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    Com caixa reforçado, especialistas veem Eletrobras com força para ampliar investimentos

    Para analistas ouvidos pela CNN, empresa recém-capitalizada mostra que voltou a ser competitiva com desejo de ampliar investimentos em geração e transmissão de energia no Brasil em cerca de R$ 15,3 bilhões

    Fabrício Juliãodo CNN Brasil Business , em São Paulo

    A Eletrobras fez seus primeiros movimentos após concluir seu recente processo de capitalização. Um deles foi ter arrematado um dos lotes ofertados no maior leilão de transmissão de energia desde 2019, que aconteceu no fim de junho.

    A participação da maior empresa de energia do país em certames com maior concorrência, segundo analistas, é esperado, visto que a empresa foi capitalizada recentemente, e pode ser mais competitiva.

    “A privatização trouxe mais caixa para a Eletrobras, e esse dinheiro permite que ela tenha melhor competitividade com outras empresas que tinham mais atuação no mercado”, diz Michael Viriato, professor de finanças do Insper e sócio da Casa do Investidor.

    O leilão teve ao todo dez empresas vencedoras com a venda de 13 lotes, com projeção inicial de investimentos de R$ 15,3 bilhões.

    Leilão de energia
    Leilão de energia / CNN

    As novas concessionárias serão responsáveis pela construção das linhas de transmissão, que deve demorar entre 42 a 60 meses, e pela posterior manutenção. Ao todo, os lotes representam 5.425 quilômetros de linhas de transmissão e 6.180 megavolt-ampéres (MVA) em capacidade de transformação de subestações.

    No caso da Eletrobras, a companhia angariou o lote número oito, após proposta vencedora de R$ 12,25 milhões da subsidiária Eletronorte. Com isso, ela precisará construir e administrar duas instalações em Rondônia.

    Além da empresa, as outras vencedoras foram: Consórcio Verde, Neoenergia, Isa Cteep, Zopone Engenharia, Sterlite, Engie, Taesa, Energisa e Consórcio Norte.

    Para Flávio Conde, head de renda variável da Levante, o arremate do lote 8 da Eletrobras e o forte investimento em geração e transmissão de energia no Brasil são aspectos positivos aos olhos do mercado, que espera decisões com olhar de maior controle na eficiência administrativa após a privatização.

    Ele ressaltou que o investimento na região Norte faz parte da estratégia da empresa, que é líder em transmissão de energia elétrica no Brasil, com 40% do total das linhas de transmissão do Sistema Interligado Nacional em sua rede básica.

    “As geradoras da Eletrobras já estão bem servidas, mas tem projetos novos, principalmente na região Norte, que vão precisar de mais linhas para geração, por isso a companhia tem entrado no mercado. Esse é o produto da desestatização da empresa e vemos com bons olhos ela voltar a investir em linhas de transmissão”, acrescentou o especialista.

    “A Eletrobras pode entrar mais forte no mercado e comprar projetos que já estão em andamento, com o objetivo de ajudar o sistema a crescer de uma maneira mais sustentável e rápida”, acrescentou.

    Os especialistas reafirmaram a necessidade de uma atuação sólida da companhia neste mercado, mas ressaltaram que a compra de concorrentes não acarretaria um monopólio no setor de transmissão e geração de energia.

    “O Brasil precisa de mais investimentos. É muito difícil que a maior empresa de energia do país, como estatal, consiga acompanhar esses investimentos. O setor de infraestrutura é altamente intensivo em capital, e para fazer grandes investimentos como uma empresa estatal não é tão simples. Para a proteção energética no Brasil, é necessário ter várias empresas privadas neste campo”, destacou Michael Virato.

    “Eu não vejo o perigo de monopólio porque o mercado de linha de transmissão é um mercado que leva muito em consideração investimento, custo e retorno. Então se tiver um custo abusivo, o Cade deverá atuar imediatamente. Mas eu não vejo essa como a política da nova Eletrobras”, pontuou Flávio Conde.

