Presidente da Argentina nomeia Silvina Batakis como nova ministra da Economia
Martin Guzmán renunciou no último sábado (2) e será substituído por ministra de extrema-esquerda
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, nomeou, neste domingo (3), a economista e oficial do governo Silvina Batakis como a nova ministra da Economia, após a renúncia abrupta do ministro de longa data Martin Guzmán em meio a crises e tensões.
Fernández manteve reuniões durante todo o dia, inclusive com a vice-presidente, Cristina Kirchner, enquanto corria para encontrar um novo chefe da economia após a saída chocante de Guzmán, um importante aliado, abalar seu governo de centro-esquerda.
A porta-voz presidencial Gabriela Cerruti anunciou a nomeação de Batakis para o cargo. Ela havia sido ministra da Economia da província de Buenos Aires de 2011 a 2015 e liderava uma secretaria do governo.
Guzmán, de 39 anos, apresentou sua renúncia na noite de sábado (2) em meio a crescentes tensões dentro da coalizão peronista governista sobre como lidar com a crise econômica, atenuada pela invasão da Ucrânia e pela inflação altíssima.
A saída abrupta trouxe à tona divisões profundas no governo, com uma ala mais militante em torno de Kirchner aparentando planejar um golpe na ala mais moderada sobre os planos econômicos.
“Estamos enfrentando uma crise política complexa, aprofundada pela luta pelo poder”, avaliou Rosendo Fraga, analista político.
Guzman, um moderado que atuava desde 2019, foi a força motriz por trás de grandes reestruturações de dívidas com credores. Ele também foi fundamental para selar um acordo de US$ 44 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI) este ano para substituir um programa fracassado de 2018 com o credor global.
Uma fonte do palácio presidencial disse que o presidente e a vice-presidente, que nem sempre se entenderam nos últimos meses, mantiveram um diálogo “amigável”, ajudando-os a chegar a um acordo sobre quem deveria liderar o Ministério da Economia.
Risco político
Batakis, que é mais próxima da ala da vice-presidente, será fundamental para moldar a política econômica sobre um mercado de câmbio fortemente controlado, acordos de dívida em andamento e comércio. A Argentina é grande exportadora de soja, trigo e milho.
Alberto Ramos, analista do Goldman Sachs, declarou que a saída de Guzmán foi um golpe político para Fernández, que já enfrentava queda nas pesquisas de opinião antes das eleições do ano que vem, e pode comprometer o relacionamento com o FMI.
“Uma presidência politicamente mais fraca e impopular aumentaria o risco de que a política macro se tornasse mais heterodoxa e intervencionista”, escreveu ele em nota, acrescentando que o câmbio e outros mercados locais provavelmente permanecerão sob pressão.
Guzmán foi criticado pela ala militante da coalizão governista em torno de Kirchner, que vem pressionando por mais gastos do Estado para apoiar os argentinos mais atingidos.
Ele vinha equilibrando essa pressão com a necessidade de cortar um déficit fiscal profundo, que se tornou mais difícil em meio aos crescentes custos de importação de energia que atingiram as reservas em moeda estrangeira.
O economista Joseph Stiglitz, mentor de Guzmán e aliado próximo, expôs que o ministro se dedicou a resolver uma crise da dívida deixada pelo governo anterior e retomar o crescimento após a pandemia, mas as divisões no governo tornaram a missão improvável.
“Seus princípios profundos impossibilitaram que ele continuasse no cargo sem o compromisso do governo com uma abordagem unida, integrada e coordenada aos enormes desafios que a economia enfrenta”.