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    Nós temos que aprender a trabalhar bem com a tecnologia, diz Mauricio de Sousa

    Em entrevista à CNN, quadrinista que é presença certa na Bienal do Livro, que começa neste sábado (2), fala sobre o aumento das vendas em 2021, da "competição" com o TikTok e do novo livro, "Sou um Rio"

    Fernanda PinottiLuana Franzãoda CNN , em SãoPaulo

    “Não existe uma Bienal igual à outra”, garante Mauricio de Sousa.

    Quatro anos após o último evento presencial, a Bienal do Livro de São Paulo acontece a partir deste sábado (2) e, como entusiasta da feira, o quadrinista marca presença no primeiro dia. Um veterano de Bienais, ele descreve o evento como “uma festa”.

    Apesar de a Turma da Mônica, sua criação de maior sucesso, já existir há mais de 60 anos, o autor disse em entrevista à CNN que não vê a produção, nem as vendas diminuindo. Cerca de 1.500 páginas de quadrinhos por mês são feitas no estúdio da Mauricio de Sousa Produções, empresa responsável por gerir os produtos e criações que envolvem a Turma.

    O sucesso que perdura por décadas também tem a ver com a presença dos personagens de Sousa em diferentes plataformas. Do gibi aos cinemas, passando pelas maçãs, ele explica que pretende colocar seus personagens “aonde for necessário para eles ficarem conhecidos”. E não se assusta com a presença cada vez maior da internet na vida das crianças: “A criança não quer só uma coisa, ela quer brincar com vários brinquedos”.

    “A pandemia foi uma coisa terrível, mas houve o tempo de o pessoal ler mais, buscar mais os gibis e livros”, ele disse, enquanto falava do aumento nas vendas em 2021.

    Aos 86 anos de idade, Mauricio continua à frente de grande parte dos projetos de sua empresa e não pretende parar de criar, nem começar a se repetir. As reuniões com os mais de 400 funcionários servem para pensar histórias e personagens novos, além de discutir as sugestões dadas por quem lê os quadrinhos. “A criançada está com o telefone na mão querendo conversar comigo também”, disse.

    Nesta conversa com a CNN, Mauricio de Sousa explicou como pretende continuar expandindo o universo da Turma da Mônica, falou da vontade de conscientizar a juventude em relação à importância do meio ambiente e sobre o desafio de ocupar os ambientes digitais com seus personagens.

    Ensinar sobre o meio ambiente

    Mauricio de Sousa fala, no início da tarde de sábado (2) na Bienal, sobre seus últimos livros publicados. Dentre eles, “Sou um Rio”, primeira obra do autor em mais de 60 anos sem a participação da Turma da Mônica, que traz a perspectiva de um rio desde o início de sua vida até o momento em que deságua no mar.

    Além da palestra, a editora leva doze lançamentos para a feira – entre eles, um “Pequeno Manual do Meio Ambiente” (Editora Girassol) e o livro em quadrinhos “Amigos da Floresta” (Bertrand Brasil), com texto de Sérgio Olaya, especialista em agrofloresta.

    “Eu adoro a festa que é a feira do livro”, declarou. Neste encontro, Sousa vai poder abordar a causa que pretende defender cada vez mais: a preservação ambiental.

    O autor explicou que há algum tempo queria abordar o assunto do meio ambiente de forma mais séria. “Queria uma maneira de passar a mensagem para a criançada e principalmente para os jovens sobre os cuidados com o meio ambiente”, ele disse.

    Sousa considerou a recepção do livro “Sou um Rio” boa, mesmo sem a presença da turma que o consagrou como autor, e revelou que pretende seguir explorando esse caminho: “Quero continuar fazendo livros falando do meio ambiente. Estou estudando o tema e vem um segundo livro sem a Turma da Mônica, mas com mensagens ligadas à preservação ambiental.”

    Ilustração do livro “Sou Um Rio”, primeiro de Mauricio de Sousa sem a Turma da Mônica / Mauricio de Sousa Produções

    A inspiração para escrever sobre a importância da natureza veio das próprias memórias de uma infância vivida quando a água dos rios ainda era pura. “Aquele Chico Bento das historinhas sou eu. Eu que nadava no rio Tietê limpo, apostava corrida na água limpa.”

