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    As rígidas leis de armas do Japão tornam os tiroteios raros

    Último atentado com uso de arma de fogo conhecido no país aconteceu em 2007; segundo regras japonesas, disparar um tiro em espaço público pode levar à prisão perpétua

    Nectar Ganda CNN

    O assassinato do ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe chocou o Japão, país com uma das taxas mais baixas do mundo em relação aos crimes com armas, devido às suas rígidas leis sobre posse de armas.

    Abe foi morto a tiros na sexta-feira (8) na cidade de Nara enquanto fazia um discurso de campanha, disse o primeiro-ministro, Fumio Kishida.

    A violência por armas é extremamente rara no país.

    Em 2018, o Japão, um país de 125 milhões de pessoas, registrou apenas nove mortes por armas de fogo –em comparação com as 39.740 nos Estados Unidos no mesmo ano, segundo dados compilados pela Escola de Saúde Pública de Sydney, da Universidade de Sydney, na Austrália.

    Nancy Snow, diretora japonesa do Conselho Industrial de Segurança Internacional, disse que essa morte por arma de fogo mudaria o Japão para sempre.

    “Não é apenas raro, mas é culturalmente insondável”, disse ela à CNN. “O povo japonês não pode imaginar ter uma cultura de armas como temos nos Estados Unidos. Este é um momento sem palavras. Eu realmente me sinto sem palavras”.

    De acordo com a emissora pública japonesa NHK, citando a polícia, o suspeito é um homem local, que tem cerca de 40 anos e usava uma arma artesanal.

    De acordo com as leis de armas de fogo do Japão, as únicas armas permitidas para venda são espingardas e rifles de ar –armas de fogo são proibidas. Mas obtê-las é um processo longo e complicado que requer esforço –e muita paciência.

    Para se qualificar para uma licença de arma de fogo, os potenciais compradores devem participar de uma aula que dura o dia inteiro, passar em um teste escrito e um teste de tiro ao alvo com uma precisão de pelo menos 95%. Eles também devem passar por uma avaliação de saúde mental e testes de drogas, bem como uma rigorosa verificação de antecedentes –incluindo uma revisão de sua ficha criminal, dívidas pessoais, verificação de envolvimento com crime organizado e relacionamentos com familiares e amigos.

    Depois de obter uma arma, o proprietário deve registrá-la na polícia e fornecer detalhes de onde a arma e munição estão armazenadas, em compartimentos separados e trancados. A arma deve ser inspecionada pela polícia uma vez por ano, e os proprietários devem refazer a aula e um exame a cada três anos para renovar sua licença.

    As restrições mantiveram o número de proprietários de armas particulares extremamente baixo no Japão.

    Shinzo Abe morreu aos 67 anos, baleado em evento / Divulgação/Kremlin

    Em 2017, apenas cerca de 377 mil armas estavam em posse de civis no Japão, em um país de 125 milhões de pessoas. Isso foi 0,25 arma a cada 100 pessoas, em comparação com cerca de 120 armas por 100 pessoas nos EUA, de acordo com o Small Arms Survey, um projeto do Instituto de Pós-Graduação de Estudos Internacionais e de Desenvolvimento em Genebra.

    O último tiroteio público de um político no Japão foi em 2007, quando o prefeito de Nagasaki, Iccho Ito, foi baleado pelo menos duas vezes nas costas e à queima-roupa por um suposto gângster. Ele morreu após sofrer uma parada cardíaca.

    Desde então, o Japão reforçou ainda mais seus controles de armas, impondo punições mais pesadas para crimes cometidos com armas por membros de gangues do crime organizado.

    De acordo com essa revisão, possuir uma arma de fogo como membro do crime organizado pode levar a até 15 anos de prisão; possuir mais de uma arma também é crime, com pena de prisão de até 15 anos. Descarregar uma arma em um espaço público, entretanto, pode resultar em prisão perpétua.

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