Brasil desperdiça 40% do potencial de suas crianças, diz estudo do Banco Mundial
Índice apresentado considera taxas de mortalidade e déficit de crescimento infantil, anos esperados de escolaridade, resultados de aprendizagem e taxas de sobrevivência
Motivado por uma junção de alto risco de má nutrição ou morte prematura, acesso à educação limitado e baixa qualidade de aprendizagem, um brasileiro nascido em 2019 terá, em média, 60% de seu potencial ao chegar aos 18 anos. Isso quer dizer que 40% de todo o talento brasileiro é retido, segundo o relatório de Capital Humano Brasileiro produzido pelo Banco Mundial e divulgado nesta terça-feira (4).
O Índice de Capital Humano (ICH) considera taxas de mortalidade e déficit de crescimento infantil, anos esperados de escolaridade, resultados de aprendizagem harmonizados e taxas de sobrevivência para chegar ao indicador, que varia de 0 a 1.
Esta é a primeira vez que o Brasil chega na casa dos 0,60. Em 2007, o país pontuou 0,53 e foi para 0,58 em 2015. Houve queda novamente em 2017 e a recuperação veio em 2019.
A expectativa do Banco Mundial, no entanto, é de que 2021 apresente uma queda abrupta no ICH por causa da pandemia de Covid-19. A estimativa é que o ICH chegue a 0,54 no cenário mais realista. O estudo sugere que, para o índice ser recuperado, o investimento se concentre, principalmente, em acesso à educação.
De acordo com o relatório, o Brasil precisaria de 60 anos para alcançar o nível de capital humano que possuem hoje os países desenvolvidos.
Diferenças regionais
Apesar de o índice nacional atualizado ser o mais alto da série histórica, os municípios e estados do país registram ICH desiguais.
Enquanto São Paulo possui um ICH estadual de 0,63, o estado do Pará apresenta um índice de 0,54, por exemplo. Os dois estados resumem a desigualdade que sofrem as regiões do Norte e Nordeste em comparação com o Sudeste. Segundo o estudo, as crianças nortistas e nordestinas desenvolvem, aproximadamente, metade de todo o seu potencial talento — ou 10 pontos percentuais (0,1 ponto do ICH) a menos que uma criança típica do Sudeste.
Quando observam-se os municípios de forma isolada, a situação é menos desfavorável. Os municípios que estavam atrasados em 2007 tenderam a um crescimento mais acelerado. Os dados do levantamento revelam que um ICH um por cento menor em 2007 se correlaciona a um ganho 0,5 por cento maior no ICH entre 2007 e 2019.