Atacama: deserto tem cenários plurais que vão de dunas a lagoas termais
Paisagens são dominadas por majestosos vulcões, salares e cânions, mas nem tudo é inóspito: passeios fora do óbvio, hotel luxuoso com tudo incluso e tour astronômico também revelam o melhor da região
No norte do Chile, o Deserto do Atacama é uma das raras regiões do mundo onde podemos fingir estar em outro planeta. Com seus 105 mil km², o deserto é frequentemente comparado à superfície de Marte por conta de suas paisagens áridas, atmosfera mística e impressionantes formações geológicas.
É neste cenário que dou o pontapé inicial na 8ª temporada do CNN Viagem & Gastronomia, que estreia no dia 16 de novembro. Com tantos cenários plurais, que abrangem vulcões, cânions, montanhas, salares (desertos de sal) e, por incrível que pareça, uma vida animal e vegetal variada, o Atacama foi palco não de um, mas de dois episódios.
Em sintonia com a essência do CNN Viagem & Gastronomia, desta vez decidi elaborar um roteiro um pouco diferente. As Lagunas Altiplanicas e o Valle de la Luna, por exemplo, são passeios tradicionais e devem constar em sua programação, mas há outros pontos pelas redondezas que também valem a pena. É isso que mostro mais abaixo.
Preparativos para o Atacama
Viajar ao Atacama é se deparar com um destino exigente: as altitudes partem de 2,4 mil e chegam a 5 mil metros. A amplitude térmica varia muito, com temperaturas que podem ser negativas na madrugada e passar dos 30ºC durante a tarde.
Além disso, o Atacama é considerado o lugar não polar mais seco do mundo, em que devemos estar preparados. Protetor solar, hidratantes, roupas adequadas e garrafa d’água são obrigatórias na bagagem – o interessante é que este deserto é daqueles lugares em que o biquíni e o casaco dividem lugar na mala.
É importante optar por roupas confortáveis e esportivas, assim como dar preferência para botas e tênis impermeáveis. Jaquetas corta-vento também são um trunfo entre as peças. Devemos estar bem agasalhados pela manhã, mas o comum é ir tirando as camadas de roupa ao longo do dia, vestindo-as de volta ao anoitecer.
Lembre-se que o Atacama pode ser visitado ao longo do ano todo, mas o verão e o inverno merecem atenção. O verão tem temperaturas mais altas e dias mais longos; já o inverno tem temperaturas baixas mais severas, mas é ideal para a observação do céu.
Para chegar ao Atacama, a rota mais comum para nós brasileiros é pegar um voo até Santiago, capital do Chile, e fazer uma conexão ao aeroporto de Calama. Daqui, levamos cerca de 1h30 até San Pedro de Atacama, a base mais popular no deserto.
A cidadezinha é muito simples e possui um centrinho que concentra a estrutura necessária: hotéis, restaurantes, farmácia e casas de câmbio.
As agências de viagem também estão por aqui e são elas que organizam os passeios pelas redondezas, com pacotes em grupo ou privados. Muitas delas também oferecem café da manhã, almoço e café da tarde entre um atrativo e outro, tudo em meio às paisagens surpreendentes do deserto.
Atrativos espetaculares
Rota dos Salares e Reserva Nacional Los Flamencos
A Rota dos Salares nos leva a uma contemplação aos mais incríveis cenários do Atacama. Na ida, o bacana é tomar um café da manhã aos pés do Licancabur, vulcão inativo que é um dos mais imponentes da região. A paisagem é de tirar o fôlego, literalmente, e a refeição pode ser organizada com a agência ou com o hotel.
A rota é lar da Reserva Nacional Los Flamencos, que, entre os atrativos, tem como destaque os Monjes de la Pacana, que são como esculturas naturais de pedra.
Na verdade, estas formações rochosas têm este nome por conta da aparência que lembra a silhueta de monges. Os pilares finos e altos foram esculpidos ao longo de milhões de anos pela ação do vento, da chuva e da neve.
Como em outros pontos do Atacama, estas rochas são tidas como sagradas, sendo as guardiãs da região.
Laguna Negra
Dentro da Reserva Los Flamencos também há as Salinas Calientes, que descansam em uma cratera vulcânica. Aqui, águas termais brotam do solo e fazem um lindo contraponto à paisagem desértica.
Nesta zona fica a Laguna Negra, uma das mais cativantes lagoas do deserto, mas ainda pouco visitada. Suas cores escuras chamam a atenção de longe, aspecto que é decorrente dos muitos minerais presentes na água. O local também é lar de microrganismos, os quais servem de alimento para aves migratórias.
Portanto, nada de nos banharmos nestas águas: o setor é protegido para salvaguardar a fauna e a flora locais. Nos resta contemplar e nos impressionar com toda esta beleza.
