Vinhos da Mantiqueira: 5 vinícolas da serra para conhecer já!

Vinícolas de São Paulo e Minas Gerais se destacam na produção de vinhos finos brasileiros, desenvolvidos com a revolucionária técnica da poda invertida

Daniela Filomeno em meio às videiras da Guaspari, renomada vinícola paulista em Espírito Santo do Pinhal (Foto: CNN Viagem & Gastronomia)

É na divisa dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais que se encontra mais uma das maravilhas naturais do Brasil: a Serra da Mantiqueira. A cadeia de montanhas abrange cidadezinhas encantadoras em terras altas, entre mil e quase três mil metros de altitude. Além de suas belezas e clima ameno, a Mantiqueira tem um novo protagonista: o vinho. E é para lá, para desvendar essa produção e conhecer esses rótulos, que o CNN Viagem & Gastronomia* te leva. Veja o programa completo aqui ou no final desta matéria.

Conhecida por sua tradição cafeeira, vários cafezais da Mantiqueira agora são a morada de videiras: a região tem despontado como uma ótima produtora de vinhos, principalmente os tintos. Ali, em cidades de São Paulo e no sul de Minas, pude ver de perto como a tecnologia tem driblado as condições climáticas e produzido bebidas que nada perdem para os rótulos internacionais mais cobiçados.

É através da poda invertida – ou dupla poda – que a produção por ali tem revolucionado nossa história na área. Em linhas gerais, ela é realizada no período oposto ao considerado “ideal”: o ciclo é invertido, permitindo que os frutos amadureçam durante o outono, com dias ensolarados e secos e noites frias, escapando do período chuvoso e colhendo-se no inverno.

A técnica é recente e foi criada pelas mãos do agrônomo brasileiro Murillo de Albuquerque Regina, mestre em viticultura pela Université de Bordeaux II, que brinca que o sul de Minas possui o “clima perfeito na hora errada” para o desenvolvimento das uvas. As variedades syrah e sauvignon blanc, por exemplo, são as mais tradicionais das vinícolas paulistas e mineiras, as quais chegaram mais intensamente na região por volta dos anos 2000.

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Assim, a junção de tecnologia e da obstinação dos apaixonados pela bebida tem colocado o vinho brasileiro na rota mundial. Mas uma coisa é certa: sem uva, não há mágica. E ali, na Mantiqueira, elas estão cada vez mais adaptadas a estas terras.

Parte da cadeia da vitivinicultura, o enoturismo tem ganhado destaque por ali também, a exemplo das vinícolas Guaspari, Casa Verrone e Casa Geraldo. Elas unem o melhor da produção da uva e da gastronomia, aliando história, cultura e lindas paisagens, tudo isso aos pés da Mantiqueira.

Assim, a história enogastronômica da Serra da Mantiqueira ainda é muito precoce, mas os resultados já são muito frutíferos. É um convite para viajarmos pelos sabores e saberes da região, uma vez que o vinho é também sinônimo de celebração. A seguir, destaco um pouco da história e dos rótulos de cinco vinícolas que aliam paixão e qualidade pela serra, em que todas acumulam apenas bons predicados:

Guaspari (Espírito Santo do Pinhal/SP)

Dani Filomeno experimenta vinhos da Guaspari
Dani Filomeno degusta vinhos da Guaspari (Foto: CNN Viagem & Gastronomia)

A Guaspari é uma das mais renomadas vinícolas brasileiras, um grande projeto que foi se afeiçoando com o tempo em uma antiga fazenda de café em Espírito Santo do Pinhal (SP). Não é à toa que um dos produtos vendidos ali seja o café arábica, que possui aromas de caramelo, nozes e chocolate. Enxergo a Guaspari como um verdadeiro laboratório, com testes de diferentes varietais, onde as uvas são tratadas com o máximo respeito e a produção de vinhos segue uma qualidade ímpar.

A vinícola fica entre duas fazendas magníficas, entre 1.000m e 1.300m de altitude, em que a insolação durante o dia e as noites fresquinhas garantem produtos similares às regiões europeias. O solo seco com boa drenagem faz com que os vinhos tenham um terroir único – o DNA da bebida.

Vinhos da Guaspari
Rótulos da Guaspari, entre eles o premiado syrah Vista da Serra (Foto: CNN Viagem & Gastronomia)

A vinícola investiu pesado em tecnologia e na técnica da poda invertida e vem colhendo resultados; além de uma safra ultra especial com apenas mil garrafas/ano, a linha “terroir” (vendida somente a um clube seleto de clientes), foi a primeira vinícola nacional a ter uma garrafa estampada na capa da prestigiada revista Decanter, o Syrah Vista da Serra 2017. Já o Syrah Vista do Chá 2016 teve uma ótima avaliação levando 91 pontos.

Dica: os meus favoritos da vinícola, que fiz questão de degustar em minha passagem por ali, são o Chardonnay – Vista do Lago 2018, o blend Cabernet Franc/Cabernet Sauvignon Vista da Mata 2015 e 2017, Syrah – Vista da Serra 2018 e o Sauvignon Blanc – Vista do Café 2018.

