Brasileiros que lutavam como voluntários morrem durante conflito na Ucrânia
Thalita do Valle e Douglas Búrigo estavam junto às tropas ucranianas; Itamaraty confirma a informação e "continua a desaconselhar enfaticamente deslocamentos de brasileiros" ao país
O Itamaraty confirmou as mortes dos brasileiros Thalita do Valle e Douglas Búrigo confirmaram a morte de ambos durante a guerra na Ucrânia. Eles lutavam como voluntários junto às tropas ucranianas, mas faleceram após um bombardeio na cidade de Kharkiv.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou nesta terça-feira (5) que recebeu, por meio da Embaixada do Brasil em Kiev, a confirmação dos falecimentos, que ocorreram no dia 1º de julho. A pasta adicionou, em nota, que “mantém contato com familiares para prestar-lhes toda a assistência cabível, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local”.
Pessoas de diversos países foram até a Ucrânia para auxiliar na defesa do país, que foi invadido pela Rússia em 24 de fevereiro deste ano. Em junho, a Embaixada do Brasil em Kiev confirmou a morte do brasileiro André Hack Bahi, de 44 anos. Ele era de Eldorado do Sul (RS), e deixou cinco filhos.
Socorrista, atriz e modelo
Thalita do Valle nasceu em Ribeirão Preto (SP), tinha 39 anos, foi atriz mirim, modelo e fez enfermagem. Ela também era ativista pelos animais e participava de uma ONG.
De acordo com a família, Thalita “sempre teve curiosidade em armas e entrou para uma escola de tiro”. Além disso, “participou de eventos no Srilanka, na África, tentando mudar a situação das mulheres lá. Foi para o Curdistão para cuidar de animais e crianças”.
Ela também auxiliou nas operações de resgate de animais após o rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, e na enchente de Petrópolis, no Rio de Janeiro.
Ainda segundo a família, Thalita foi convidada para ir à Ucrânia por um amigo militar. Inicialmente, aceitou ser socorrista, mas, conforme viram a habilidade da brasileira para utilizar armas, ela foi deslocada para o front de batalha.
Mesmo com pedidos para que ela voltasse para o Brasil, Thalita permaneceu na Ucrânia. Segundo as informações repassadas à reportagem, o pelotão em que estava se separou após um bombardeio, e ela ficou escondida em um bunker. Douglas, então, foi ajudá-la, mas acabou sendo atingido. A brasileira tentou socorrer o colega, mas faleceu por inalação de fumaça e gases na madrugada do dia 2 de julho.
No dia 9 de julho será celebrada a missa de sétimo dia de Thalita.
A família disse que o Consulado brasileiro entrou em contato, mas não o Planalto e o Itamaraty.
O exército, por sua vez, afirmou à família que se compromete a realizar o reconhecimento do corpo, deixando para os familiares a decisão de receber o caixão ou o corpo cremado.
Ex-militar também morreu durante bombardeio
Douglas Búrigo era um ex-soldado do Exército Brasileiro, natural do Rio Grande do Sul, tinha 40 anos e era proprietário de uma borracharia próxima a São José dos Ausentes (RS). A prefeitura decretou luto oficial de três dias em 4 de julho.
Ele frequentou a Escola Agrotécnica Federal de Alegrete, do Instituto Federal de Farroupilha.
Búrigo serviu o Exército em Uruguaiana (RS) e, após o período, foi trabalhar como caminhoneiro.
Familiares e amigos afirmaram que o falecimento é “uma perda irreparável” e “dor insuportável”. Em relato à CNN, ele foi descrito como alguém “cheio de vida e alegre”, que “queria sempre ajudar os outros”.
Leia a nota do Itamaraty na íntegra
“O Ministério das Relações Exteriores recebeu, por meio da Embaixada do Brasil em Kiev, confirmação do falecimento de dois nacionais brasileiros em território ucraniano, no dia 1º de julho, em decorrência do conflito naquele país e mantém contato com familiares para prestar-lhes toda a assistência cabível, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local.
Assim como tem feito desde o começo do conflito, o Itamaraty continua a desaconselhar enfaticamente deslocamentos de brasileiros à Ucrânia, enquanto não houver condições de segurança suficientes no país.
Ressalte-se que, em observância ao direito à privacidade e ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, mais informações poderão ser repassadas somente mediante autorização dos familiares diretos. Assim, o MRE não poderá fornecer dados específicos sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros”.