Pressão nas Olimpíadas e o segredo para uma mente calma e positiva
Psicóloga reflete sobre saúde mental de atletas olímpicos e as técnicas que podem ser usadas para aliviar pressão
Elas são o auge da carreira de qualquer atleta, o sonho que motiva anos de treinamento, sacrifícios e dedicação. No entanto, junto com essa ambição, surge uma pressão imensa. Como lidar com a expectativa global, o peso da responsabilidade e a vontade incontrolável de vencer? Neste artigo, explorarei como alguns atletas, como por exemplo a Rebeca Andrade e Rayssa Leal, cultivaram uma mentalidade positiva e calma, mantendo o foco no que realmente importa: aproveitar o momento e dar o seu melhor.
O primeiro passo é reconhecer e entender a pressão, já que ela faz parte do contexto da vida do atleta olímpico. Ele vai perceber este peso vindo da expectativa dos seus torcedores e família, mídia, treinadores e a sua pressão interna. Todos nós temos crenças limitantes que nos impedem de alcançar nossos objetivos, uma vez que elas promovem pensamentos auto sabotadores que nos fazem acreditar que não somos capazes de realizar algum grande feito. E, normalmente, quando estamos diante de algo grandioso é o momento oportuno para as crenças limitantes aparecerem. Por conta disso, o atleta pode estar preparado fisicamente para desempenhar a sua melhor exibição naquele momento único da sua vida, onde todos os holofotes se voltam para ele e, perdendo a sua concentração, acabar errando algo que para ele seria trivial por conta de pensamentos que nem ele estava se dando conta que estariam ali.
Um exemplo é Raíssa Leal, skatista brasileira que conquistou a medalha de bronze na prova de Skate Street nas Olimpíadas de Paris 2024. Com apenas 16 anos, a brasileira já subiu duas vezes no pódio olímpico, sendo a primeira delas nas Olimpíadas de Tóquio 2020, onde conquistou prata. A atleta declarou que acabou errando algumas manobras que ela fazia com facilidade nos seus treinos. Foi então que percebeu o que estava desconcentrando ela, e focou a atenção nas músicas no seu fone. Desta forma ela deslocou a sua atenção para um lugar de foco e concentração, dando o seu melhor naquele momento.
Nos últimos anos, a saúde mental tem ganhado destaque no esporte de alto rendimento. Grandes nomes como Simone Biles e Michael Phelps falaram abertamente sobre suas lutas, trazendo luz à importância do equilíbrio mental. Ambos passaram por situações difíceis onde desenvolveram quadros de depressão e ansiedade que culminaram em pausas nas suas carreiras. Buscaram tratamento para conseguir lidar com as adversidades e desenvolver resiliência para voltar ao ambiente competitivo. O psicólogo que trabalha com esporte precisa auxiliar o atleta a não fazer comparação injusta com outros atletas. E isso hoje é mais comum porque temos as redes sociais, que promovem comparações e cobranças constantes, assim como a preocupação em ser desaprovado ou pior: deletado.
Um outro ponto que merece destaque é que o atleta que está acostumado a ganhar pode não conseguir lidar com a perda como um aprendizado, e acaba remoendo o erro e esquecendo que ainda tem ali outras competições pela frente. É necessário compreender a derrota, observando todos os fatores que dependem e não dependem do atleta naquele momento como, por exemplo, apoio financeiro, estrutura familiar e esportiva, lesões, etc.
Na ginástica artística, Rebeca Andrade brilhou nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Após superar várias lesões e cirurgias no joelho, ela entrou em cena com confiança e serenidade. Rebeca destacou a importância de manter a cabeça no lugar e confiar no processo. Ela usou a música, o apoio da equipe e a força interior para lidar com a pressão, culminando na conquista de uma medalha de ouro histórica, 2 pratas e 1 bronze. Por isso que práticas de terapia e mindfulness são ferramentas poderosas, que ajudam os atletas a manterem a calma, o foco e a reestruturação cognitiva e o manejo das emoções.
Além disso, atletas de alto rendimento devem trabalhar constantemente com duas inteligências essenciais: a corporal cinestésica, que é a habilidade de realizar movimentos físicos coordenados, e a inteligência emocional.
Técnicas de respiração diafragmática, mindfulness trabalhando a atenção plena no momento presente, visualização criativa e regulação de emoções são essenciais neste processo. Fora isso, manter a rede de apoio, incluindo amigos, familiares e equipe multidisciplinar são essenciais na hora de lidar com a pressão.
Nas Olimpíadas, o desafio não é apenas físico, mas também mental. Com as estratégias certas, os atletas podem manter uma mente calma e positiva, aproveitando cada segundo dessa jornada extraordinária. Como Rebeca Andrade e Rayssa Leal mostraram, o segredo está em confiar em si mesmo, manter o espírito leve e competir com alegria. Afinal, o verdadeiro ouro está em conquistar a paz interior, independentemente do resultado. E que venham os novos Jogos, com espírito leve e coração cheio de esperança!
(Texto escrito por Juliana Orrico, psicóloga – CRP/SP 133.394)