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    Uruguai articula no Mercosul saída para crise na Venezuela, diz vice-presidente à CNN

    Em entrevista à CNN, Beatriz Argimón comentou também divergências nas negociações entre Brasil e Uruguai dentro do bloco

    Salvador Stranoda CNN , em São Paulo

    O Uruguai assumiu a Presidência do Mercosul em um cenário desafiador. O país tenta articular uma resposta à crise na Venezuela, onde o resultado das eleições que levariam Nicolás Maduro a um terceiro mandato à frente do Palácio de Miraflores não foi reconhecido pela oposição e por parte da comunidade internacional.

    “A forma de avançar é, primeiro, chamar as coisas pelo seu nome. Para nós, não há dúvida que na Venezuela há uma ditadura”, disse Beatriz Argimón, vice-presidente do Uruguai, à CNN.

    Ao mesmo tempo, o país trava uma batalha própria com nações do grupo para garantir um acordo bilateral de livre-comércio com a China — medida que, pelo menos por enquanto, não pode continuar sem a anuência dos vizinhos regionais.

    “Para países pequenos como o nosso, gostaríamos de ter uma salvaguarda para não acompanhar o bloco. Essa possibilidade é importante”, afirmou Argimón.

    Beatriz Argimón falou à CNN sobre esses desafios e sobre a morte do jogador de futebol Juan Izquierdo, que sofreu uma parada cardíaca durante uma partida do Nacional contra o São Paulo, no Morumbis.

    A vice-presidente do Uruguai é a entrevistada desta semana do Vozes da Diplomacia, coluna da CNN que traz entrevistas semanais com representantes da comunidade diplomática no Brasil e no exterior.

    Leia os principais trechos da entrevista: 

    O Uruguai assumiu a Presidência rotativa do Mercosul em um momento de muitas crises — há uma crise migratória causada pela crise democrática na Venezuela, há atritos públicos entre países-membros e um sentimento de instabilidade. Qual deve ser a marca da Presidência uruguaia nesse período?

    O Mercosul está em um ponto importante em termos de fazer uma reflexão sobre o nosso papel neste século XXI, que é um contexto tão diferente do que era no início dessa comunidade e que foi um momento histórico para nossos países.

    Eu gostaria de falar dos momentos de inflexão. São pontos em que a tomada de decisão é sinônimo de onde vamos, em um caminho compartilhado com os outros países-membros.

    Creio que estamos nesse ponto e precisamos fazer essa reflexão como um bloco. A capacidade de resposta do bloco às mudanças precisa ser rápida. É essa a convocação do Uruguai neste período.

    Uma das divergências que existem hoje no bloco é a possibilidade de firmar acordos de livre-comércio individualmente, sem que o Mercosul como um todo abra seu mercado. O Uruguai tenta fechar um acordo do tipo com a China. O Brasil é contra. Como sair desse impasse?

    Entende-se que se um dos países levar adiante um acordo sozinho, isso vai repercutir dentro do bloco. Por isso, o Uruguai está buscando uma convergência.

    Plantamos a possibilidade de que seja o bloco que faça esse tratado de livre comércio, mas há países que, por sua própria dinâmica interna de negócios, não acompanhariam essa possibilidade.

    Me parece que, nesses tempos, devemos acelerar essa escolha pelo sim ou pelo não. Mas, para países pequenos como o nosso, gostaríamos de ter uma salvaguarda para não acompanhar o bloco.

    Essa possibilidade é importante, e me parece que nessas últimas reuniões começamos a avançar um pouco nessa direção. Estamos num novo contexto e entendemos a possibilidade de fazermos uma troca um pouco mais com o pé no chão.

    O Brasil e o Uruguai também divergem na estratégia para a crise na Venezuela. O Uruguai rechaçou prontamente a legitimidade da eleição, da qual o Conselho Eleitoral Nacional afirma que o vencedor foi Nicolás Maduro. Já o Brasil, por outro lado, defende que é necessário manter o diálogo aberto com os dois grupos. Qual o caminho para a saída dessa crise?

    Oxalá fosse fácil dizer qual o caminho. Seguramente, a pressão internacional desempenha um papel importante em determinar que é indispensável que se respeite a vontade popular do povo venezuelano.

    Os países têm diferentes afinidades, inclusive ideológicas. Eles transitam as posições de acordo com essas afinidades.

    Para nós, há muito tempo não há qualquer dúvida que há uma ditadura cruel na Venezuela. Há presos políticos, eles fecharam canais da imprensa. Portanto, todos os sinais mostram que estamos diante de uma ditadura.

    Essa é a posição do Uruguai como Estado. Mas qual a posição do Uruguai como articulador regional, agora na Presidência do Mercosul?

    Evidentemente, a forma de avançar é, primeiro, chamar as coisas pelo seu nome. Para nós, não há dúvida que na Venezuela há uma ditadura.

    Em segundo lugar, é preciso buscar as fórmulas de uma saída pacífica para que, efetivamente, quem governe sejam os que foram eleitos nas eleições nacionais.

    Sabemos que as próximas semanas serão essenciais para que os que ganharam legitimamente pelo poder popular levem adiante propostas sobre como sair dessa situação.

    Estamos dispostos a avançar no apoio para qualquer ação indispensável para que o presidente eleito pelos venezuelanos seja Edmundo (González) e que possa desenvolver seu plano para retomar a democracia.

    Você é a primeira mulher eleita vice-presidente na história do Uruguai. Como garantir que não será a última?

    Estamos em campanha eleitoral neste momento. As duas chapas com possibilidade de ganhar levam mulheres como candidatas a vice. Então, aparentemente, teremos mais uma vice-presidente.

    Na verdade, se fala muito do papel que desempenhamos nesses tempos. Nesta legislatura propusemos a paridade (para cargos eleitos entre homens e mulheres), sabendo que o projeto de lei não teria maioria para se converter em lei. Levamos ele adiante, fizemos o debate sobre ele.

    Seguramente, avançaremos em um próximo governo numa maior presença de mulheres, e não só na forma. Que tenham sua própria agenda. Que os cidadãos as visualizem como um ator político com uma agenda própria, independentemente que acompanhem a agenda de seu partido.

    Porque, as experiências que se tem, além do sistema de cotas ou da paridade, quando a diferença é visível, os cidadãos entendem que esse é o caminho a seguir.

    No início desta semana morreu Juan Izquierdo, o zagueiro do Nacional. Como vocês receberam essa notícia e como estão dando apoio à família do jogador?

    Um atleta jovem, muito querido e com uma família que tinha acabado de ter seu segundo filho. Portanto, a comoção foi muito grande em todo o país.

    Recebemos muito carinho e apoio em todo o país.

    Está acontecendo neste momento o velório, onde participam obviamente não só os que fazem parte do clube, mas também os do clube que, tradicionalmente, é seu rival, mostrando o quão importante é estar junto nos momentos difíceis, quando há uma família de um jovem atleta que está passando o que a família dele está passando.

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