Vallecito e minas de sal
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Daniela Filomeno ao lado da guia no Vallecito, rota alternativa ao Valle de la Luna • CNN Viagem & Gastronomia
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Ônibus abandonado no meio do deserto virou atrativo entre as minas de sal • CNN Viagem & Gastronomia
A uma curta distância do centro de San Pedro de Atacama, o Valle de la Luna é um dos passeios mais conhecidos do deserto. Ele reúne formações rochosas esculpidas ao longo de milhões de anos que proporcionam um cenário lunar ou até similar a Marte, com direito a dunas de areia e montanhas salinas.
Mas uma rota alternativa é o Vallecito, igualmente estonteante, mas menos turístico, em que, muitas vezes, ficamos sozinhos no trajeto, sem outros viajantes à vista. O Vallecito é uma continuação da Cordilheira de Sal e o programa aqui é caminhar entre as suas paisagens, que são moldadas pela erosão da água da chuva – imagine quanto tempo a natureza não levou para moldá-las!
Por aqui fica também as minas de sal. A história é interessante: reza a lenda que um ônibus que levava mineiros quebrou no caminho e foi deixado no meio do deserto. Hoje, o antigo veículo virou parte da paisagem, como um ponto turístico.
Caminhei pelo Vallecito e pelas minas de sal pela manhã, em que o almoço culminou ao lado da Piedra de la Coca, uma formação rochosa de importância histórica, já que ela possui marcas das pessoas que passaram por aqui entre 2.000 a.C e 500 a.C.Gravuras na rocha são parte do testemunho dos indivíduos que aqui andaram um dia.
Confluência do Rio Salado
Engana-se quem pensa que não há água no deserto. Um dos passeios menos conhecidos do Atacama é a “Confluência dos dois rios“, local em que o Rio Grande se junta com o Rio Salado e forma o Rio San Pedro, que chega até a cidade.
Aqui, a atividade principal também é a caminhada entre os paredões e o caminho do rio, em que bastões e sapatos impermeáveis nos ajudam na tarefa.
O bacana é saber que cinzas vulcânicas decorrentes do fluxo piroclástico – as mesmas que destruíram e cobriram Pompeia – se depositaram no cânion e acabam dando o tom dos paredões. É uma aula de geologia a céu aberto, com vistas estonteantes em uma trilha refrescante.
Tour Astronômico
Uma viagem ao Atacama não fica completa sem olharmos para cima: é durante a noite que o céu ganha incontáveis estrelas e nos causa um fascínio sem igual. O céu do Atacama é um dos mais propícios no mundo para que observemos constelações, planetas, estrelas cadentes e até satélites a olho nu.
Isso só é possível por conta de uma combinação de fatores: não há poluição, não há interferência luminosa de grandes centros urbanos, o clima é seco e estamos em altas altitudes. O resultado é um céu arrebatador com bilhões de pontinhos.
A dica é optar por tours que sejam fora da cidade, um pouco afastados, para que a experiência seja mais completa e para que tenhamos uma verdadeira aula de astronomia. As agências de viagens e os hotéis podem ajudar na tarefa de escolher a melhor das excursões.
Hospedagem: Awasi Atacama
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Awasi possui apenas 12 acomodações, a maioria com 65 m² e pátio externo • CNN Viagem & Gastronomia
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Daniela Filomeno degusta vinhos chilenos no jantar do Awasi Atacama • CNN Viagem & Gastronomia
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Hotel conta com piscina externa e áreas comuns pontuadas por jardins nativos • CNN Viagem & Gastronomia
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Em San Pedro de Atacama, o Awasi Atacama foi minha casa durante os primeiros dias de aventura. A escolha não poderia ser mais certeira: o hotel é um Relais & Châteaux, o que significa que ele proporciona estadias íntimas regadas a uma excelente gastronomia.
São apenas 12 acomodações, a maioria de 65 m², as quais são casinhas de adobe, que seguem a arquitetura regional. Dentro, encontramos móveis rústicos e toques sofisticados, como pátio externo para noites estreladas e banheira. O hotel é all-inclusive: todas as refeições, bebidas, traslados e até algumas excursões estão dentro da estadia.
Os passeios mais fora do óbvio que realizei foram organizados pelo hotel, com experiências sob medida e carros 4×4 com guia próprio.
O restaurante também merece destaque, já que, do café da manhã ao jantar, os cardápios podem mudar diariamente, nos presenteando com um mergulho pela cozinha local, com milho e batatas nativos, assim como frutos do mar do Pacífico. Degustações de vinhos do Chile também podem ser feitas e são programa perfeito para terminar o dia brindando as maravilhas do Atacama.
Rosell Boher: o restaurante com vista para a Cordilheira dos Andes