    Ainda de acordo com Flávio Conde, com a privatização, a expectativa é de que a Eletrobras aumente os investimentos de cerca de R$ 4 a R$ 5 bilhões por ano para cerca de R$10 a R$ 15 bilhões.

    “Esta é uma projeção dos investimentos totais e, por mais que seja positivo investir em linhas de transmissão, o principal foco da companhia é em geração de energia”, completou.

    Virgínia Parente, professora da USP, faz uma ressalva em relação ao leilão de junho: “É importante para a empresa abraçar novos e bons projetos, mas o leilão inteiro teve um deságio de cerca de 40%, e quando um deságio é muito grande resta saber se é, de fato, um bom negócio”, diz.

    “É positivo a empresa voltar ao jogo, mas tem que voltar com boa rentabilidade, e falta saber se as empresas vencedoras dos lotes terão essa rentabilidade com um deságio tão grande”, diz.

    O leilão

    O maior leilão de transmissão de energia desde 2019 ocorreu na quinta-feira, 30 de junho, na sede da B3 em São Paulo.

    Os 13 lotes negociados foram arrematados, com deságio chegando a 59,90%.

    As linhas de transmissão contemplarão os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.

    Na primeira parte, iniciada às 10h, foram negociados os lotes 1, 2, 3, 9, 10 e 11. Já a partir das 14h, foram ofertados os lotes 4, 5, 6, 7, 8, 12 e 13.

    Os lances tiveram que respeitar um valor máximo de Receita Anual Permitida (RAP), com o ganhador oferecendo o menor valor.

    O primeiro lote, que engloba 13 instalações nos estados de Minas Gerais e São Paulo, foi arrematado pelo Consórcio Verde, com RAP no valor de R$ 283,3 milhões e com deságio de 47,34%.

    Já o segundo lote, com seis instalações em Minas Gerais e São Paulo, teve como vencedora a Neoenergia, com lance no valor de R$ 360 milhões e deságio de 50,33%.

    A Isa Cteep arrematou o lote 3, composto por nove instalações em Minas Gerais e Espírito Santo, com um lance de RAP no valor de R$ 285,73 milhões e deságio de 46,75%.

    O lote número quatro, que prevê uma instalação no Amapá, foi arrematado pela Zopone Engenharia, com uma RAP de R$ 38,89 milhões e deságio de 5%.

    Composto por três instalações na Bahia e no Sergipe, o lote cinco foi arrematado por um lance de R$ 22 milhões e deságio de 26,52%, feito pela Sterlite.

    A Isa Cteep saiu vencedora na disputa pelo lote seis com um lance de R$ 13,43 milhões e deságio de 59,21%. Ele possui uma instalação, no estado de São Paulo.

    Em outro certame, o sétimo lote, com uma instalação no Pará, foi arrematado pela Engie, que ofertou uma RAP de R$ 6,48 milhões e deságio de 59,90%.

    O lote número oito teve como vencedora a Eletronorte, uma subsidiária da Eletrobras, que fez um lance de R$ 12,25 milhões e deságio 38,57%. Com isso, precisará construir duas instalações em Rondônia.

    O nono lote foi arrematado pela Sterlite, com valor de receita anual de R$ 87,6 milhões e deságio de 32,96%. Ele possui cinco instalações localizadas no Mato Grosso e no Pará.

    A Taesa arrematou o lote número dez, formado por duas instalações em Santa Catarina, com um lance no valor de R$ 18,78 milhões e deságio de 47,96%.

    O décimo primeiro lote foi arrematado pela Neonergia, com lance de R$ 38,2 milhões e deságio de 45,74%. Ele é composto por quatro instalações no Mato Grosso do Sul.

    O penúltimo lote, número 12, possui uma instalação no Amazonas e foi arrematado pela Energisa, cujo lance foi de R$ 17,68 milhões e deságio de 45.26%.

    Já o último lote, composto por duas instalações no Acre, teve a Consórcio Norte como vencedora, com um lance de R$ 22,4 milhões e deságio de 31%.

    *Com informações de João Pedro Malar, do CNN Brasil Business

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