Rio de Janeiro em SP: bares e restaurantes cariocas ‘invadem’ a capital paulista

Com direito a chopp garotinho e outras 'carioquices', estabelecimentos consagrados no Rio desembarcam em São Paulo

Daniela Caravaggido Viagem & Gastronomia , São Paulo, SP

Biscoito ou bolacha? Lanche ou sanduíche? Pizza com ou sem ketchup? E colarinho no chopp? É bem-vindo? As “rixas” idiomáticas e diferenças clássicas em costumes gastronômicos entre cariocas e paulistas de fato existem, mas servem como uma grande brincadeira entre moradores das capitais, que têm a comida como uma das grandes paixões em comum.

São Paulo e Rio de Janeiro reúnem excelentes opções quando o assunto é gastronomia. Os estilos de vida completamente distintos, porém, impactam diretamente nos perfis de bares e restaurantes de cada uma delas.

Conhecida pela vida boêmia, a Cidade Maravilhosa abriga verdadeiros patrimônios quando o assunto é um chopp gelado, com uma comida simples e bem feita. “Se for para um almoço “pós-praia”, então, melhor ainda que dá pra ir direto de chinelo!”, frase clássica dos cariocas.

Arroz de brócolis, feijão preto, galeto, carnes na brasa e bolinhos de diferentes sabores são presenças constantes nos cardápios estabelecimentos por lá. E a notícia boa para os paulistanos que adoram a vibe carioca é que tradicionais casas da cidade têm hoje suas unidades em São Paulo. Está certo que eles ficam devendo no quesito sol e praia, mas a comida saborosa e cerveja gelada são por conta “da casa”.

Botecos e empreendimentos cariocas em São Paulo

Esse “intercâmbio” entre São Paulo e Rio acontece já há alguns anos. Muitos estabelecimentos como o Lapa 40 graus, que marcou época em ambas as cidades, já foram fechados; outros seguem na moda.

Boteco Belmonte

Comandando a leva mais recente a aterrizar na Terra da Garoa está o Boteco Belmonte. Fundado no Rio em 1952 por Seu Antônio, dono também do centenário Amarelinho, o bar abriu as portas de uma unidade na Vila Madalena em maio de 2021.

“Sempre tivemos muitos clientes paulistas e há tempos estava com essa vontade. Queria atender este público, que é diferente em alguns aspectos. Um deles é a formalidade”, aponta o proprietário.

“Aqui no Rio o pessoal vem de chinelo, sem hora marcada, de segunda a segunda. Lá, o movimento começa a pegar a partir de quinta-feira e os clientes gostam de fazer reserva prévia. Foi uma aposta muito certa. É uma cidade que tem dinheiro circulando e que todo mundo quer estar”, completa.

Famosos empadas do Belmonte que circulam pelo salão / Reprodução Instagram Belmonte

Quem for ao local, encontrará os famosos salgados que são passados de mesa em mesa, junto com os chopps – que são servidos também na versão “garotinho”, no copo menor, um pedido clássico dos cariocas.

Pastel e empadas são os que mais fazem sucesso. Para beber, o famoso “coquinho” – um shot feito com uma receita “secreta” que leva vodka – já é marca registrada do local. Seu Antônio destaca que 90% dos clientes são paulistas. “Muitos já nos conheciam, outros são novos que fizeram o caminho inverso e sempre que estão no Rio passam por lá”, completa.

Boteco Belmonte: Rua Girassol, 384 – Vila Madalena, São Paulo/Telefone: (11) 94451-7195/Horário de funcionamento: diariamente, das 12h às 2h

Boteco Rainha

Já o chef Pedro de Artagão, à frente do Grupo Irajá, apostou na abertura de um de seus estabelecimentos mais queridos do Rio, o Boteco Rainha, no Itaim Bibi, agitado bairro paulistano. Conhecido por seu polvo no ponto perfeito, torresmo de barriga de porco bem suculento, entre outras delícias marcantes, ele era constantemente abordado por clientes que pediam sua abertura na cidade. O desejo tornou-se realidade em 2022.

