Turismo regenerativo: nova forma de viajar oferece plantio de corais no Brasil

Entenda o que é e como funciona a prática que coloca a natureza no centro da viagem e reflete sobre impacto ambiental nos destinos

Gabriela Pivado Viagem & Gastronomia

Novas formas de viajar surgem o tempo inteiro, principalmente, em tempos de emergência climática. Uma dessas novidades é o turismo regenerativo, que pensa na sustentabilidade, no impacto ambiental nos destinos e oferece soluções como plantações de árvores, reconstrução de áreas devastadas e até plantio de corais no mar.

A CNN Viagem&Gastronomia consultou duas especialistas no tema para explicar melhor o que é, como funciona e a importância do turismo regenerativo — além de reunir dicas de passeios.

Como o próprio nome diz, de acordo com as especialistas, o turismo regenerativo propõe a “reconstrução do que já destruímos até agora“. “O turismo regenerativo é uma abordagem de pensar e fazer as viagens visando o impacto positivo nos destinos em que visitamos”, explica Ana Duék, influenciadora de turismo sustentável e fundadora do site Viajar Verde à CNN Viagem&Gastronomia.

O que é turismo regenerativo?

Com a filosofia do tema inspirada no conhecimento dos povos indígenas, o turismo regenerativo propõe que a sociedade aja além da sustentabilidade e pense — como o próprio nome diz — na regeneração do ecossistema, colocando a natureza no centro e no holofote das viagens. Pelo menos, é o que explica Ana Duék.

“Afinal, vemos claramente que, diante das grandes crises sistêmicas que estamos vivendo, sustentar já não é mais suficiente. Mas é importante sabermos que o Turismo Regenerativo não é um desdobramento do turismo sustentável. Pelo contrário: propõe novas maneiras de olharmos o mundo, baseadas no pensamento sistêmico, nos saberes ancestrais e da natureza e em um olhar cuidadoso para os destinos”, comenta a especialista.

Ana ainda acrescenta que o turismo regenerativo “não é apenas” reduzir o lixo ou viajar da mesma maneira. Para ela, é necessário mudar o olhar e a relação com a natureza. “Ela não está aqui para nos servir”, defende a influenciadora.

O turismo global contribui com 8% das emissões de gases com efeito estufa — em partes, devido aos meios de transporte, como a aviação, segundo a turismóloga Amanda Liara Selivon, da agência Ekoways, focada em turismo regenerativo. Ela explica que a importância da prática acompanha o esforço para minimizar o aquecimento global.

“Os setores-chave para a mitigação [do aquecimento global] incluem energia, transportes e gestão de resíduos. As estratégias abrangem aumento da reciclagem de resíduos, a melhoria do tratamento de efluentes, a utilização de resíduos para geração de energia sustentável e natural e a transição para sistemas de transporte sustentáveis e coletivos de qualidade também para redução da emissão de carbono”, diz à reportagem.

Turismo regenerativo, na prática: dicas de passeios

O turismo regenerativo defende que viajantes realizem atividades que beneficiem a natureza e seus territórios com a revitalização ambiental, fortalecimento cultural e equidade econômica. Exemplos desses hábitos são: banhos de florestas, plantio de árvores, voluntariados para a reconstrução de áreas devastadas e participação em projetos que protejam e preservem espécies, povos e culturas.

Os pequenos também podem participar dos passeios — só vale verificar a idade mínima para participar dos roteiros. “Importante demais ir familiarizando as crianças nesse contato com a natureza, principalmente as que vivem em cidade”, ressalta Ana.

As opções de passeios são variadas. Na Austrália, por exemplo, turistas podem plantar “bebês corais” para regenerar o ecossistema da região. Mas não é preciso ir tão longe para participar de uma experiência oceânica: na Biofábrica de Corais, em Porto de Galinhas, em Pernambuco, visitantes podem desenvolver mais consciência ambiental, adotar um coral ou até plantar a alga no mar.

Outro programa que oferece turismo regenerativo é o projeto Futuri, iniciativa da Conservação Internacional (CI-Brasil), no extremo sul da Bahia. Em 26 dias de viagem, o roteiro passa por trilhas ecológicas em Parques Nacionais, visitas às comunidades locais para vivenciar práticas tradicionais e avistamento de baleias jubartes (se a viagem ocorrer entre junho e outubro).

Amanda Liara Selivon também faz outras indicações de passeios à CNN Viagem&Gastronomia. Dentre as opções em outros territórios, ela sugere a Reserva Extrativista do Médio Juruá, no Amazonas.

“Esta reserva é um exemplo de como o turismo pode ser utilizado para apoiar as comunidades ribeirinhas. Os visitantes podem participar de atividades como a coleta de açaí e a pesca sustentável, contribuindo diretamente para a economia local“, explica ela à reportagem.

O turismo sustentável é uma tendência do mercado?

Apesar de ser uma prática relativamente recente, Ana não enxerga o turismo regenerativo como tendência devido às emergências globais. “Tendências normalmente vêm e passam. Acredito que [o turismo regenerativo] precise vir para ficar”, comentou.

O último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) sobre Mudanças Climáticas apontou que, mesmo se todos os países implementarem compromissos climáticos, não será possível manter o aquecimento global em 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais.

“Ou seja, precisamos agir urgente e fazer muito além. Por isso precisamos abraçar a ideia da regeneração”, completou Ana. “Precisamos que esse olhar regenerativo seja abraçado por todo o setor de turismo, governos, destinos, associações e viajantes, em todos os estilos de viagem e em todas as áreas”, finalizou.

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