Paris 2024: maratona com participação de amadores passará por pontos turísticos

Trajeto de 42.195km passará por pontos icônicos da Cidade Luz até Versalhes; atletas profissionais largarão pela manhã, enquanto os amadores começarão a prova à noite

Torre Eiffel, em Paris, é o ponto turístico pago mais visitado do mundo
Torre Eiffel, em Paris, é o ponto turístico pago mais visitado do mundo Unsplash

Daniela Caravaggido Viagem & Gastronomia

Os corredores de rua costumam dizer que não há melhor maneira para conhecer um lugar que não seja… “Correndo, é claro” (leia-se com a ênfase de uma resposta daqueles que nem pensam em outra alternativa)! Esses atletas são os que viajam o Brasil e o mundo sempre com um tênis na mala, seja para participarem de provas ou apenas para aproveitarem o tempo de lazer desbravando destinos da forma que mais amam: com o vento no rosto.

Agora, imagine a possibilidade de esses apaixonados pela corrida estarem em um dos maiores eventos esportivos do mundo, praticando sua modalidade preferida ao lado dos principais atletas em atividade. Além disso, pense que, como bônus, eles vão passar por pontos turísticos icônicos durante o trajeto, com direito a uma torcida vibrante a cada quilômetro.

Pois isso está mais perto do que muita gente imagina. O chamado turismo esportivo conquistará um feito histórico em 2024: pela primeira vez, uma maratona olímpica poderá ser disputada por atletas amadores. Essa modalidade lendária faz parte do programa desde os primeiros Jogos da era moderna, em 1896, em Atenas.

Paris, a cidade que sediará os Jogos Olímpicos neste ano, será o palco desse grande feito. O trajeto de 42.195km percorrerá ponto turísticos emblemáticos da cidade até Versalhes, no dia 10 de agosto.

Enquanto os 80 atletas profissionais da categoria masculina largarão pela manhã, os 20.024 amadores que participaram do processo de seleção e foram sorteados terão o gostinho de correr o mesmo percurso a partir das 21h do mesmo dia, no horário local – algo inédito na história das Olimpíadas. A largada das 80 atletas profissionais da categoria feminina acontecerá na manhã do dia seguinte, 11 de agosto, completando assim a festa.

O percurso

Museu do Louvre também fará parte do trajeto, que começará às 21h do dia 10 de agosto de 2024 para os corredores amadores / Unsplash

Paris realiza anualmente sua maratona em abril, aberta a corredores de todo o mundo mediante inscrição. No entanto, a maratona olímpica é um evento totalmente diferente e acontecerá em um trajeto distinto. O percurso será inspirado e homenageará um momento histórico da França: a Marcha das Mulheres a Versalhes, ocorrida em outubro de 1789.

A largada acontecerá no Hôtel de Ville, onde está localizada a prefeitura da cidade, e passará por nove distritos: Paris – Boulogne-Billancourt, Sèvres, Ville d’Avray, Versalhes, Viroflay, Chaville, Meudon, Issy-les-Moulineaux.

Pontos turísticos icônicos serão contemplados durante toda a prova. Museu do Louvre; Praça da Concórdia; Opéra Garnier; Castelo de Versalhes e, é claro, Torre Eiffel, fazem parte da rota, que pode ser visualizada de forma completa neste link disponibilizado pela organização.

Percurso completo da Maratona Olímpica de Paris foi divulgado pela organização do evento / Reprodução site oficial

Os brasileiros e a conquista da vaga

Desde 2021, os apaixonados por corrida e por maratonas têm sonhado com essa oportunidade histórica. Na última semana, os 20.024 atletas amadores que conseguiram suas vagas finalmente receberam os tão esperados e-mails de confirmação para o evento comemorativo. No entanto, para conquistarem seus espaços, tiveram de passar por processos diferentes dos que estão acostumados em outras maratonas pelo mundo.

