Estudo aponta dieta que pode reduzir declínio cognitivo; conheça
Benefícios foram maiores principalmente entre mulheres e negros, segundo a pesquisa
Seguir a dieta MIND por 10 anos resultou em uma pequena, mas significativa, diminuição no risco de desenvolver problemas de pensamento, concentração e memória, de acordo com um novo estudo publicado na quarta-feira (18) na revista Neurology, da Academia Americana de Neurologia.
A dieta chamada “Mediterrânea-DASH Intervention for Neurodegenerative Delay” (Intervenção para atraso neurodegenerativo, em tradução livre do inglês) combina elementos da dieta mediterrânea tradicional e da abordagem DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension, ou abordagem dietética para parar a hipertensão), que foca na redução da pressão arterial.
A dieta MIND foi especificamente projetada para combater o declínio cognitivo, segundo o autor principal do estudo, Russell Sawyer, professor assistente de neurologia clínica e medicina de reabilitação no Instituto de Neurociências Gardner da Universidade de Cincinnati.
“Entre os componentes da dieta MIND estão 10 grupos de alimentos saudáveis para o cérebro — vegetais de folhas verdes, outros vegetais, nozes, frutas vermelhas, feijões, grãos integrais, frutos do mar, aves, azeite de oliva e vinho”, explica Sawyer em um e-mail.
Cinco grupos de alimentos não saudáveis — carnes vermelhas, manteiga e margarina em barra, queijo, alimentos fritos e fast food, e doces e sobremesas — são limitados na dieta MIND, o que ajuda a reduzir a ingestão de gorduras trans e saturadas, explica Sawyer.
“A dieta MIND possui todas as características essenciais — notavelmente um foco em alimentos reais, em sua maioria vegetais — necessárias para reduzir a inflamação sistêmica, facilitar a perda de peso, melhorar a saúde do microbioma, aliviar a resistência à insulina, baixar lipídios sanguíneos elevados (gorduras) e desacelerar a aterogênese (entupimento das artérias)”, afirma David Katz, especialista em medicina preventiva e estilo de vida e fundador da organização sem fins lucrativos True Health Initiative, uma coalizão global de especialistas dedicados à medicina baseada em evidências. Ele não esteve envolvido no estudo.
“Que esses efeitos se traduzam na proteção do cérebro não é nenhuma surpresa”, disse Katz por e-mail. “Este estudo de associação não prova, por si só, que a dieta MIND protege a saúde cognitiva, mas dado os mecanismos claros em ação, certamente sugere que sim.”
Benefício é maior para mulheres e pessoas negras
O estudo faz parte de uma pesquisa contínua chamada REGARDS, ou Razões para Diferenças Geográficas e Raciais no Acidente Vascular Cerebral. Patrocinado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, o REGARDS foi criado para examinar por que as pessoas do sul dos Estados Unidos e afro-americanos têm uma maior incidência de derrame, e vem acompanhando cerca de 30.000 adultos com 45 anos ou mais desde 2003.
Dos mais de 14.000 participantes do estudo, 70% eram brancos e 30% eram negros. No início do estudo, e novamente após 10 anos, os participantes foram questionados sobre sua ingestão alimentar e passaram por eletrocardiogramas, medições de pressão arterial e exames de sangue.
Os pesquisadores então pontuaram as dietas com base na maior adesão aos parâmetros da dieta MIND: comer mais de três porções de grãos integrais por dia, consumir mais de seis porções de vegetais de folhas verdes por semana, comer pelo menos um outro vegetal por dia, consumir mais de duas porções de frutas vermelhas por semana, comer peixe mais de uma vez e aves mais de duas vezes por semana, e comer feijões mais de três vezes por semana. Comer nozes e usar principalmente azeite de oliva também receberam pontuações mais altas.
As pessoas que comeram carnes vermelhas ou processadas menos de quatro vezes por semana, fast food ou alimentos fritos menos de uma vez por semana e menos de uma colher de sopa de manteiga ou margarina por dia também foram pontuadas mais alto.
Aqueles que seguiram a dieta MIND mais de perto tiveram 4% menos chances de desenvolver problemas de memória e pensamento do que aqueles que não seguiram a dieta, descobriu o estudo. A conclusão permaneceu válida mesmo após a consideração de fatores como exercício, educação, tabagismo, índice de massa corporal, condições médicas, idade e ansiedade ou depressão.
Para as mulheres, o risco foi ainda menor — elas tinham 6% menos chances de desenvolver comprometimento cognitivo. No entanto, os homens não apresentaram tal benefício, descobriu o estudo.
Quando se tratava da rapidez com que aqueles com problemas de memória e pensamento declinaram, o estudo descobriu que as pessoas que seguiram de perto a dieta MIND regrediram mais lentamente do que aquelas que não seguiram. Essa associação foi mais forte nos participantes negros do que nos brancos, disse Sawyer.
“Essas foram descobertas surpreendentes”, disse Sawyer. “Os benefícios da dieta MIND podem ter um impacto diferenciado em mulheres e negros, e essa é uma área para futuras pesquisas.”
Mais pesquisas são necessárias
Um ensaio clínico randomizado e controlado de 2023 descobriu que a dieta MIND não era melhor do que a dieta controle para reduzir sinais de declínio cognitivo no cérebro. No entanto, os especialistas se preocuparam que o ensaio não fosse longo o suficiente para capturar totalmente os resultados.
“O acompanhamento de três anos, embora admirável para um ensaio clínico randomizado, oferece menos insights sobre os benefícios a longo prazo da dieta em comparação com os mais de 10 anos de acompanhamento em nosso estudo”, diz Sawyer.
Além disso, apenas 66 pessoas no ensaio clínico eram negras, o que limita “a generalização deste estudo controlado randomizado em comparação com nosso estudo de coorte, embora ambos ofereçam informações importantes”, afirma.