Bailarino baiano conquista bolsa de estudos em renomada companhia de dança
Aos 23 anos, Uostton Di Alcântara entrou na The Ailey School, de Nova York; agora, faz vaquinha on-line para conseguir custear os estudos
Diretamente da Bahia para os Estados Unidos, Uostton Di Alcântara, de 23 anos, está de malas prontas para realizar o seu maior sonho: estudar na The Ailey School.
A escola, localizada em Nova York, é o maior centro dedicado à dança da cidade e também possui um dos mais importantes programas em termos de ensino.
Nascido e criado no bairro Altos de Coutos, no subúrbio de Salvador, o bailarino estuda dança desde os 14 anos de idade e a paixão pelos movimentos veio quando o jovem começou a ver as primas dançando. Não demorou muito para ele pedir à mãe para frequentar aulas de balé.
Inicialmente, Valdelice dos Santos foi resistente aos pedidos do filho. Ela tinha medo que ele sofresse preconceitos, mas o sonho gritou mais alto e ele encontrou na genitora uma das suas maiores fãs.
‘‘Minha mãe e irmã [Michele Dandara], e minha avó, que já faleceu, foram os meus maiores alicerces. Me deram muito apoio. Não precisei trabalhar durante esse período e minha mãe, apesar de precisar muito de ajuda – ela é empregada doméstica -, me deu o maior apoio nessa caminhada”, contou ele em entrevista para à CNN.
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O jovem começou a estudar balé já no ensino médio, iniciando seus estudos na Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb). Foi nessa escola que ele se formou bailarino e onde nasceu o sonho, ainda distante à época, de estudar na Ailey School.
Uostton começou a se preparar desde o ano passado para passar em uma bolsa da companhia. No dia 18 junho desde ano, depois de tentar pela segunda fez, foi aprovado.
Antes de poder embarcar aos EUA no segundo semestre deste ano, Uostton precisa levantar fundos para custear estadia e alimentação. E foi na internet que ele encontrou um meio de conseguir: iniciou uma vaquinha on-line.
Para estudar nos Estados Unidos, ele tem de comprovar para a escola que consegue se manter financeiramente por um ano. Os custos deste período, segundo ele, são de R$ 140 mil, que incluem passagem, hospedagem e alimentação.
Até o momento, o bailarino arrecadou mais de R$ 24 mil, o que corresponde a 17% do dinheiro que precisa. Se não fosse pela bolsa de 100%, só com gastos acadêmicos, ele teria de pagar US$ 7.339 dólares por semestre – o equivalente a mais de R$ 39 mil.
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“Abri o e-mail e precisei ler meu nome umas cinco vezes para acreditar. Chorei de felicidade, mas não tive muito tempo para raciocinar. Comecei a fazer minha própria vaquinha na internet com objetivo de fazer meu sonho acontecer”, contou.
Durante os três anos do curso integral na Ailey School, Uostton estudará dança contemporânea e aproveitará para se aprofundar nos estudos da história da dança.
“É muito difícil estar no nosso lugar [de jovem negro]. Sabemos que é complicado, mas temos que nos apegar ao que nos apoia. Nós duvidamos de nós mesmos por estarmos tentando provar que somos 22 vezes melhor, porque senão, não conseguimos ser vistos. Precisamos acreditar no nosso processo e fazer com que respeitem a nossa história”, finaliza.
*Sob supervisão de Giulia Alecrim.