Washington Post perde 250 mil leitores por falta de endosso nas eleições dos EUA
Assinantes se revoltaram após jornal decidir não apoiar nem Donald Trump nem Kamala Harris
Mais de 250 mil leitores do Washington Post cancelaram suas assinaturas desde que o jornal anunciou na semana passada que não faria nenhum endosso na corrida presidencial, levando a um “grande aumento” nos cancelamentos, informou o Post na terça-feira (29) à noite.
A decisão de endosso, anunciada pela primeira vez na sexta-feira (25) pelo editor do Post, Will Lewis, resultou na perda de aproximadamente 10% dos assinantes digitais do jornal até a noite de terça-feira (29), informou o jornal, citando documentos e duas pessoas familiarizadas com os números. O número não levou em conta nenhum novo assinante que o Post possa ter adicionado desde sexta-feira (25) ou qualquer assinante que tenha se reassinado desde então, informou o jornal.
A NPR relatou o número primeiro. Um porta-voz do Post não comentou o relatório.
Após o anúncio de Lewis de que o Post romperia com uma tradição de décadas e não apoiaria a corrida — ocorrendo menos de duas semanas antes do Dia da Eleição — os leitores imediatamente começaram a se revoltar com a mudança, com figuras de alto perfil e ex-funcionários postando nas redes sociais que haviam cancelado suas assinaturas. O Post relatou que começou a ver um aumento nos cancelamentos poucas horas após o anúncio.
Leitores e ex-funcionários do Post, incluindo o ex-editor executivo Marty Baron, rotularam a decisão como “covarde”, vendo a ação como uma tentativa do bilionário proprietário do Post, Jeff Bezos, de dobrar o joelho preventivamente para uma possível segunda administração Trump. Uma pessoa com conhecimento do assunto disse à CNN que um endosso a Kamala havia sido redigido pelos membros do conselho editorial do Post antes de ser anulado por Bezos.
Enquanto o Post perdia assinantes — e via três membros de seu conselho editorial renunciarem — Bezos tentou acalmar a resposta, publicando um raro artigo de opinião na segunda-feira (28), no qual reconheceu que o momento de sua decisão levou à especulação de que ele estava tentando apaziguar o ex-presidente Donald Trump.
“Gostaria que tivéssemos feito a mudança antes do que fizemos, em um momento mais distante da eleição e das emoções em torno dela”, escreveu Bezos. “Isso foi um planejamento inadequado, e não uma estratégia intencional.”
Bezos também reconheceu a “aparência de conflito” com a decisão, admitindo que sua propriedade da gigante do comércio eletrônico Amazon e da empresa de exploração espacial Blue Origin, que tem bilhões em contratos federais, tem sido um “fator complexo para o Post”.
Depois que Trump levou um tiro na orelha neste verão em uma tentativa de assassinato, Bezos ligou para o ex-presidente “para dizer o quão impressionado ele estava pelo fato de o candidato ter levantado o punho após ser atacado”, relatou o Post.
Na sexta-feira (25), horas depois de Lewis anunciar a decisão de não fazer um endosso, Trump se encontrou com executivos da Blue Origin no Texas, jogando lenha na fogueira da reação negativa já furiosa. Em seu artigo de opinião, Bezos insistiu que não tinha conhecimento prévio da reunião.
“Gostaria também de deixar claro que não há nenhum quid pro quo de qualquer tipo em ação aqui. Nem a campanha nem o candidato foram consultados ou informados em nenhum nível ou de nenhuma forma sobre essa decisão. Ela foi tomada inteiramente internamente”, ele escreveu.
Em vez disso, Bezos enquadrou sua decisão de encerrar os apoios presidenciais como uma decisão destinada a reconquistar a confiança dos leitores.
“O que os endossos presidenciais realmente fazem é criar uma percepção de parcialidade”, ele escreveu. “Uma percepção de não independência. Acabar com eles é uma decisão baseada em princípios, e é a decisão certa.”