Alta coquetelaria autoral do Mykola Lab Bar traz ousadia para Curitiba
Bar de drinques na capital paranaense investe em experiências intensas para os clientes, indo na contramão da atmosfera relaxante da maior parte dos estabelecimentos do ramo
O Mykola não é para pessoas mornas, para pessoas que passam pela vida sem ansiar por grandes emoções. O Mykola foi criado para impactar.
O proprietário Alieksey Machinsky, de 32 anos, trouxe essa dramaticidade do teatro, sua formação original, para o endereço na capital paranaense. Iniciou a transição de carreira em 2016, quando foi para a Irlanda estudar coquetelaria na EBS (European Bar School) de Dublin, e depois para a Escócia, onde teve contato com o whisky escocês na Scotch Whisky Experience de Edimburgo.
O ingrediente virou uma paixão, e, após ter estudado na Springbank Whisky School, em Campbeltown, na Escócia, passou a ser também a sua especialidade.
O drinque Tokyo Godfather (R$ 40), que leva licor de umeshu, whisky defumado e calda de ameixa, é um dos inúmeros frutos dessa predileção pelo destilado. O drinque, frutado e “esfumaçado”, está na atual carta de inverno. O nome foi uma brincadeira com o anime “Tokyo Godfathers”. Por ser uma releitura do coquetel Godfather, não poderia haver nome mais apropriado.
Alieksey afirma que o Mykola, apesar de ter o nome de seu bisavô, imigrante ucraniano, é extremamente brasileiro, e ingredientes como a cachaça, presente em todas as cartas desde a abertura do bar, em 2019, o jambu e a jurubeba, costumam brilhar. Por que não fazer um Manhattan de cachaça, vermute de goiaba e bitter de chá mate?
O drinque Rabo de Galo (R$ 35), que na versão do Mykola leva cachaça de amburana jurubeba e Ramazzotti Rosatto, é uma das especialidades da casa, inclusive. Em 2022, Alieksey conquistou o terceiro lugar do campeonato de Rabo de Galo do Sul do Brasil, e Leo Oliva, de 26 anos, também bartender da casa, conquistou o quinto lugar.
Barista desde 2017, Leo Oliva pretende trazer para o Mykola a junção do barismo com a coquetelaria. Atualmente, a carta tem o drinque Cascaracello (R$ 30), que leva limoncello, gin, tônica, casca de limão siciliano, casca de laranja e cáscara de café. Um Gin & Tonic próprio para o inverno.
[cnn_galeria active=”false” id_galeria=”120168″ title_galeria=”Drinques Mykola Lab Bar, em Curitiba”/]
As cartas de inverno costumam trazer receitas clássicas, normalmente pouco conhecidas, repaginadas. Já as cartas de verão são mais autorais, com um conceito amarrando todas as criações.
Na carta do verão de 2022/23, por exemplo, todos os coquetéis se basearam em lendas e mitos de criação da primavera e estações do ano ao redor do mundo. Havia drinque com ingredientes tradicionais africanos, do leste europeu, tupi-guarani, indiano, japonês, entre outros. A ideia foi buscar ingredientes e técnicas que pudessem traduzir ou simbolizar estas lendas e mitos.
A fantasia e o lúdico aparecem também na apresentação de drinques como o Stinger (R$ 45), que leva brandy, licor de menta + mel, infusão de chá moruno e capim limão. Amadeirado, doce e mentolado, um chá gelado para os dias frios. Acompanha bolacha com geleia de hortelã, e é servido em uma lindíssima xícara, ao melhor estilo Alice no País das Maravilhas.
O processo de criação dos drinques é coletivo, e a equipe toda participa da pesquisa de ingredientes e da lapidação da versão final do drinque. Quase tudo é feito no bar, desde as frutas e legumes desidratados, utilizados em drinques como o viciante Mai Tai Punch (R$ 35), que leva rum branco, triple sec, água de flor de laranjeira, leite de amêndoas, abacaxi e laranja, clarificado com leite integral e finalizado com uma maria-mole, até o gelo próprio para drinques.
O Mykola adora retrabalhar coquetéis “decadentes”, pegar uma receita démodé, que entrou para a infame lista de receitas deselegantes, e a trazer de volta aos holofotes. Trocar um ingrediente ou outro, mudar uma técnica, e de repente o “guilty pleasure” de algumas pessoas não precisa mais ser “guilty”.
[cnn_galeria active=”false” id_galeria=”120169″ title_galeria=”Bartenders Mykola Lab Bar, em Curitiba”/]
Há ainda o grande amor pelos Bloody Marys. Segundo Alieksey, existe uma pequena parcela da população que gosta de Bloody Mary, mas esta parcela é muito carente de lugares com boas receitas. O Mykola verdadeiramente sente a dor destas pessoas e tenta tornar a vida delas mais agradável, trazendo obrigatoriamente uma receita nova por carta.
A atual, criação do bartender Matheus Azevedo, leva água de tomate, vodka, chipotle, mel e raiz forte, tudo isso sem o corpo denso. O resultado? Um cachorro-quente líquido, no melhor sentido que essa definição possa ter. Umami, ácido e temperado. Não conseguiu imaginar? Corra para provar, pois em outubro será lançada a nova carta de verão.
Ao serem perguntados sobre como enxergam o atual panorama da coquetelaria curitibana, Alieksey e Leo Oliva são unânimes em dizer que não gostariam de estar em nenhum outro lugar do Brasil além daqui. E eu não poderia concordar mais. Diferente de outras áreas da gastronomia, em que ainda precisamos apressar o passo para alcançar as grandes capitais, a coquetelaria curitibana brilha, e se consolidou em uma posição de destaque nacional.
Mykola Lab Bar: Rua Visconde do Rio Branco, 1087 – Centro, Curitiba – PR / Tel.: (41) 99507-0199 / Horário de funcionamento: segunda, quarta, quinta, sexta e sábado, das 19h à 1h (última entrada à 0h); e domingo, das 19h às 23h (última entrada às 22h) / Reservas pelo link.
*Os textos publicados pelos Insiders e Colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do CNN Viagem & Gastronomia.
Sobre Caroline Grimm
Curitibana, médica de formação e gastrônoma de coração, Caroline Grimm também é criadora de conteúdo e acumula milhares de seguidores nas redes sociais. Como ela mesma descreve, vive para cozinhar, comer, beber e viajar – não necessariamente nesta ordem, mas sempre em busca das melhores experiências.