Cientistas conseguem descobrir o que você come com apenas um teste
Metodologia representa avanços no estudo de como a alimentação pode influenciar o desenvolvimento de doenças, dizem pesquisadores
Uma equipe internacional de cientistas relatou um novo método para identificar o grande número de moléculas derivadas de alimentos que não eram encontradas anteriormente, mas que aparecem em nosso sangue e fezes.
O método chamado “metabolômica não direcionada”, foi descrito na revista científica Nature Biotechnology. A técnica combinou produtos do metabolismo em um espécime com grandes bancos de dados de amostras onde estavam disponíveis inventários químicos, fornecendo um catálogo sem precedentes das assinaturas de moléculas criadas pelo consumo de alimentos.
De acordo com cientistas da Universidade da Califórnia, em San Diego, nos Estados Unidos, que lideraram o estudo, a nova abordagem pode expandir significativamente a compreensão das fontes de produtos químicos em muitos tipos de amostras humanas, animais e vegetais.
“A espectrometria de massa não direcionada é uma técnica muito sensível que permite a detecção de centenas a milhares de moléculas que agora podem ser usadas para criar um perfil de dieta de indivíduos”, disse o autor Pieter Dorrestein, diretor do Centro Colaborativo de Espectrometria de Massa da Escola Skaggs de Farmácia e Ciências Farmacêuticas da Universidade da Califórnia, em comunicado.
O que estou comendo?
O especialista afirma que expandir a capacidade de entender como o que comemos se traduz em produtos e subprodutos do metabolismo tem implicações diretas para a saúde humana.
“Agora, podemos usar essa abordagem para obter informações sobre a dieta empiricamente e entender as relações com os resultados clínicos. É possível vincular moléculas na dieta a resultados de saúde, não uma de cada vez, mas todas de uma vez, o que não era possível antes”, afirma.
A metabolômica envolve a medição abrangente de todos os metabólitos em uma amostra biológica. Metabólitos são as substâncias, geralmente pequenas moléculas, feitas ou usadas quando um organismo decompõe alimentos, drogas, produtos químicos ou seus próprios tecidos – são produtos do metabolismo.
O estudo também usou uma técnica relacionada, a metagenômica, para medir o material genético em amostras biológicas e caracterizar os micróbios presentes.
Os estudos atuais identificam apenas 10% das características moleculares em amostras, deixando 90% do material desconhecido. A nova abordagem usa análise orientada por dados de referência para combinar as informações obtidas por espectrometria de massa, que permite detectar e identificar moléculas específicas.
No estudo, os pesquisadores investigaram milhares de alimentos a partir da iniciativa Global FoodOmics. Os cientistas aumentaram a produção de dados em mais de 5 anos em relação às técnicas convencionais. O novo método permitiu que a técnica fosse usada para determinar a dieta de uma pessoa com base em uma amostra de sangue ou fezes.
Avanços
Segundo os especialistas, a análise permitiu a observação dos padrões alimentares (vegano ou onívoro, por exemplo) e o consumo de alimentos específicos e, de forma mais geral, a comparação das informações com qualquer banco de dados de referência existente.
“Esse avanço é crucial porque os métodos tradicionais para medir a dieta, como diários alimentares ou questionários de frequência alimentar, são difíceis de preencher e muito difíceis de fazer com precisão”, disse o coautor Rob Knight, diretor do Centro de Inovação em Microbiomas da Universidade da Califórnia em San Diego.
“O potencial de ler a dieta de uma amostra diretamente tem enormes implicações para pesquisas em populações como pessoas com doença de Alzheimer, que podem não ser capazes de lembrar ou explicar o que comeram. E em aplicações de conservação da vida selvagem”, completou.
Para os cientistas, a metodologia representa avanços no estudo de como a alimentação pode influenciar o desenvolvimento de doenças.
“Isso realmente mostra o quão importante será obter amostras de alimentos e amostras clínicas de pessoas de todo o mundo para entender como nossas moléculas e micróbios trabalham juntos para melhorar ou degradar nossa saúde com base no que comemos”, disse Knight.