Um desses processos foi a inscrição no aplicativo MTP (Marathon por tous), que propôs diversos desafios a serem cumpridos ao longo dos dois anos. “Corra 10km durante quatro vezes na semana” e “Complete tantos quilômetros em 30 dias” são apenas alguns exemplos das metas sugeridas. Aqueles que as cumpriram garantiram a chance de serem sorteados – o último sorteio ocorreu em 31 de dezembro de 2023.

Foi assim que a brasileira Mariana Marins, que reside há dois anos em Paris, conquistou sua vaga. Curiosamente, sua história com a corrida começou por causa da França, o país onde sempre sonhou em morar.

Em 2014, durante sua primeira estadia lá para estudar, enfrentou dificuldades com o idioma. Ao buscar uma vaga em uma academia, não conseguiu se comunicar com a atendente e, consequentemente, não se matriculou. Percebendo que teria que se virar sozinha para praticar algum esporte na cidade, escolheu a corrida devido à facilidade e pelo fato de não precisar de ninguém para incorporá-la à sua rotina.

Mariana mora em Paris há dois anos e tem o privilégio de treinar com vista para pontos especiais da cidade. Muitos deles farão parte do trajeto da Maratona Olímpica / Arquivo pessoal

“Comecei a explorar a cidade sozinha, traçando diferentes percursos e passando pelos principais pontos turísticos. Quando voltei ao Brasil, ingressei em uma assessoria de corrida para levar o esporte mais a sério. Em 2021, realizei o sonho de voltar a morar em Paris, e a cereja do bolo foi completar minha primeira maratona nesta cidade que tanto amo. No mesmo ano, a Organização dos Jogos começou a divulgar o aplicativo que garantiria a inscrição. Participei dos diferentes desafios propostos e tive o privilégio de ser sorteada em novembro de 2022. Meu namorado também conseguiu sua vaga em um dos eventos promovidos pela organização, e estamos muito empolgados. A cidade já está começando a respirar os jogos, com lojinhas, notícias e publicidade nas ruas”, conta Mariana, que decidiu experimentar um pouco do percurso durante um de seus treinos.

Mariana Marins correu sua primeira maratona em Paris, em 2021, e repetirá o feito em 2024, na maratona dos Jogos Olímpicos / Arquivo pessoal

“Não será nada fácil, mas será um momento histórico. Fiz uma parte do trajeto porque estava com medo das subidas e quis desmistificar um pouco isso. Vou correr para me divertir e não vou esquentar a cabeça com o tempo. Pretendo demorar de propósito para curtir as pessoas e o clima nas ruas. Me sinto honrada e agradecida por esta oportunidade. Correr uma maratona já é algo inexplicável, e representar o Brasil em uma Olimpíada é um sonho que nunca imaginei que fosse possível. Foi realmente um presente”, ressalta a corredora, que também aproveitará para prestigiar outras modalidades como espectadora.

Mariana Marins mora em Paris há dois anos; na foto, ela está no Hôtel De Ville, prefeitura de Paris, onde será dada a largada da maratona olímpica/ Arquivo pessoal

Amanda Sales, de João Pessoa, foi outra brasileira contemplada no sorteio. A médica, que já correu nove maratonas entre Brasil, Estados Unidos e Inglaterra, comemorará seu aniversário de 40 anos durante a prova, que deve se estender até depois da meia noite de 10 de agosto.

“Recebi o e-mail para finalizar a inscrição nesta semana e agora a ficha está caindo. Foi uma sensação parecida com ‘passei no vestibular’. Ao contrário de outras maratonas, não era possível comprar a participação; dependia apenas da sorte, e tive o privilégio de ser sorteada. A cidade já está com as reservas de hotéis praticamente lotadas; será um momento único. A competição nesta prova será comigo mesma. Não será uma corrida para bater recordes, mas sim para aproveitar e realizar um sonho. Vamos largar às 21h, e provavelmente estarei completando 40 anos correndo, com a torcida de toda a cidade, do meu marido e da minha filha”, conta ela, que faz parte de um grupo com mais de 50 brasileiros que conseguiram suas inscrições.

