Das celebrações ao dia a dia: os espumantes são as melhores opções
Bebida que sempre foi associada a datas festivas acelera em vendas e ganha protagonismo na mesa dos brasileiros
Já começo essa conversa dizendo que achei prudente antecipar o tema para outubro, para não cairmos no clichê de falar de espumantes somente no final do ano, quando se intensificam as celebrações. Sim, as borbulhas são mais democráticas do que ousamos imaginar, e merecem estar na nossa taça o ano todo.
Os números trazem certo otimismo, já que a venda de espumantes vem crescendo nos últimos anos. Se considerarmos a comercialização da bebida produzida no Rio Grande do Sul, o ano de 2021 teve quase 40% de aumento em relação a 2020, segundo a Uvibra, União Brasileira de Vitivinicultura. E, para não atribuirmos esse crescimento somente à pandemia, em uma comparação com 2017 – considerado um ano bom pela Uvibra – o aumento foi de 74%.
Ainda assim, seu consumo é mais concentrado nos meses festivos, e o porquê disso remonta a alguns séculos na história.
Bebendo estrelas
A descoberta do espumante é comumente atribuída à Dom Pérignon, um monge beneditino e estudioso de vinho da região de Reims, nordeste da França. O feito teria sido um acaso: os vinhos muitas vezes apresentavam uma efervescência natural, que era tida como defeito. Enquanto realizava experimentos para contornar o que parecia ser um problema, Pérignon teria provado um desses vinhos e se encantado com o que descobriu. Diz a lenda que foi aí que soltou a icônica frase: “Estou bebendo estrelas”.
Verdade ou não, o “pop” ficou por muito tempo restrito ao delicioso som da rolha espocando, já que, de popular mesmo, a bebida não tinha nada. O champagne era considerado bebida de prestígio e luxo, constantemente usado nas celebrações nos suntuosos palácios da realeza francesa.
Borbulhas para todos os gostos e bolsos
Os anos e novas técnicas de vinificação e envase permitiram que o Champagne fosse não somente distribuído como também reproduzido em todo o mundo. Aqui vale lembrar que “Champagne” é uma Denominação de Origem Controlada e só pode ser atribuída a vinhos espumantes produzidos na província homônima da França. Nas demais regiões devem ser chamados de “espumantes”, apenas.
O mercado não tardou em diversificar os estilos para atender a demanda crescente. O método de elaboração tradicional francês, também conhecido como Champenoise, começou a dividir a cena com novos processos, como o Charmat. No primeiro, a segunda fermentação acontece dentro da garrafa; no segundo, em tanques de inox, o que barateia o custo de produção.
Mais acessíveis, mais consumidores passaram a desfrutar das borbulhas dos espumantes. Além da diversificação do custo, os variados níveis de açúcar que resultam da vinificação – classificados como nature, extra-brut, brut, seco, meio seco e doce – acabaram por democratizar a bebida.
A cara do Brasil
Se estamos falando de uma bebida leve, fresca e versátil, estamos falando de uma combinação perfeita para a pluralidade cultural – e gastronômica – do Brasil. Une-se a isso a qualidade crescente dos espumantes produzidos aqui. Segundo a Uvibra, em 2021, 303 das 414 medalhas obtidas por vinhos brasileiros foram para espumantes.
Muito desenvolvimento tem sido feito no setor e novidades não param de chegar. Um bom exemplo é o espumante Névoa das Encantadas da Chandon que mistura diferentes métodos de elaboração. Trata-se de um vinho curioso, que muda seu perfil aromático se exposto à luz e chega à taça mais ou menos turvo a depender da inclinação da garrafa enquanto a bebida é servida, já que não passa por filtragem das leveduras.
O ineditismo do produto recém lançado é mais um passo largo na direção de atrair mais enófilos e, quem sabe, posicionar o espumante muito em breve como preferência nacional.
Sobre Pri Matta
Priscilla é jornalista, sommelière e idealizadora do perfil @deondevinho no Instagram. Ela deixa claro que por lá não fala sobre vinhos, mas sobre momentos. É que o vinho está em todos!