“O Urso”: conheça as cozinhas estreladas que formaram o protagonista

Com menus acima de R$ 1.800, restaurantes entre os melhores do mundo e seus respectivos chefs ganham destaque na terceira temporada da série

Saulo Tafarelodo Viagem & Gastronomia

Ganhadora de 10 prêmios Emmy, a série “O Urso” (“The Bear”, em inglês) mostrou a perseverança e os percalços do chef Carmy (Jeremy Allen White) para manter uma cozinha profissional em Chicago. Com a estreia da terceira temporada no Brasil nesta quarta-feira (17), a obra de ficção promete ir além ao apresentar mais sobre o passado do protagonista.

Isso fica claro já no primeiro episódio, que, durante cerca de meia hora, recapitula memórias em cozinhas que cimentaram a carreira — e os traumas — do chef. Pontuado por uma trilha sonora melancólica, o episódio exibe não somente os bastidores de alguns dos melhores restaurantes do mundo, mas também posiciona chefs de peso em frente às câmeras.

Ficção com toques da realidade

“A experiência foi tão crua e real quanto possível”, escreveu Daniel Boulud em suas redes sociais. Dono de mais de uma dezena de restaurantes mundo afora, principalmente em Nova York, o francês faz uma ponta ao personificar ele mesmo na telinha.

Thomas Keller, do três estrelas The French Laundry, fez o mesmo na série e ecoa a mensagem de Boulud. “Embora seja uma obra de ficção, ela encapsula muitos elementos da realidade como qualquer documentário poderia – a comunidade, a dinâmica, a beleza, as frustrações e as recompensas”, escreveu no Instagram.

Sem participação na obra, mas fã confesso da série, o chef Alex Atala diz que “O Urso” é como a “Game of Thrones das cozinhas”, em comparação ao sucesso que a série da HBO fez com os seguidores da saga de George R.R. Martin. À frente do duas estrelas D.O.M., o chef recebeu jornalistas no restaurante em razão da estreia da nova temporada e disse que muitas das cenas são exageradas em nome da dramaturgia, mas enxerga que ela é muito precisa em demonstrar “agonias e alegrias que a gente vive no dia a dia”.

Abaixo, confira os restaurantes estrelados da vida real que o personagem fictício Carmy trabalhou e os renomados chefs à frente das panelas:

  • Daniel (Nova York)

Aberto em 1993, o restaurante detém hoje duas estrelas Michelin e reside a poucos passos da Park Avenue. Um ano após a inauguração, o chef Daniel Boulud ganhou seu segundo prêmio James Beard pelo trabalho autoral na casa homônima.

Em “The Bear”, Boulud apresenta a Carmy sua receita de robalo com batatas, em que o protagonista corta os tubérculos e fatia perfeitamente o peixe. “As filmagens no restaurante para a terceira temporada foram feitas inteiramente ao natural — sem repetições nem truques”, contou Boulud em seu Instagram.

A cozinha do restaurante é francesa e serve menus sazonais. Atualmente, corre no salão um menu degustação de nove tempos por US$ 334 (cerca de R$ 1.815), que inclui atum bluefin da Nova Inglaterra e mousse de chocolate amargo boliviano. Há opção de harmonização por US$ 295 (R$ 1.600), com uma carta focada em vinhos do Ródano e da Borgonha.

O restaurante divide-se em bar, lounge, salão principal de arquitetura neoclássica para até 150 comensais — mesmo número de funcionários que fazem a magia acontecer — e uma “mesa do chef” vizinha ao escritório de Boulud com vista panorâmica da cozinha. A casa funciona nos jantares de quinta a domingo.

  • The French Laundry (Napa Valley)

Em Yountville, vila na famosa região vinícola de Napa Valley, na Califórnia, uma construção que já serviu como lavanderia a vapor na década de 1920 se transformou em um dos templos gastronômicos dos Estados Unidos nos anos 1990. O chef e proprietário Thomas Keller é o nome por trás do The French Laundry, que soma três estrelas Michelin, uma estrela verde, e um lugar entre os “melhores dos melhores” restaurantes do The World’s 50 Best Restaurants, ao lado de casas como Central e elBulli.

