Agenda proposta pelos Brics é de mudar a ordem mundial, e o Brasil quer isso, diz ex-embaixador ao WW
Rubens Barbosa afirma que propostas do bloco para governança global e uso de moedas locais são de interesse brasileiro, mas alerta para tendência antiocidental
O ex-embaixador do Brasil em Washington Rubens Barbosa afirmou que a agenda proposta pelo bloco dos Brics, que visa reduzir a centralização da ordem mundial nos Estados Unidos, no Japão e nos países europeus, é de interesse do Brasil e deve ser endossada pelo país.
Em entrevista ao WW desta segunda-feira (21), Barbosa destacou que as propostas do grupo, que incluem mudanças na governança global e a substituição do dólar por moedas locais, alinham-se com os objetivos da política externa brasileira atual.
“Essa agenda que o Brics está promovendo inclui a governança global, a contestação da ordem vigente, não a substituição, mas o aperfeiçoamento, essa é uma agenda brasileira”, explicou.
Expansão do bloco e posicionamento brasileiro
O diplomata comentou a possível expansão dos Brics, que atualmente conta com Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, para incluir mais dez países. Segundo ele, essa ampliação pode diluir a influência brasileira na definição da agenda do grupo.
Barbosa alertou que o Brasil deve manter uma posição independente dentro do bloco: “Do ponto de vista do Brasil, eu acho que pertencer a esse grupo é positivo na minha visão, porque você discute temas globais, agora o Brasil teria que se distanciar dessa tendência antiocidental”.
O ex-embaixador expressou preocupação com a possibilidade de o Brics se tornar um movimento antiocidental.
“Eu acho que o Brics, como está concebido, esses cinco que entraram, e agora os dez que vão entrar, mas são 20 países, eles formam o embrião, na minha visão, de um movimento antiocidental, se contrapondo ao Ocidente”, advertiu.
Barbosa recomendou que o Brasil mantenha uma postura equilibrada, evitando alinhamentos automáticos tanto com a China quanto com os Estados Unidos.
Ele sugeriu que o país siga o exemplo da Índia, buscando uma posição independente que permita dialogar com ambos os lados sem comprometer seus interesses nacionais.