Atacama: o fascínio dos gêiseres e o Vale dos Cactos no deserto
Nas redondezas de San Pedro de Atacama, a força da natureza se revela por meio de lagoas de sal, erupções d'água em gêiseres e trilhas cheias de cactos que nasceram há séculos
O Deserto do Atacama é uma terra de extremos. E essa é uma das mais fascinantes razões para se definir o roteiro pela região, já que gêiseres, rios, vale de cactos e temperaturas que partem abaixo de zero e vão a mais de 30°C em um mesmo dia são atrativos especiais neste que é um dos lugares mais áridos da Terra.
No norte do Chile, o Atacama é daqueles destinos que nos faz querer voltar, seja para vivenciar outros passeios ou mesmo para termos um outro olhar sobre a mesma região. Foi com essa mentalidade que retornei ao deserto para abrir a 8ª temporada do CNN Viagem & Gastronomia.
Vale lembrar que, com tantos cenários e excursões plurais, o Atacama não ganhou apenas um, mas dois episódios. Se no primeiro programa percorri alguns atrativos não tão óbvios, como a Laguna Negra, o Vallecito e a Confluência do Rio Salado, o segundo vai além, em que mostro algumas peculiaridades nas redondezas de San Pedro de Atacama.
Montando o roteiro
Para começar, é um erro achar que o deserto é completamente inóspito: rios que cortam a aridez, resultantes do degelo dos Andes, nos entregam paisagens interessantíssimas, incluindo diferentes espécies de plantas.
Também entram na conta as lagoas dos salares, provenientes da evaporação da água em regiões de alta salinidade e de clima extremamente seco, que atraem vida animal pelos seus microrganismos.
Um outro erro é ignorar o centrinho de San Pedro de Atacama, a principal base dos viajantes que chegam ao deserto. Devemos dedicar pelo menos uma tarde e noite às suas ruazinhas de terra, que concentram restaurantes, bares e vendinhas de souvenir e de produtos típicos.
Por fim, minha dica é fazer quantos tours astronômicos achar necessário, já que a contemplação das estrelas é uma das belezas mais impactantes do Atacama. Quando cai a noite, milhares de pontinhos brancos se revelam no céu límpido, ocasionando momentos de reflexão.
Isso só é possível por conta de uma combinação de fatores: não há poluição, não há interferência luminosa de grandes centros urbanos, o clima é seco e estamos em altas altitudes. O espetáculo, inclusive, tem atiçado a curiosidade dos viajantes mundo afora, sendo até uma das tendências de viagem para o ano que vem.
O roteiro também é melhor aproveitado quando levantamos cedo e partimos para algum passeio logo pela manhã, em que a própria estrada já se revela uma atração à parte. Alguns dos atrativos mais especiais e não tão óbvios podem ser conferidos nesta matéria, mas compartilho mais atividades abaixo que devem constar em seu itinerário:
Gêiseres de Tatio: força da natureza
A bacia geotérmica de Tatio fica a cerca de 90 km ao norte de San Pedro de Atacama e é o lar para os Gêiseres de Tatio, uma das atrações mais fantásticas do deserto. A atividade geotérmica mostra toda a sua força quando a água entra em erupção, criando cortinas de fumaça na paisagem.
A melhor maneira de aproveitar toda essa beleza é realizar o passeio muito cedo, período em que as temperaturas podem ser congelantes. Mas o esforço vale a pena: somos testemunhas de um espetáculo que envolve vapores e o nascer do sol atrás do vulcão.
“No deserto, a hora mais fria é no nascer do sol. Isso acontece pela falta de umidade na atmosfera. A temperatura começa a subir somente quando o sol aparece, o que esquenta a atmosfera, fazendo com que as forças das fumaças vão embora”, diz Rodolfo Yhetro, guia de turismo local.
E como os gêiseres são formados? “Os aquíferos debaixo da terra começam a esquentar com a rocha quente, mas uma série de rochas impermeáveis impedem que a água chegue na superfície. A água vai fervendo e acha uma camada permeável, criando canais de saída”, explica Rodolfo.
Depois de apreciarmos o show, é comum que o café da manhã ser servido pelas redondezas, com direito a paisagens acima dos quatro mil metros de altitude.
Vale dos Cactos: paisagem fora da curva
Não muito longe de San Pedro de Atacama fica mais uma surpresa não tão conhecida: o Vale dos Cactos, também chamado de Guatín. É uma paisagem completamente diferente, nos entregando uma visão mais bucólica do Atacama.
Aqui, várias trilhas nos levam a diferentes pontos do vale, que se abre para paisagens incríveis pontuadas por cactos ao lado de um cânion. O Rio Guatín também passa por aqui, resultante do degelo da Cordilheira, e cria condições ideais para que os cactos floresçam.
