Braga Netto nega a interlocutores papel em plano para executar autoridades e sugere acareação
Ex-ministro de Bolsonaro disse que nunca houve em sua residência uma reunião no dia 12 de novembro
O general da reserva Braga Netto disse a interlocutores não ter tido qualquer papel no plano para executar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Ele disse, segundo apurou a CNN, que nunca houve em sua residência uma reunião no dia 12 de novembro, em Brasília, com oficiais de postos inferiores para tratar de assunto ilícito e que não há prova material de que ela tenha ocorrido.
Na conversa, relatou que o local era residência de vários militares do Ministério da Defesa e do governo, como os generais Luiz Eduardo Ramos e Paulo Sérgio Nogueira e que o prédio tem um local de convivência na cobertura, comportando reuniões sociais e particulares.
Segundo relatos obtidos pela CNN, Braga Netto chegou a sugerir uma acareação entre os investigados.
Na terça-feira (19), cinco suspeitos foram presos pela Polícia Federal por integrarem o grupo por trás do plano, que, pelas investigações da PF, esteve prestes a ser efetivado em 15 de dezembro de 2022.
As investigações indicam que, mais de um mês antes, um documento foi criado detalhando o plano.
O ex-candidato a vice de Bolsonaro disse recentemente a militares da reserva não haver qualquer mensagem escrita ou falada dele para o general Mário Fernandes e que, tampouco, havia uma relação de subordinação entre eles.
Mário Fernandes foi um dos presos nesta semana pela operação da PF. O general reformado foi secretário-executivo da Presidência da República no governo de Jair Bolsonaro (PL) e ex-assessor do ex-ministro e deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), é apontado como o responsável por imprimir o documento, intitulado “Planejamento – Punhal Verde e Amarelo”, nas dependências do Palácio do Planalto.
Acesso direto a Bolsonaro
Segundo fontes ouvidas pela CNN, Braga Netto afirmou que não deu ordem, não coordenou, não elaborou, não discutiu o plano, não sabia dos detalhes de execução, não aprovou nada, até porque não tinha cargo no governo e muito menos atribuições para isso — ele era candidato a vice de Bolsonaro no período.
Afirmou, ainda segundo apuração da CNN, que as mensagens trocadas diretamente entre o General Mário Fernandes e Mauro Cid que mostram que o general tratava dos assuntos sem interlocutores com o ajudante de ordens e com o próprio presidente.
Ressaltou que, pelo fato de ter ocupado cargo de ministro de Estado, tinha acesso direto ao presidente.
A leitura feita por ele foi a de que o episódio tem muitas lacunas e detalhes que precisam ser esclarecidos.
“Plano ousado, arriscado e ilícito”
Braga Netto também relatou a pessoas próximas que, na época do episódio, as discussões públicas e privadas orbitavam na adoção de algum mecanismo constitucional, caso fosse constatada a irregularidade no processo eleitoral.
E complementou relatando que não seria coerente e plausível que àquela altura dos acontecimentos, um pequeno grupo de militares estivesse pensando em um plano tão ousado, arriscado e ilícito, já que ainda existiam soluções institucionais.
Também teria questionado que, se o plano de execução foi discutido tão abertamente, pode ter havido omissão e prevaricação de quem possa ter tomado conhecimento dele.
Na leitura feita por Braga Netto a interlocutores, a PF tentou, com o plano de execução, criar uma ligação entre os fatos divulgados de discussão de uma minuta do golpe em meados de novembro com os incidentes na Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.