Bastidores do G20: reunião noturna, edição ao vivo e salas privadas de conversa
Encontro que deveria ter tido quatro dias avançou para quase seis; divergências não foram totalmente sanadas e as negociações bilaterais continuam
A reunião preparatória dos diplomatas para a reunião de cúpula do G20 demorou muito mais que o esperado. O encontro, que deveria ter tido quatro dias, avançou para quase seis e terminou com as últimas delegações saindo às 5h da manhã deste domingo.
No fim, divergências não foram totalmente sanadas, e as negociações continuam.
Sem convergência em temas como a guerra na Ucrânia e Faixa de Gaza, taxação de super-ricos e financiamento das políticas climáticas, o encontro de diplomatas que começou na terça-feira (12) terminou sem um texto final assertivo.
O esboço do comunicado – que ainda será avaliado pelos chefes de Estado – foi oficialmente concluído, mas sem que as grandes polêmicas tenham sido efetivamente resolvidas no texto.
Salas para conversas a sós
Com delegações cansadas e sem avançar nas conversas, os últimos diplomatas desceram as escadas rolantes do centro de convenções do Prodigy Hotel no fim da madrugada. Para trás, deixaram um texto com alguns parágrafos genéricos seguidos apontamentos de diversas delegações insatisfeitas.
Antes de encerrar o encontro, ficou acertado que a presidência brasileira tentará reduzir as divergências em conversas reservadas, em reuniões bilaterais. Para isso, serão usadas as 16 salas preparadas para conversas reservadas no Museu de Arte Moderna (MAM).
Lá, o Brasil vai ouvir as reclamações e vai tentar entender até onde cada delegação pode ceder nas negociações. Depois, a presidência brasileira tentará juntar essas peças em um texto que faça sentido – e que tenha força diplomática.
Edição de Word ao vivo
Os quase seis dias de reunião foram marcados por um longo – e cansativo – processo de edição de texto em tempo real. Em uma sala com todos os líderes de delegação, o anfitrião Brasil tem o controle de um computador em que há um arquivo de texto editado em tempo real.
No mesmo espírito das chatas reuniões via Zoom ou Teams, a tela desse computador é espelhada em um grande telão.
Lá, é possível ver o vai e vem do cursor e o processo de escrever e apagar de quem comanda o computador. O texto é alterado conforme a presidência brasileira dá voz às delegações que pedem a palavra na reunião.
E, assim, a tela vai mostrando o sobe e desce do grande texto em inglês que será apresentado aos chefes de Estado. “Vai para o parágrafo 30. Agora, vamos voltar ao ponto do item 54” e assim vai…
Muitas vezes, as delegações pedem um tempo para discutir o tema. Nesse momento, é comum ouvir expressões do tipo “temos de consultar Londres”, “vamos falar com Buenos Aires” ou “precisamos ouvir Ancara”.
Com países em um sem-número de fusos, é normal que consultas por uma troca de palavra – que deveria demorar segundos via WhatsApp – podem levar algumas horas até que chanceleres ou até chefes de Estado acordem para responder.
Tomara que as respostas finais sejam “sim”.