A sede da Guaspari também proporciona uma verdadeira imersão no enoturismo. Além da degustação dos vinhos e contemplação das paisagens, pode-se conhecer toda a propriedade ao lado de técnicos e ainda reservar um piquenique no gramado. Ótimo para terminar o dia na companhia de bons amigos, queijos e vinhos!

Distante 200 km da capital, a vinícola possui vistas incríveis para o entorno. As montanhas da Serra da Mantiqueira podem ser apreciadas de um dos vinhedos onde são plantados seis hectares da uva syrah. Uma outra paisagem igualmente encantadora é a Vista do Lago, voltada para um lago dentro da propriedade e cercado de palmeiras-das-canárias, onde há um vinhedo com cultivo de cabernet sauvignon e chardonnay.

Terra Nossa (Santo Antônio do Jardim/SP)

Degustação Daniela Filomeno Terra Nossa Vinhos
Daniela Filomeno degusta vinhos da Terra Nossa ao lado do enólogo Cristian Pulveda (Foto: CNN Viagem & Gastronomia)

A pequena cidade de Santo Antônio do Jardim, próxima a Espírito Santo do Pinhal, guarda a acolhedora Terra Nossa em meio a 1.100 metros de altitude. Nascida pelas mãos e pela vontade de cinco amigos-sócios amantes da bebida, o negócio começou com uma pequena produção de vinhos para a família e amigos. Entre eles estão o enólogo chileno Cristian Pulveda, que já passou pela Guaspari e faz consultoria para muitas vinícolas da região, e do paisagista Roberto Ferrari, responsável por inúmeras caves e seus jardins exuberantes.

O sol, o clima, a água e intervenção humana, além da proximidade com a face oeste da Serra da Mantiqueira, propiciam o desenvolvimento de parreirais de alta qualidade e uvas com altos teores de frutose. E assim nascem os ótimos vinhos da Terra Nossa, que, por enquanto, possui três produtos: um Syrah 100% e um Rosé de Syrah, ambos da linha Profano, que não passam por madeira; e um último produto premium, o Syrah Clássico, mais elaborado, de coloração vermelha intensa, taninos robustos e notas de pimenta preta e frutas negras. Diferente da linha Profano, o clássico fica entre 12 e 14 meses em barricas de carvalho francês e outros dois anos engarrafado.

Os três vinhos são de alta qualidade e possuem uma identidade irreprodutível em outros lugares. É um dos meus vinhos brasileiros favoritos, em especial o tinto. O bacana é que a Terra Nossa não tem a pretensão de ser grande, mas busca ser uma boutique de vinhos onde amigos compram o barril e asseguram uma produção personalizada, com os toques da região. Outra característica marcante é que, além dos próprios rótulos, a equipe presta consultoria a projetos iniciantes do mundo do vinho, passando um know-how para empreitadas até de outros estados. É quase como um “kit vinícola”: oferecem do paisagismo ao conhecimento de produção para quem tem o sonho do seu próprio terroir e suas garrafas.

Vinhos Maria Maria (Boa Esperança/MG)

Fundador da vinícola Maria Maria em meio às videiras
Fundador da Maria Maria em meio às videiras da fazenda Capetinga (Foto: CNN Viagem & Gastronomia)

A história da Maria Maria é curiosa: em 2006, Eduardo Junqueira Nogueira Junior, da quinta geração de uma tradicional família de cafeicultores do sul de Minas, sofreu um ataque cardíaco e precisou repensar seus hábitos alimentares. O médico receitou o seguinte: uma taça de vinho por dia. Assim, ele quis produzir o próprio vinho e, junto de Murillo Regina, inventor da poda invertida, viabilizou o projeto na Fazenda Capetinga, em Boa Esperança (MG).

Videiras de syrah foram plantadas no final de 2009, em que foram seguidos princípios de qualidade empregados nos cafezais e, assim, buscaram-se condições climáticas ideais para o amadurecimento e colheita das uvas durante o outono e o inverno do sudeste. A vinícola produz hoje quatro tipos de vinho: o tinto, branco, rosé e espumante, em que as principais uvas usadas são syrah, cabernet sauvignon, sauvignon blanc e chardonnay.

Vinhos Maria Maria
Sauvignon Blanc, Rosé e Syrah da Maria Maria (Foto: reprodução/Instagram)

Tanto carinho na produção na Mantiqueira levou a Maria Maria a angariar alguns prêmios internacionais. É o caso dos syrahs: o Gran Reserva Cristina Safra 2016 e o Diana Safra 2017 que levaram a medalha de recomendação e a medalha de prata no Decanter World Wine Awards 2019, respectivamente. O branco também não fica de fora: o Sauvignon Blanc Elis Safra 2018 levou a medalha de bronze na mesma edição do prêmio.

