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    Boris Feldman
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    Boris Feldman

    Jornalista especializado em automóveis desde 1966, produtor e apresentador do programa Autopapo

    Papo de roda – CEO da Ford dirigiu os chineses: “São melhores que os nossos”

    Superioridade tecnológica da indústria chinesa deixou Jim Farley preocupado com futuro de sua empresa

    Jim Farley, o CEO da Ford, foi à China conhecer os automóveis elétricos que ameaçam o mundo e voltou até com preocupações existenciais em relação à sua empresa. Ou a toda a indústria automobilística ocidental…

    O que tirou o sono de Mr. Farley foi a extrema qualidade dos carros chineses, especialmente a tecnologia dos elétricos. “São melhores que os nossos” foi o seu comentário ao voltar aos Estados Unidos.

    Ele dirigiu um automóvel da estatal Changan (não foi divulgado qual deles), tendo seu diretor financeiro, John Lawler, como passageiro – a chinesa é parceira da Ford há muitos anos e já esteve no Brasil quando ainda se chamava Chana). O CEO e o CFO da Ford se impressionaram com a dirigibilidade e o silêncio do carro.

    Para que seus colegas também tivessem noção do perigo asiático, Farley pediu a importação de meia dúzia de carros chineses da Changan e outras marcas (inclusive o Xiaomi SU7) para que o conselho e a diretoria da Ford percebessem a qualidade dos seus elétricos.

    Asiáticos começaram com “design xerox”

    O que Farley não sabe – ou pelo menos não comentou – foi o motivo de os carros chineses terem virado a chave tão rapidamente, pois não transmitiam a menor confiança há cerca de dez anos.

    Os primeiros que desembarcaram no Brasil, na década de 2010, chegaram a ser ridicularizados, tão baixa sua qualidade. E ainda ostentavam o nada honroso título de “design xerox”, pois vários deles eram cópia escarrada e descarada de veículos europeus.

    No Brasil, por exemplo, foi comercializado o Lifan 320, idêntico ao inglês Mini Cooper. A importadora até brincou ao expor o carro no Salão do Automóvel de São Paulo ao lado de um sósia de Mr. Bean…

    O salto de qualidade não foi só dos chineses, mas uma constante entre os asiáticos. Os primeiros modelos exportados pelo Japão entre 1980 e 1990 também deixavam a desejar, até que sua qualidade ganhou excelência e se tornou padrão mundial.

    Uma década depois, na virada do século, foi a vez dos sul-coreanos se tornarem big players do setor. Mas, se a qualidade de Kia e Hyundai era duvidosa no inicio, o grupo deu a volta por cima poucos anos depois e hoje são respeitados mundialmente. O seu projeto de eletrificação está entre os mais avançados da indústria.

    Alemão sugeriu a tacada certeira

    Os chineses também começaram mal e “adotaram” a estratégia do estilo CC (“cópia carbono”) dos japoneses, além da baixa qualidade dos produtos. Eleger fornecedores internacionais de alto padrão foi o seu primeiro passo para subir a régua.

    Mas a tacada mais certeira foi contratar, na Alemanha, para consultor do Ministério da Indústria e Comércio, um diretor da Audi. Que chegou, viu e não gostou.

    Analisou a indústria chinesa e recomendou ao governo: “A sua indústria está uma geração atrasada em relação aos ocidentais. E, cada passo que vocês derem, eles terão evoluído também. Minha sugestão é desenvolver agora uma avançada tecnologia dos elétricos – ainda lenta e incipiente no Ocidente – e saírem assim na frente de toda a indústria mundial.”

    O resultado foi o terremoto que a tecnologia chinesa está provocando no mundo. A supremacia de seus elétricos é indiscutível, a ponto de causar insônia no CEO da poderosa Ford. Que deve ter aproveitado as noites mal dormidas para acelerar seus projetos de eletrificação, que vinham caminhando em marcha lenta.

    Tanto que Farley iria lançar um elétrico barato (US$ 30 mil) para competir com os chineses, mas está repensando toda a sua estratégia. Inclusive a de só oferecer elétricos na Europa até 2030, pois eletrificação não significa apenas carros a bateria, mas também os híbridos.

    A preocupação não é só da Ford: Estados Unidos e Canadá decidiram taxar em 100% de impostos os carros chineses, tamanha a preocupação com a ameaça de invadir seu mercado. Na Europa, foi decidido um imposto de 38%.

    Corre uma lenda de que Enzo Ferrari teria tirado o chapéu pela admiração que tinha por Henry Ford. Agora, foi a vez da Ford tirar o chapéu para a indústria chinesa…

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