Amanda Sales já correu em nove maratonas pelo mundo e completará 40 anos correndo a prova olímpica de Paris / Arquivo pessoal

Os jogos ‘mais inclusivos da história’

Com o lema principal da inclusão, esta edição dos Jogos Olímpicos será histórica em diversos aspectos, com novas modalidades disputadas e incentivo maior da participação popular. A ambição da organização do Comitê Internacional de colocar atletas amadores para terem um gostinho do que é estar no clima olímpico está perto de se tornar realidade e a iniciativa é vista com entusiasmo pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).

“É um movimento global que tem buscado inovação no sentido de inclusão da participação de quem faz a festa, de quem roda a economia da cidade com o turismo, e de quem é responsável por trazer um brilho diferente. Os atletas de elite serão sempre os astros, mas a corrida de rua consegue promover essa sinergia de colocar corredores com objetivos diferentes no mesmo lugar. Uns vão buscar uma medalha olímpica, outros vão em busca de sua meta pessoal, podendo desfrutar de um museu a céu aberto que é Paris”, ressalta Cláudio Castilho, CEO da CBAt e chefe de equipe nos Jogos Olímpicos de Paris.

Para a maratona dos Jogos Olímpicos, o Brasil tem direito a três vagas masculinas e três femininas na elite, que são garantidas por índice fixado pela World Athletics. O único brasileiro confirmado até o momento é o atleta Daniel Ferreira do Nascimento, que conseguiu sua classificação na Maratona de Hamburgo em 2023 correndo o percurso em 2h07min06seg. Outros atletas ainda podem se classificar até maio.

“Essa iniciativa do Comitê Olímpico Internacional vem como uma nova forma de enxergar o movimento e o espírito olímpico, com um olhar cada vez mais voltado para a inclusão. Haverá também uma prova de 10km justamente com o objetivo de tentar agregar todos os apaixonados pela corrida, mas que ainda não conseguem correr uma maratona. No total, mais de 40 mil pessoas participarão da festa. Outro reforço no sentido de agregar a maior quantidade de pessoas será o formato inédito da cerimônia de abertura, que acontecerá no Rio Sena, podendo atrair mais pessoas para acompanhar os desfiles. Vai ser histórico e abrirá uma fase de participação popular que acredito que venha para ficar”, completa.

Uma outra curiosidade que reforça a pauta sobre inclusão é que o número de vagas para homens e mulheres amadores são iguais: exatamente metade para cada gênero. A organização promete ainda surpresas durante o trajeto, como bandas e apresentações musicais, mas mais do que isso, espera que o momento seja inesquecível para todos que terão essa oportunidade única.

As dicas finais 

Marcos Paulo Reis, fundador da assessoria de corrida MPR, também sabe muito bem o que é viver um clima olímpico. Técnico de triathlon da Seleção Brasileira na olimpíada de Sidney, em 2000, e na de Atenas, em 2004, vê com empolgação e privilégio dos alunos de sua equipe garantindo a participação no evento.

A maratona acontecerá em um mês atípico, no auge do verão europeu, e a largada às 21h requer alguns cuidados, mas a dica principal do treinador é: aproveitem cada segundo!

“Colocar o esporte mais praticado hoje no mundo dentro dos jogos olímpicos é um acerto do Comitê Organizador. Quem estiver nesta edição especial realizará o sonho de participar do maior evento do esporte mundial fazendo parte desta festa toda. É um momento histórico para o mundo da corrida. Minha expectativa é que estes atletas voltem cheio de histórias para contar e aproveitem o trajeto. Todos estarão com a emoção a flor da pele. É preciso ter cuidado com a hidratação e encarar da sua forma a prova, dentro de uma super estrutura que será disponibilizada”, finaliza.