Vinhedos se transformam em cenários de corridas esportivas pelo país

Corridas de rua extrapolam ambientes urbanos e são aliadas no fortalecimento do enoturismo e do turismo esportivo em vinícolas pelo Brasil

Saulo Tafarelodo Viagem & Gastronomia

Em certas datas do verão e do inverno, vinhedos espalhados pelo país ganham novos ares quando atletas tomam o lugar dos enólogos, transformando as vinícolas em palcos esportivos. Ao lado de uvas como Cabernet Franc, Malbec e Sauvignon Blanc, corredores disputam provas que podem variar dezenas de quilômetros em paisagens sedutoras que ladeiam os parreirais.

Esse tem sido o gostinho das corridas promovidas por vinícolas nas mais diferentes regiões do Brasil, seja no Sul e no Sudeste e até no Vale do São Francisco. Cada vez mais em alta, as corridas têm encontrado terreno também em ambientes inusitados, como em pistas de aeroportos e em vinhedos. Nas vinícolas, o turismo esportivo e o enoturismo aparecem de mãos dadas.

“Muitos conseguem sentir o cheiro da uva e estar ao lado dela. Essa experiência é muito rica para nós, já que conseguimos apresentar nossos produtos, falar um pouco dos vinhos e mostrar como é esse trabalho do plantio”, diz Luciana Coelho, gerente de marketing da Vinícola Góes, com sede em São Roque, no interior de São Paulo.

Neste último domingo (15), a vinícola realizou a 4ª edição de sua corrida, que atraiu cerca de 600 inscritos. São duas edições por ano: a Goés Wine Run Summer, no verão, entre janeiro e fevereiro, e a Goés Wine Run Winter, no inverno. “Casamos as corridas com as colheitas”, explica Luciana.

Vinhos são servidos apenas após a prova, com serviço de café em estilo brunch com bebidas alcoólicas, sucos e comidinhas.

Corridas em vinhedos: paisagens encantadoras

As corridas da Vinícola Goés têm largada no vinhedo experimental e passam por dentro da fazenda, com trajetos de 3 e 6 quilômetros. A maior parte do percurso ocorre ao lado dos vinhedos ou até no meio deles. O pontapé surgiu do CEO Claudio Goés.

“Ele queria mostrar cenários deslumbrantes que temos ao lado dos vinhedos, assim como aproveitar esse terreno para fazer a corrida e finalizar com degustação de vinhos”, conta a gerente de marketing. As inscrições do último evento tiveram valores a partir de R$ 150, mas por R$ 235 o atleta tinha direito ao brunch pós-prova, vendido também de forma avulsa.

Uma semana antes, em 8 de setembro, a 5ª edição da Corrida do Vinho levou 1.500 corredores de 15 estados brasileiros até a Vinícola Rio Sol, em Lagoa Grande, nas margens do Rio São Francisco, em Pernambuco.

“Aqui os atletas conseguem visualizar todas as etapas da uva. Como a água é controlada, é como se o atleta passasse por todas as estações do ano no percurso, desde o plantio da uva nos parreirais até o momento da produção, já próximo à fábrica”, afirma Natanael Pereira Barros, coordenador geral da Corrida do Vinho.

Com inscrições a partir de R$ 200, com direito a kit com camiseta, suco de uva e garrafa de vinho, o evento contou com 14 ônibus fretados para fazer os traslados dos visitantes desde Petrolina, a cidade polo mais próxima, até a vinícola. Após percorrerem trajetos de 6 e 12 quilômetros, os corredores aproveitaram o pós-evento regado a música, vinhos, chopes de vinho e frisantes.

“Não é só corrida, é um evento de entretenimento. Além de correr, os atletas vêm para curtir, conhecer a região e a produção de vinhos. São várias atividades envolvidas”, diz Natanael. Para 2025, a coordenação trabalha com a possibilidade de realizar duas “doses” da corrida.

Degustações no pós-prova

Atletas participam de corrida na Casa Perini, na Serra Gaúcha
Atletas participaram da 9ª edição do Vino Run da Casa Perini em meio a baixas temperaturas de julho na Serra Gaúcha • Divulgação/Casa Perini

Na Serra Gaúcha, a Casa Perini, com 80 hectares de vinhedos junto a paisagens que englobam igrejinha e araucárias em Farroupilha, lançou sua corrida no fim de 2014. A primeira edição juntou 400 corredores, mas a corrida mais recente, em 7 julho, registrou um recorde de 815 inscritos de 10 estados em meio a cenários pintados pelas baixas temperaturas.

Como um bom vinho, o evento atingiu certa maturidade. “Agora estamos na 9ª edição e inclusive abrimos uma nova corrida, a Vino Run Summer, de verão”, diz Franco Perini, presidente do Conselho Administrativo da Casa Perini. A próxima edição de verão, que ocorre no pôr do sol, já está marcada para 29 de março de 2025.

Além de estar envolvido nos negócios, Franco também é atleta e participou de todas as edições da corrida, que possui trajetos de 3, 6 e 10 quilômetros no coração do Vale Trentino, rota turística onde a vinícola está inserida.

“As pessoas começaram a ter conhecimento que eu era corredor. Então pensei: por que não conectamos as pessoas do vinho à corrida e as pessoas da corrida ao vinho?”, recorda o profissional. Segundo ele, o diferencial de participar de uma prova em uma vinícola começa logo na ambientação.

Não são muitas corridas que acontecem na Serra Gaúcha e a fotografia da nossa região é diferente. As pessoas correm praticamente todo o percurso admirando vinhedos

Franco Perini, presidente do Conselho Administrativo da Casa Perini

Para Franco, o ponto alto, porém, é o pós-prova, com degustação de massas e vinhos no inverno e de pizzas e espumantes no verão. A inscrição para o primeiro lote da 9ª edição saiu por R$ 249 com kit com camiseta, bolsa, manta, taça e opção com ou sem degustação.

Corridas na Serra

A edição mais recente da Vino Run serviu como um termômetro para a retomada do turismo na região, após as chuvas que assolaram o estado no começo do ano.

“O turismo regional está muito predisposto a se recuperar. Nessa corrida tivemos corredores de todo o Rio Grande do Sul, muitos de Santa Catarina e do Paraná. E, mesmo sem aeroporto principal, pessoas de 10 estados conseguiram se deslocar de alguma maneira até a Casa Perini”, conta Franco.

A Serra Gaúcha ainda é lar de outras corridas semelhantes, como a Maratona do Vinho, que faz parte da programação Bento em Vindima, que comemora a colheita em fevereiro. Desde a primeira largada, em 2008, já foram realizadas 10 edições – a última teve 1.800 inscritos e abrangeu parreirais em Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul e Garibaldi.

Corredores da maratona enfrentam 42,1 quilômetros, ou ainda 44 em revezamentos e 21 na meia maratona, mas há ainda a Corrida do Vinho, com 7 quilômetros. Todas as modalidades possuem paradinhas com produtos típicos da região e atrativos.

Para fechar o ano, está marcada para 9 de novembro a Wine Run Brasil – Caminhos de Pedra, que passará pelos municípios de Pinto Bandeira e Bento Gonçalves com percursos entre 10,5 e 21 quilômetros. A inscrição sai a partir de R$ 190 para etapa da caminhada. No fim, está prometida uma festa do espumante, com frutas, massas e com as almejadas borbulhas nos copos.

Cervejaria Stannis homenageia mulheres em rótulos premiados

Tópicos