Com a altitude, que passa dos três mil metros, e a evaporação da água, os cactos crescem de um a três centímetros por ano. Ou seja: cactos de um metro foram formados ao longo de cerca de 100 anos. Ao longo da caminhada, avistamos alguns que chegam a ter oito metros, o que nos indica que estão aqui há mais ou menos 800 anos.
Ao lado de um guia, o bacana é também cruzar o cânion para chegarmos a uma cachoeira, onde podemos nos banhar. Porém, a água é tão gelada que só de colocarmos os pés já nos sentimos mais energizados.
Como o passeio é feito geralmente durante a tarde, também é possível subir no mirante para apreciar o pôr do sol, um dos mais lindos que vi na vida.
Salar do Atacama
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Flamingo procura alimento na Lagoa Chaxa, na região do Salar do Atacama • CNN Viagem & Gastronomia
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Flamingos são atração da lagoa e dão show de beleza em voos pelo deserto • CNN Viagem & Gastronomia
Com cerca de 100 km de extensão, o Salar do Atacama é como um oásis em pleno deserto onde os animais chegam logo pela manhã para beber água e se alimentar.
Tido como um dos maiores desertos de sal do mundo, é com certeza um dos locais mais impressionantes do Atacama. A planície de sal é formada pela evaporação de lagos salgados, em que a água evaporou ao longo de milhares de anos e deixou uma crosta de sal à vista.
Hoje, ainda há certas lagoas na região, como a Laguna Chaxa, famosa por atrair flamingos esbeltos. Tem explicação: a água reúne microrganismos que são a base da alimentação destes animais. Parte da Reserva Nacional Los Flamencos, ela fica a cerca de 56 km ao sul de San Pedro de Atacama
São três tipos de flamingos que ficam exibindo sua beleza pelas águas e, de vez em quando, levantam voo em bandos, espetáculo ainda mais bonito no entardecer.
Hospedagem: Nayara Alto Atacama
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Spa do Nayara Alto Atacama incorpora técnicas ancestrais e ervas regionais no menu de experiências • CNN Viagem & Gastronomia
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Vista aérea do Nayara Alto Atacama, situado fora da cidade de San Pedro de Atacama • CNN Viagem & Gastronomia
Após alguns dias no Awasi Atacama, hotel boutique de apenas 12 acomodações em San Pedro de Atacama, decidi experimentar um outro tipo de hospedagem, desta vez fora da cidadezinha. O Nayara Alto Atacama foi a minha segunda casa no deserto e já me impressionou logo de cara: o hotel abraça a paisagem ao redor e mistura-se a ela, criando uma atmosfera sem igual.
São 42 suítes, com tamanhos a partir de 50 m², que possuem varandas com vistas espetaculares diretamente para a Garganta do Diabo, no Vale do Catarpe. O hotel fica praticamente posicionado em frente ao vale, em uma grandiosa área sem vizinhos.
A sensação é a de fazermos uma verdadeira imersão no deserto, onde até o pôr do sol é um programa fascinante. Atividades desenhadas ao lado de guias para descobrir os arredores são oferecidas durante a estadia e experiências sob medida também podem ser solicitadas.
O Nayara Alto Atacama, parte do Nayara Resorts, que também possui propriedades na Costa Rica e na Ilha de Páscoa, promove ainda uma viagem pela comida chilena a partir de produtores locais. Um menu degustação é servido com o melhor da região, incluindo preparos com a rica-rica, ingrediente que era usado como remédio, mas que ganhou os pratos e os copos do país.
Se desejarmos, vinhos também estão entre as opções de harmonizações, incluindo os da vinícola Ayllu, feitos no deserto, em condições extremas, com vinhedos acima dos 2.500 metros e sujeitos a estresse hídrico e grande amplitude térmica. O resultado? Vinhos minerais e marcantes.
Após os passeios, nada melhor do que relaxarmos no spa, um dos pontos altos do hotel, que incorpora técnicas ancestrais e ervas regionais para compor o menu de experiências. Há pelo menos meia dúzia de piscinas espalhadas pelo hotel e, no fim do dia, podemos experimentar um churrasco ao ar livre com diversos cortes de carne, milho e batata.
Antes de dormir, não se esqueça de olhar para cima. O Nayara Alto Atacama oferece uma estrutura com telescópio profissional para que possamos observar o céu noturno, mais um bem-vindo momento para nos deslumbrarmos com as belezas que o deserto nos proporciona.
Rosell Boher: o restaurante com vista para a Cordilheira dos Andes