A cozinha emprega técnicas francesas para dar vida a pratos com ingredientes fresquíssimos, em que correm no salão dois menus degustação que mudam diariamente, o “Menu do Chef” e o “Sabor dos Vegetais”, em tradução livre. Aberto para o jantar nos sete dias da semana, o valor da experiência no salão principal sai por US$ 390 (cerca de R$ 2.115) por meio de reserva pré-paga.

Na ficção, Carmy estagiou no restaurante californiano, onde caminha pela horta e aprende a amarrar uma galinha sob os olhos de Keller, que faz ainda uma ponta no último episódio da temporada.

Vale lembrar que o chef não é novato no âmbito de grandes produções: ele também já foi consultor para a animação “Ratatouille”, da Pixar. Hoje está no comando de 11 restaurantes e padarias, incluindo o The Surf Club Restaurant, na Flórida, e é ganhador de nove prêmios James Beard.

  • Noma (Copenhague)

Para os amantes da gastronomia, o Noma continua carregando a alcunha de “melhor restaurante do mundo”, uma vez que entrou para a seleta lista de “melhores dos melhores” do World’s 50 Best Restaurants e ostenta três estrelas Michelin, além de uma estrela verde do guia.

Quem lidera a empreitada na capital dinamarquesa é o chef René Redzepi, que tem passagem pelas cozinhas do antigo elBulli, ao lado de Ferran Adrià, e do The French Laundry, junto de Thomas Keller. Expoente da nova culinária nórdica, Redzepi trabalha intimamente com a sazonalidade, com a coleta de matérias-primas selvagens e com a fermentação.

Aberto em 2003, o Noma serve, neste momento, um cardápio pautado na “Temporada dos Vegetais”, que segue em cartaz até 6 de setembro e que põe à mesa vegetais, verduras, frutas e alimentos silvestres. Todas as reservas para o período estão esgotadas, mas é possível contar com a sorte e colocar o nome na lista de espera. O menu sai por 3.990 coroas dinamarquesas (cerca de R$ 3.170), sem contar as harmonizações com sucos ou vinhos (entre R$ 1.200 e R$ 1.600 respectivamente).

A casa fechará definitivamente no fim deste ano, mas a boa notícia é que renascerá em 2025 como um “enorme laboratório”, com trabalhos voltados à inovação alimentar. O novo capítulo é apelidado de Noma 3.0.

Na série, Carmy espia René olhando imagens de pratos em uma parede e decide tirar uma foto para enviar ao irmão. O personagem também aparece na cozinha de testes ao lado de outros profissionais. “Nos divertimos muito recebendo todos vocês em nosso espaço em um fim de semana de verão perfeito em Copenhague e, entre outras coisas, ensinando Jeremy Allen White a como cortar corretamente um belo pedaço de lula”, publicou o perfil oficial do restaurante no Instagram.

Spoiler: mais chefs em cena

Atores em cena no segundo episódio da terceira temporada de "The Bear"
Jeremy Allen White (à direita), Ayo Edebiri e Ebon Moss-Bachrach como os personagens Carmy, Sydney e Richie na 3ª temporada de “O Urso” / Divulgação/FX

Não entraremos em muitos detalhes, mas o último episódio da temporada reúne um verdadeiro batalhão de chefs renomados para um jantar de despedida.

Entre os convidados estão: Grant Achatz, por trás do aclamado Alinea, de Chicago; Wylie Dufresne, do extinto wd~50, que balançou a cena gastronômica molecular de Manhattan; Christina Tosi, chef confeiteira com passagem no wd~50 e no Momofuku, em Nova York; Anna Posey, chef confeiteira e coproprietária do Elske, em Chicago; Rosio Sanchez, ex-chef confeiteira do Noma e hoje no comando de dois restaurantes em Copenhague; Malcolm Livingston 2º, chef confeiteiro com passagem no Per Se, wd~50 e no Noma (e que serviu de inspiração para o personagem Marcus, interpretado por Lionel Boyce); Will Guidara, restaurateur que foi o guru de hospitalidade do Eleven Madison Park ao lado do chef Daniel Humm; Genie Kwon, que já foi chef confeiteira do duas estrelas Oriole, em Chicago, e que hoje comanda o Kasama na cidade; e Kevin Boehm, restaurateur por trás do Boka Restaurant Group, com atuação em Chicago.

“O Urso”
Todos os 10 episódios da 3ª temporada estão disponíveis no Disney+.

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