Cidade do Cabo é deliciosa porta de entrada para sabores e vinhos sul-africanos

Tour pela culinária local inclui parada em restaurantes tradicionais e visita a vinícolas dos arredores, que nos recebem em fazendas com o melhor do vinho e da hospitalidade

Daniela Filomenodo Viagem & Gastronomia

A Cidade do Cabo pode ser definida como uma capital onde os sabores são resultado de uma potente reunião de culturas e povos. É um destino que mistura ricamente sotaques e ingredientes, onde o tradicional e o contemporâneo se encontram à mesa, tudo regado a muito vinho – e dos bons.

Para a 8ª temporada do CNN Viagem & Gastronomia, percorri alguns dos marcos históricos e cartões-postais mais especiais da cidade, como a inigualável Table Mountain, a sedutora praia de Camps Bay, o interessante museu Zeitz Mocaa e o imperdível porto V&A.

Mas não deixei de lado as descobertas gastronômicas: além de restaurantes e bares requintados, com o melhor da gastronomia contemporânea da África do Sul, me deliciei em endereços mais tradicionais, daqueles que exaltam a cultura local e nos dão um gostinho de acolhimento.

Os vinhos não ficaram de fora, já que regiões produtoras pelas redondezas estão entre as mais interessantes do mundo. Degustações, cozinhas “do campo à mesa” e acomodações com cara de fazenda fazem parte do pacote.

Em busca dos sabores tradicionais

Especiarias como pimenta e cominho e o uso do fogo são alguns dos ingredientes e técnicas presentes entre uma garfada e outra, em que refletem as muitas fusões que o país incorporou.

Logo, sair às ruas da Cidade do Cabo atrás de pratos tradicionais é uma jornada saborosa, melhor ainda quando feita junto da equipe do Belmond Mount Nelson, eleito o Melhor Hotel da África em 2024 e que possui um programa culinário que transcende as suas portas. Uma kombi rosa do hotel nos leva a uma excursão culinária pela cidade com o propósito de entendermos melhor sua comida.

“A comida da Cidade do Cabo pode ser definida como eclética. É um pouco disso, um pouco daquilo e um pouco de amor no meio. É uma mistura completa. Por isso temos essa incrível e vibrante cozinha”, conta Anita Hermanus, minha guia durante o passeio.

Uma das primeiras paradas foi no bairro de Bo-Kaap, tida como a mais antiga área residencial da África do Sul. Por aqui, temos uma introdução do que compõe a culinária local, inclusive entrando na casa de moradores.

É o caso do projeto Cooking With Love, de Faldelah Tolker, que dá aulas de culinária para visitantes em sua casa. Ela me ensinou a fazer e a rechear samosas, especialidade indiana e paquistanesa. Com isso, Faldelah nos dá pitadas sobre o que é a cozinha “Cape Malay”, que mistura tradições africanas com as dos malaios e indonésios.

Assim, gengibre, erva-doce, anis estrelado, tamarindo e açafrão dão vida e aroma a ensopados, assados ​​e curries.

Para o almoço, vale a parada no Seven Colours Eatery, na região do porto de V&A. É aqui que Nolukhanyo Dube-Cele, a dona do pedaço, põe à mesa comidas e bebidas autênticas da África do Sul. Ela evoca as reuniões familiares dos domingos, feitas geralmente após a igreja, com pratos da matriarca da família.

Aqui, experimentei um prato clássico do país, o Amagwinya, que é, resumidamente, um bolinho frito servido com geleia, queijo ou manteiga. Na casa, a receita chega com carne moída.

Para finalizar o giro gastronômico, nada melhor do que um cafezinho. Na Cidade do Cabo há um lugar inusitado: o Heaven Coffee Shop, que fica dentro de uma igreja de 1878. As mesinhas ficam tanto dentro da construção quanto na calçada e, segundo o dono Mondli Mahamba, o local é uma maneira das pessoas se conectarem por meio do café.

Ele me contou que foi aqui que buscou refúgio em tempos sombrios, quando chegou a morar nas ruas da cidade. A igreja virou acolhimento, o que, por sua vez, virou um negócio, já que começou a servir a café para pessoas da comunidade. O resto é história – e uma experiência fora do comum.