Como pode-se notar, cada vinho leva o nome de uma mulher ligada à família de Eduardo. Na primeira safra, os vinhos se chamaram Agda (syrah 2013), bisavó de Eduardo, Ada (branco 2013), tia avó de Eduardo e Anne (rosé 2013), sua cunhada. O nome Maria Maria também é inspirado na música do talentosíssimo Milton Nascimento, que é natural de Três Pontas, município bem próximo à fazenda onde são plantadas as uvas.

O interessante é reparar que a vinícola, que possui um dos melhores vinhos brasileiros, tem buscado ousar e buscar outras varietais, misturando-as e saindo da zona de conforto. Pode-se perceber isso na linha Gran Reserva, que mistura com maestria as uvas syrah e cabernet sauvignon, criando um vinho delicioso.

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Vinhos Primeira Estrada (Três Corações/MG)

Vinhos Primeira Estrada
Chardonnay e Syrah 2018 Primeira Estrada, vinhos da Vinícola Estrada Real, fundada por Murillo Regina (Foto: reprodução/Instagram)

O vinho Primeira Estrada é o grande pioneiro no uso da técnica da poda invertida em sua produção. O rótulo é desenvolvido na cidade mineira de Três Corações pela Vinícola Estrada Real, fundada em 2001 pelo próprio criador da técnica, Murillo Regina, e outros três sócios.

Pelas redes sociais, a vinícola anuncia que não engarrafa apenas vinhos, mas sim “paixão, seriedade e valorização do trabalho humano”. Tal devoção pode ser apreciada quando abre-se um dos seus vinhos – que exalam equilíbrio e frescor.

Chamados de vinhos de inverno, por conta da dupla poda, que já está consolidada pela região da Mantiqueira, os syrahs se destacam entre eles. A primeira safra, que ocorreu em 2010, resultou no Primeira Estrada Syrah 2010, produzido em uma altitude que varia de 900 a 1.000 metros e que possui cor escura, aromas de fruta negra madura, pimenta e tostado. Anunciando muito bem de onde o vinho vem, seu rótulo exibe a imagem da Igreja Matriz de Santo Antônio, em Tiradentes.

Tamanha seriedade e paixão pelo vinho levou a vinícola a receber o prêmio de melhor syrah em 2020 na competição Wines of Brazil Awards com o rótulo Primeira Estrada Syrah Gran Reserva 2018. O chardonnay da casa também conquistou a clientela, assim como o espumante Carvalho Branco, que possui edições limitadas.

Casa Verrone (Itobi/SP)

A Casa Verrone completa cinco anos da primeira produção neste ano, mas possui muito mais história do que isso. Pertinho de São José do Rio Pardo, a empreitada nasceu a partir da admiração por vinhos de Marcio Verrone, que se aventurou num curso voltado ao tema em 2000 e passou a viajar em busca de novas informações.

Após nove anos, foram plantadas as primeiras videiras na atraente propriedade em Itobi, modesto município de aproximadamente 7.800 habitantes. Após o sucesso inicial com a qualidade da produção, a área foi ampliada e, atualmente, soma cerca de 12 hectares plantados de videiras europeias.

Os brancos e o Gran Speciale são as minhas duas linhas de vinhos prediletas da casa. O Sauvignon Blanc possui aroma frutado, com destaque para o maracujá, e uma refrescância ímpar, assim como o Chardonnay, que lembra frutas brancas. Já o Gran Speciale vale a pena pelo custo-benefício, sendo um tinto de coloração vermelho rubi intenso, com um perfume inigualável. Inclusive, em safras passadas, os três vinhos já angariaram prêmios Brasil afora.

Novo espaço na Casa Verrone, com detalhes para o entorno envidraçado (Foto: reprodução/Instagram)

A produção é agraciada por uma amplitude térmica que promove o bom desenvolvimento das uvas: as máximas variam entre 25°C e 30°C durante o ano, e a média das mínimas cai para cerca de 10°C no inverno. O clima dali é amenizado pela localização geográfica do vale do Rio Pardo, entre as montanhas da Serra do Cervo – braço da Serra da Mantiqueira.

Para coroar a experiência, recentemente foi inaugurado um restaurante no local. Uma instalação envidraçada com um deck exterior que dá para uma linda vista para o verde da Mantiqueira e é perfeito para estimular a enogastronomia da região.

Por ali, é possível ainda fazer uma visita guiada com o próprio dono da vinícola, que explica todo o processo produtivo durante um gostoso passeio pelos vinhedos e pela adega.

Perdeu o programa? Confira na íntegra no nosso canal do YouTube:

*O programa CNN Viagem & Gastronomia vai ao ar todo sábado, às 21h, na CNN Brasil. A CNN está no canal 577 nas operadoras Claro/Net, Sky e Vivo. Para outras operadoras, veja aqui como assistir. Horários alternativos: domingo, às 03h50, 13h10 e 20h40; Segunda-feira, às 01h10. Ou veja a íntegra no nosso canal no Youtube.


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