    Por meio dos personagens da Turma ou sem eles, a motivação de Sousa é transmitir uma mensagem positiva para as crianças e jovens em suas obras. Para isso, no entanto, é preciso alcançar uma parcela da juventude que passa cada vez mais tempo em frente ás telas e menos folheando páginas de gibi.

    Pode o gibi competir com o TikTok?

    “Você usou a palavra certa: competição. Nós temos que aprender a trabalhar bem com a tecnologia, fazer histórias para botar no papel pintado e, ao mesmo tempo, games, desenhos animados”, disse Sousa.

    A Mauricio de Sousa Produções parece estar aprendendo bem.

    O canal da Turma no YouTube acumula mais de 18 milhões de inscritos e quase 13 bilhões de visualizações – para base de comparação, a cantora Anitta tem 16,6 milhões de inscritos e pouco mais de 6 bilhões de visualizações – e é alimentado periodicamente com novas animações.

    “E se vier alguma coisa diferente, a gente vai aprender também e colocar os personagens onde for necessário para eles ficarem conhecidos, sempre levando uma mensagem positiva para a criançada”, disse.

    Em 2019, o primeiro filme live-action com as crianças do Bairro do Limoeiro foi lançado nos cinemas, “Turma da Mônica – Laços”. A continuação, “Turma da Mônica – Lições”, saiu no final de 2021, e o universo live-action deve continuar sendo expandido.

    Os atores Giulia Benite (Mônica), Kevin Vechiatto (Cebolinha), Laura Rauseo (Magali) e Gabriel Moreira (Cascão) / Divulgação

    Dentre tantos produtos e formatos, o criador da Turma revelou que a parte do trabalho da qual mais se orgulha é ter participado da alfabetização de milhões de crianças, que iniciaram a leitura com os gibis da Turma.

    “Vou fazer uma pesquisa para saber quantas pessoas aprenderam a ler com Turma da Mônica. E aí vou dar uma festa, logicamente”, ele diz sorrindo.

    Mesmo explorando outras plataformas, as histórias em quadrinhos não parecem estar em segundo plano. Em 2021, as vendas da editora de Mauricio tiveram um aumento de 43%, número que ele explica, em parte, pelo isolamento forçado pela pandemia. “A pandemia foi uma coisa terrível, mas no desvão dos fatos houve o tempo de o pessoal ler mais, buscar mais os gibis e livros”, disse.

    Para Sousa, as crianças não precisam escolher apenas um lado da disputa entre a tecnologia e os livros, tudo bem “brincar com mais de um brinquedo”. Cabe a ele e à sua equipe continuar produzindo e não se repetir.

    Buscar ideias para novos personagens faz parte do dia a dia da empresa, mas a internet facilitou o contato com as crianças que leem, assistem e gostam da Turma. “A criançada que escreve para a gente sugere muita coisa nova”, falou.

    Entre a vida real e as histórias em quadrinhos

    A vida real e o gibi se confundem na vida do desenhista antes mesmo da escolha pela carreira. Antes de se dedicar à ilustração, Sousa teve uma breve passagem pela reportagem policial.

    “A primeira coisa que fiz quando falaram que seria repórter policial foi comprar uma capa e um chapéu, igual aos detetives americanos de história em quadrinho”, relembrou sorrindo. “Me sentia um personagem”.

    Para criar o universo da Turma da Mônica, Sousa fez o caminho inverso e buscou inspiração na própria realidade – dos amigos de infância com quem ele jogava bola em Mogi das Cruzes até os próprios filhos, todas as crianças podem render bons personagens.

    Para ele, esse motivo explica a identificação dos leitores com as histórias. “[Os personagens da Turma] são crianças como qualquer outra. Brigam de vez em quando e fazem as pazes sempre”, disse.

    Por conta disso, a representatividade é uma preocupação do autor, e Sousa já foi questionado mais de uma vez se há a possibilidade de um personagem LGBTQIA+ passar a existir do universo da Turma da Mônica.

    “Não é impossível que haja um personagem assim, mas precisamos estudar um pouquinho mais como vamos tratar desse assunto, que é um pouco delicado para alguns leitores”, ele explicou.

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