Roteiro por vinícolas sul-africanas

Daniela Filomeno na vinícola Klein Constantia, na África do Sul
África do Sul é grande produtora de vinhos brancos, com a Chenin Blanc entre as variedades mais plantadas • CNN Viagem & Gastronomia

A África do Sul possui vinícolas e vinhos respeitados no mundo todo. O interessante é que dos 87.848 hectares de videiras do país, 55% correspondem a variedades brancas e 45% a variedades tintas. No cenário mundial, a África do Sul ocupa o sétimo lugar na produção geral de vinho, segundo dados da Wines of South Africa.

A Chenin Blanc é a uva branca mais plantada, enquanto a Cabernet Sauvignon lidera entre as tintas. E algumas das melhores vinícolas estão nos arredores da Cidade do Cabo, que formam uma rota do vinho fascinante.

Entre elas se destacam propriedades no distrito de Constantia, uma das mais conhecidas e próximas, e também nas cidades de Stellenbosch, Franschhoek e Paarl. A seguir, conheça duas vinícolas que valem a visita:

Klein Constantia

A Klein Constantia, no distrito de Constantia, a cerca de 40 minutos da Cidade do Cabo, é considerada a vinícola comercial mais antiga do Hemisfério Sul, com uma história que se desenvolve desde 1685. Atualmente, ela aparece no 41º lugar entre as 50 melhores vinícolas do mundo.

O cenário da propriedade também ajuda a suspirarmos, em que o passeio de carro pela vinícola é um bom começo. Alan Wickstrom, guia do local, conta que, em razão das condições climáticas, a Sauvignon Blanc é a casta mais plantada por aqui.

Os vinhedos atingem entre 70 e 343 metros de altitude, e as encostas mais altas são as mais frias, graças ao número limitado de horas de sol e à brisa constante do oceano.

Na vinícola, fiz degustações, abertas ao público, e, dentre os destaques, experimentei um espumante de alto padrão, o Blanc de Blancs, 100% Chardonnay. As visitas ocorrem de maneira individual ou em grupo de até oito pessoas, com degustações que vão de 250 randes (R$ 83) a 1.000 (R$ 333), por pessoa.

Um bistrô também está à disposição, com menus de ingredientes sazonais e de origem local, onde a culinária sul-africana ganha influências europeias – tudo acompanhado dos vinhos da casa.

Babylonstoren

Imagine que a vinícola é apenas uma das partes de uma propriedade que abrange hotel, spa, restaurantes, fazenda de 200 hectares e jardim, tudo isso em meio ao verde do vale viticultor entre Paarl e Franschhoek. Assim é a Babylonstoren, muito famosa por sua gastronomia e hospitalidade, que leva acolhimento e o conceito do “campo à mesa” ao pé da letra.

A lista do que fazer aqui é enorme, mas destaco a visita a fazenda, programa ideal ao lado das crianças, com vinhas, oliveiras e plantação de chás; a excursão pelo jardim, um verdadeiro oásis com uma coleção de plantas da África do Sul e possibilidade de pegar goiaba direto do pé; e, claro, as degustações, que envolvem visita à adega e comidinhas que potencializam os vinhos. A entrada no local sai por 150 randes, cerca de R$ 50, com gratuidade para menores de 18 anos.

Por falar nos vinhos, são 94 hectares de vinha, com 13 variedades de uvas – Pinot Noir e Chardonnay ficam mais ao alto, a 600 metros de altitude. Elas podem ser provadas também em um dos três restaurantes, Babel, Greenhouse e Old Bakery. Não importa a escolha: a colheita do dia sempre está à nossa disposição, com legumes e frutas diretamente da horta.

De manhã até a noite, as opções são uma primazia. Supervisionado pelo chef Schalk Vlok, o café da manhã é um dos mais lindos que já vi, com uma simplicidade que dá protagonismo às matérias-primas, sem muita intervenção. Aqui, menos é mais.

As surpresas não param por aí, já que o hotel é como uma casa de fazenda elevada a um requinte delicioso. As acomodações são dispostas em um casarão e em chalés rústicos, com abertura total aos jardins.

Minha experiência foi finalizada com um “wine safari”, em que, a bordo de um veículo adaptado, subi no vale e me deparei com um banquete no cair da tarde. Lá em cima, com vistas de tirar o fôlego para as colinas, celebrei a viagem à África do Sul com um espumante da região.

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