“Sempre tivemos um relacionamento carinhoso com o público de São Paulo. Eu, pessoalmente, acho uma metrópole maravilhosa que não deixa a desejar para nada do mundo. Conforme fomos empreendendo e o grupo foi crescendo, começamos a nos deparar cada vez mais com argumentações de clientes que queriam que estivéssemos presentes por lá. Transformando nosso propósito de abrir portas para o maior número de pessoas possível, não tínhamos como não chegar na cidade. Unimos o útil ao agradável, abrindo cada mais o canal de consumo da boa gastronomia, agradando o público e realizando sonhos gastronômicos”, enfatiza.

Torresmo de Pedro de Artagão é uma dos aperitivos mais famosos do Rio e também desembarcou em São Paulo / Alexander Landau

Se fecharem os olhos, os clientes poderão ter por instantes a sensação de estarem sentados na esquina da Dias Ferreira, no Leblon. O sotaque inconfundível da forte comunidade carioca em São Paulo é presença certa, principalmente aos fins de semana. Parte dos funcionários também veio da matriz e garante que a experiência será fiel ao que é encontrado na Cidade Maravilhosa.

O Rainha, como é carinhosamente chamado, tem menu inspirado em bares portugueses e espanhóis, somado à cultura de botecos cariocas, principalmente no que era servido antigamente e que hoje em dia é pouco encontrado.

A decoração da versão paulistana segue a mesma a linha da carioca, com ladrilhos portugueses, prateleiras que remetem aos armazéns e lustres clássicos de botecos. O cardápio de ambas as cidades é 100% igual. Então, os frequentadores podem ficar tranquilos porque as famosas entradinhas da casa estarão por lá.

Se vai pela primeira vez, o imperdível torresmo de barriga é a sugestão para começar. Escabeche de sardinhas e sardinhas fritas; punheta de bacalhau; camarão VG à ramiro; croquete de lagosta; pastel de camarão, entre outras delícias figuram no menu, que também conta com pratos principais que servem de duas a três pessoas, como a frigideira de frutos do mar com vegetais no azeite; o arroz de pato e embutidos; o filé à francesa, entre outras opções.

O sucesso foi tanto que o chef está preparando a chegada de mais uma casa de seu grupo à cidade: o Galeto Rainha, que abrirá em julho.

Boteco Rainha: Rua Pedroso Alvarenga, 1181 – Itaim Bibi, São Paulo/Telefone: (11) 3168-5689/Horário de funcionamento: de segunda a sábado, das 11h30 às 23h; aos domingos das 11h30 às 18h.

Braca

Não muito longe dali, outro conterrâneo divide a área. O Braca, que completou um ano de funcionamento em fevereiro, tem como proposta homenagear o tradicional e “sessentão” bar Bracarense, considerado Patrimônio Cultural Carioca, concedido pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH). Localizada também no Itaim, a casa virou ponto de conexão, unindo samba, chopp gelado e clássicos petiscos encontrados na unidade do Rio.

Ambiente do Braca, no Itaim / RICARDO DANGELO

À frente do negócio estão os sócios, Kadu Tomé, que desde os 15 anos toca o empreendimento veterano de sua família, e Augusto Vianna, proprietário do premiado Esquina do Souza, em Perdizes. Dois boêmios, amigos e apaixonados pela cultura dos bares também resolveram unir o útil ao agradável. O investimento de abertura foi de cerca de R$ 1,2 milhão.

Por lá, logo na entrada dando boas-vindas aos clientes é possível notar a reprodução da calçada do Leblon, bairro onde fica localizado o bar Bracarense. No ambiente, as paredes ganham azulejos azuis com desenhos geométricos que fazem parte do projeto arquitetônico, onde também foram utilizados blocos de elemento vazado, os tão famosos cobogós. Ainda para carimbar o espaço, pisos de cacos dão um charme ao local. Além das cores da marca que foram fortemente empregadas e estão presentes em todo o bar.

“O Braca  traz no seu DNA a paixão pelos botequins, valorizando o clima informal e a camaradagem no atendimento, sempre respeitando a tradição. Tudo isso regado ao chope mais gelado das galáxias e acompanhado de petiscos cheios de maldade.”, brinca Kadu Tomé, que também destaca a diferença dos públicos.

