Alta recente do dólar está mais relacionada a fatores externos, diz economista
Mesmo com aumento dos juros, Brasil não escapa de piora no câmbio
O dólar acumula alta de 4,54% no mês de outubro e ronda os R$ 5,70, um patamar elevado considerando os fundamentos da economia brasileira e, mais ainda, o fato de o país estar no início de um novo ciclo de alta dos juros.
O economista Livio Ribeiro, da consultoria BRCG e pesquisador associado do IBRE/FGV, rodou seu modelo de acompanhamento das causas para formação do preço do cambio com exclusividade para a CNN. E o resultado mostra que o movimento recente de valorização da moeda americana é explicado, majoritariamente, por fatores externos.
“Os fatores externos foram dominantes nos últimos dois meses. Nesse período o dólar saiu de R$ 5,60, foi para R$ 5,43 assim que BC do Brasil começou a subir os juros, e voltou para a casa dos R$ 5,70 nos últimos dias. E, segundo nosso modelo, os fatores globais explicam essa dinâmica”, disse Livio Ribeiro à CNN.
Desde final de agosto o mercado internacional vem lidando com uma série de eventos externos que provocaram aversão ao risco em mercados emergentes como o Brasil. Entre eles estão a alta dos juros no Japão, a piora no conflito no Oriente Médio, os pacotes de estímulos ao crescimento na China e sinais de que a economia americana continua em ritmo acelerado, impondo barreiras para queda mais rápida dos juros nos Estados Unidos.
O que chama atenção na dinâmica do mercado de câmbio brasileiro agora é que a pressão sobre o Real acontece em pleno ciclo de alta dos juros ao mesmo tempo em que o FED vai no sentido contrário, começando processo de redução da taxa americana. Normalmente, quando o Copom sobe a taxa Selic, aumenta o diferencial de juros com os EUA e atrai capital estrangeiro.
“Onde está o fator de risco doméstico nessa dinâmica? O risco Brasil é idiossincrático [ligado a uma causa específica do Brasil]? A resposta é não. Acontecem coisas que aumentam aversão ao risco no mundo emergente provocando piora do CDS, mas não necessariamente aconteceu alguma coisa no Brasil”, explica Ribeiro.
O modelo criado por Ribeiro considera variáveis diversas que influenciam o comportamento do câmbio. Entre eles estão o risco-país, calculado pelo custo do seguro para negociação com títulos do país, o índice do dólar contra uma cesta de moedas, os preços das commodities, títulos da dívida americana de 10 anos e o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos.
Ao considerar o que aconteceu com cada um deles na semana entre os dias 11 e 18 de outubro, os fatores externos contribuíram com 2,3 pontos percentuais na valorização do dólar, contra (-) 0,82 pontos percentuais dos fatores domésticos. Essa diferença era menor na última semana de agosto, mas foi aumentando desde então.
Na análise do comportamento do câmbio do final de 2023 até 18 de outubro de 2024, a ordem das causas se inverte. São os fatores domésticos que predominam no comportamento do dólar frente à moeda brasileira. São 15,36 pontos percentuais de causas brasileiras contra 8,60 das externas. O pico da influência doméstica aconteceu entre maio e junho deste ano e não foi compensada até agora, mesmo com a piora do contexto externo.
“Não dá para identificar um único fator que responda por esse movimento mais forte entre maio e junho. Eu lembro alguns aqui como o BC ter parado de cair juro, queimadas acontecendo pelo país, presidente Lula falando sobre Copom e fiscal, as chuvas no Rio Grande do Sul, ou seja, um conjunto de coisas que aconteceram ao mesmo tempo”, diz Livio Ribeiro.
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