secretário-Geral das Nações Unidas, em uma declaração.