“O paulistano se programa mais para sair e faz disso um evento muitas vezes, ao contrário do carioca, que está sempre de passagem e sem grandes programações antecipadas. Sai da praia, toma um chopp, come um bolinho no balcão e vida que segue. Como temos um público muito forte de Happy hour durante a semana, por ser uma área bem corporativa, estamos conseguindo pegar um público que também passa para um “pit stop” e depois segue para outras programações, além dos que chegam para somente sair quando o bar baixa as portas”, completa.

Já no cardápio, não podiam faltar os tradicionais bolinhos artesanais de camarão com aipim e requeijão, de bacalhau à la Dondon de Ramos, o de feijoada à la Katita, e o Bolinho de Carne da Tati. As empadinhas também estão presentes, como as fechadas de frango e camarão e também a aberta de camarão com catupiry.

Braca: Rua Dr. Renato Paes de Barros, 908 – Itaim Bibi – São Paulo/Telefone: (11) 3045-7913/Horário de funcionamento: segunda das 11h45 às 15h, de terça a sábado, das 11h45 às 23h30. Domingos e feriados, das 11h45 às 18h.

Gula Gula

Unidade do Gula Gula na Vila Nova Conceição fica próxima ao Parque do Ibirapuera, em São Paulo / Ligia Skowronski

Fugindo um pouco dos bares, uma marca carioca de 1984 também tem uma relação antiga com o São Paulo. O Gula Gula chegou pela primeira vez na cidade em 2002, na Rua Amauri. Após um hiato de quase 20 anos e ainda mais consolidado no Rio, voltou à capital paulista em novo cenário, mas claro, com o charme de sempre.

Em 2019, abriu as portas em uma linda construção centenária: o casarão Barão de Bocaina, próximo à avenida paulista. Com área aberta, rodeada de verde, e com diversas opções no cardápio que se encaixam em diferentes ocasiões, logo conquistou os paulistanos e abriu mais uma unidade, dessa vez na Vila Nova Conceição, onde funcionava o italiano Attimo per Quattro.

Lá, o cliente encontrará um lugar eclético, que serve desde pratos executivos durante a semana a opções à la carte, que aos fins de semana costumam ser acompanhadas por vinhos ou drinques da casa. Sanduíches, tapiocas, tortas e outras delícias são servidas durante todo o dia. O destaque vai para os mais pedidos, como a salada de batata frita (feita com batata palha produzida na própria casa), frango ao pesto e carne desfiada.

Gula Gula Jardim Paulista: Rua Padre João Manuel, 107 – Cerqueira César, São Paulo/Telefone: (11) 96284-6820/Horário de funcionamento: segunda a quarta-feira, das 12h às 22h; às quintas das 12h às 23h.

Gula Gula Vila Nova Conceição: Rua Diogo Jácome, 341 – Vila Nova Conceição, São Paulo/Telefone: (11) 99132-3075/Horário de funcionamento: segunda a quarta-feira, das 12h às 22h; às quintas das 12h às 23h.

Brownie do Luiz

Assim como o ‘Biscoito Globo’, o Brownie do Luiz também virou marca registrada do Rio de Janeiro. Assim que os turistas pisam nos aeroportos de Santos Dumont ou Galeão já encontram latinhas e unidades do brownie mais famoso da cidade à disposição. Por muito tempo, ele só era encontrado por lá.

A marca expandiu, o produto ganhou novos sabores e formatos, e desembarcou em São Paulo com duas lojas físicas, em Moema e na Vila Madalena, em 2019. Por lá, além de diferentes produtos à venda, os clientes encontraram mesinhas e opções de bebidas para acompanhar e degustarem as sobremesas ali mesmo.

Brownie do Luiz, que antes só era encontrado no Rio, expandiu marca e abriu lojas físicas em São Paulo / Reprodução Facebook

Brownie do Luiz Moema: Rua Inhambu, 397 – Moema, São Paulo/Telefone: (11) 2894-3213/Horário de funcionamento: segunda a quinta, das 8h às 18h; sábado das 9h às 17h.

Brownie do Luiz Vila Madalena: Rua Miguel Rodrigues, 35 – Vila Madalena, São Paulo/Telefone: (11) 2495-6074/Horário de funcionamento: de segunda a sexta, das 8h às 18h; sábados e domingos das 9h às 17h

Momo Gelato

Momo Gelateria abriu as portas nos Jardins, em São Paulo, no fim de 2022 / Guia Lessa

A Momo Gelato, uma das sorveterias mais famosas da Cidade Maravilhosa, abriu sua primeira unidade em São Paulo em dezembro de 2022. A rua escolhida foi a badalada Oscar Freire, no Jardins.

Com três andares, o primeiro deles é dividido com a Café com Fé, marca de cafeteria dos sócios que nasceu junto com a Momo. O segundo é onde os clientes podem ver os gelatos e os outros produtos da Café com Fé serem produzidos ao vivo num minilaboratório, em estilo aquário. O terceiro andar tem um rooftop para receber eventos ou uma experiência em aberto.

“Vamos entender o que o público em São Paulo quer a mais, queremos deixar livre nesse momento”, explicou Walter de Mattos, um dos sócios e criador da marca na época da abertura.

No cardápio da sorveteria, tudo é balanceado para ter muita intensidade de sabor e o mínimo de dulçor. Parte dos itens vêm da tradicional gelateria italiana, mas fazem parte do ranking de gelatos mais procurados pelo público as versões dos doces brasileiros, como a paçoca com pé de moleque (diet), o brigadetto (brigadeiro), a paglia italiana e até o de cuscuz, no período de festas juninas.

Momo Gelato: Rua Oscar Freire, 168 – Jardins / Horário de Funcionamento: de segunda a sexta, das 8h às 23h, e sábado e domingo, das 8h às 0h.

‘Intercâmbio’ também chega aos chefs

Os fãs da cozinha Claude Troisgros e Thomas Troisgros também não precisam mais pegar a ponte aérea para se deliciar com seus pratos. Após um intervalo de 26 anos, o chef francês (bem carioca) voltou sua marca a São Paulo em 2020 com o Chez Claude, que tem sua matriz no Leblon.

Os Troisgros apresentam à capital paulista um ambiente casual, com decoração aprimorada e serviço cuidadoso, sem excessos. A cozinha é aberta para o salão, sem nenhuma divisória, e os clientes que estão nas mesas ao redor podem acompanhar a dinâmica interna. Lá, a ideia é que o formalismo seja deixado de lado.

“O clima é para ser descontraído e tirar dos clientes a ideia de que, para se comer bem é preciso estar em um ambiente engessado. Queremos que as pessoas tenham uma experiência agradável e diferenciada em nossa casa”, enfatiza Thomas Troisgros, quem lidera a equipe da casa na capital paulista.

O menu, sucinto, foi elaborado com alguns pratos exclusivos no cardápio paulistano, como o Pudim de Agrião, Gorgonzola, Crisp de Mortadela, Vieiras com doce de leite, palmito pupunha e limão, Costela braseada por 5 horas, Aligot, Picles de Jiló confitado. Há também alguns pratos clássicos autorais já conhecidos e que foram mantidos, como o Ovo & Caviar Clarisse e Peixe com Banana, receita que está há mais de 20 anos presente nas casas de Claude.

Thomas também destaca a diferença entre os públicos, que acaba influenciando na dinâmica do restaurante.

“Os perfis do carioca e do paulista são bem diferentes e complementares. Os paulistas aproveitam muito os horários de almoço e jantar para fazer reunião, é uma cidade mais business oriented. Enquanto que o carioca é mais descontraído, além do forte turismo que a cidade tem o ano inteiro e que acaba ditando também o clima mais leve e alegre”, finaliza.

Thomas e Claude Troigrois trouxeram o Chez Claude, sucesso no Rio, para São Paulo em 2020 / Divulgação

Chez Claude: Rua Professor Tamandaré Toledo, 25 – Itaim Bibi/Telefone: (11) 3071-4228/Horário de funcionamento: segunda a sexta (no almoço), das 11h30 às 15h30; (no jantar) das 18h às 22h. Sábado (almoço) das 12h às 17h; (jantar) das 19h às 22h. Domingo, das 12h às 20h.

Confira lista com os melhores restaurantes de SP para conhecer em 2023


Tópicos