Mergulhe nos marcantes sabores da culinária maranhense

Arredores do Parque Nacional, reconhecido como Patrimônio Mundial, são ponto de partida para apreciar receitas típicas do Maranhão cheias de tradições

Daniela Filomenodo Viagem & Gastronomia

Nosso Brasil é tão rico de sabor que é praticamente inviável definir com exatidão o que é a gastronomia brasileira. Ainda mais quando falamos do Nordeste, com tantos estados e culturas que resultam em combinações para lá de apetitosas, que se beneficiam com o que o sol, o sal do mar e o calor da terra nos dão de melhor.

Depois de percorrer diferentes pontos do Norte para digerir seus ingredientes e conhecimentos, a temporada especial CNN Viagem & Gastronomia: Sabores do Brasil desembarca no delicioso Nordeste para provar algumas de suas iguarias.

Diante de tantas maravilhas, sejam naturais ou históricas, nosso pequeno recorte começa no Maranhão, estado plural e caloroso que me ganhou desde o primeiro momento que pisei em Santo Amaro do Maranhão, município que é uma das portas de entrada para o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.

Foi neste cenário, entre dunas, lagoas, mangues e pores do sol arrebatadores, que conheci pequenos produtores e tive refeições regadas a carnes substanciosas, frutos do mar, farinha de mandioca e juçara, frutinho similar ao açaí.

Uma vez aqui, o arroz de cuxá e as caldeiradas de camarão, de sururu e de caranguejo também se tornam nomes comuns. Assim, te faço um convite: vamos degustar os sabores do Brasil comigo?

Lençóis Maranhenses e a Casa Oiá

Uma das melhores maneiras de mergulhar no mundo culinário do Maranhão é por meio de uma viagem aos Lençóis Maranhenses e arredores, a cerca de 250 km da capital São Luís.

Com 155 mil hectares, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses é o maior campo de dunas da América do Sul e foi reconhecido em julho do ano passado como um Patrimônio Mundial da Unesco, atestando seu caráter único cheio de beleza. É um enorme mosaico esculpido pelos ventos e pelo ciclo das águas, com grandes morros de areia e lagoas de água doce que são ora azuis, ora esverdeadas.

Aqui predomina o Cerrado, mas o cenário tem ainda uma forte influência da Caatinga e da Amazônia. O parque abrange três municípios: Barreirinhas, Primeira Cruz e Santo Amaro do Maranhão, este último onde descansa a OIÁ Casa Lençóis, coladinha às dunas e às lagoas.

O local se define como uma hospedaria, nos transmitindo um caráter de refúgio e de intimidade por meio das seis suítes, espalhadas entre a casa principal e os dois bangalôs – um terceiro chega ainda neste ano. A arquitetura rústica incorpora madeira, palha e paredes brancas, elevando o nível de aconchego.

A construção principal também abriga a área de convivência, com uma grande sala, ampla varanda e vários cantinhos, que conferem privacidade aos hóspedes, onde são servidas patinhas de caranguejo e caipirinhas.

A decoração utiliza mobiliários e peças de arte e design brasileiros a partir de uma pesquisa focada na região. De beleza simples, ao mesmo tempo contemporânea, a casa traduz bem a alma brasileira. O bom serviço, os passeios e o ventinho fresco em frente à vegetação nativa fazem toda a diferença. Despreocupação aqui é palavra de ordem.

Sabores maranhenses

Além do leque de experiências para desbravar os Lençóis, a OIÁ possui um programa gastronômico que nos entrega um gostinho das maravilhas da culinária maranhense, tudo pincelado com temperos culturais.

É um deleite acordar para o café da manhã e desfrutar a refeição aos pés de uma árvore frondosa. À mesa aparecem itens como cajuzinho doce e juçara no copinho.

É comum, inclusive, confundir a juçara com o açaí, já que são frutos de árvores diferentes, apesar de pertencerem à mesma família. Menor que o açaí, a juçara tem cor roxa mais clara e menos polpa, com sabor suave e adocicado.

Mais tarde, aos pés de outra árvore, desta vez decorada com fitas amarradas nos galhos em homenagem ao boi-bumbá, degustei um almoço riquíssimo em sabor e tradição.

Bem característico da região, o suculento carneiro ao leite de coco foi o prato principal, acompanhado de arroz de lentilha e farinha de mandioca. A farinha é um traço comum na mesa nordestina, mas o interessante é que ela pode mudar de acordo com o estado. Também é fonte de renda e identidade cultural no Norte, como nas comunidades ribeirinhas ao longo do Rio Negro.

A farinha de mandioca muda muito de região para região. Aqui, temos uma farinha puba, bem grossa, que faz parte da dieta do maranhense desde o café da manhã até o jantar.

Jéssica Ambrósio, chef da OIÁ Casa Lençóis

Para brindar o dia, nada mais incrível do que jantar nas dunas ao som de músicos locais. Além de toda a emoção, consagrada pela paisagem, os sabores se destacam no paladar. Para começar, o pão caseiro com alecrim chuchado no azeite parece simples, mas é delicioso.

De prato principal, o camarão tigre acompanhado de uma bela salada asiática me surpreendeu e, ao mesmo tempo, me fez refletir no quanto adicionamos diferentes culturas e vivências em um único prato. O camarão carnudo, combinado com um vinho branco, foi o brinde perfeito para finalizar o dia – e despertar novas experiências à mesa.

De prato principal, o camarão tigre acompanhado de uma bela salada asiática me surpreendeu e, ao mesmo tempo, me fez refletir sobre como diferentes culturas e vivências podem se encontrar em um único prato. O camarão carnudo, combinado com um vinho branco, foi o brinde perfeito para finalizar o dia – e despertar novas experiências à mesa.”

As catadoras de sarnambi

Saber a procedência do que comemos é fundamental para mudarmos a relação com o alimento. E em Santo Amaro há uma experiência que une as duas coisas: gastronomia e turismo de base comunitária.

O município abraça a Travosa, comunidade de marisqueiras que sobrevivem da coleta do sarnambi, pequeno molusco abundante nos mangues da região que é o ganha-pão das famílias lideradas pelas catadoras.

A ideia é sair à caça dos moluscos no meio do mangue para prepará-los para o almoço. Junto com as catadoras, coloquei a mão na terra, mexi na lama, encontrei os moluscos e presenciei a força dessas mulheres. É transformador. A refeição ganha outro tempero quando cavamos a terra e colhemos aquilo que será o prato principal.

À mesa, o sarnambi pode incorporar diferentes receitas, como o sarnambi ensopado, feito com leite de coco e acompanhado de uma salada tradicional (confira passo a passo aqui), ou ainda a moqueca de sarnambi com azeite de dendê.

Além dele, o almoço na Toca da Guaaja, restaurante na comunidade que serve pratos com ingredientes frescos, conta com uma porção de patinhas de caranguejo e peixe na brasa, indispensáveis na cozinha maranhense. O melhor? Tudo regado a doses de tiquira, aguardente de mandioca que é a cara do Maranhão.

“Montei a destilaria aqui no Maranhão para preservar a cultura e a tradição da tiquira. Ela foi há pouco tempo intitulada patrimônio do estado”, diz Margot Stinglwagner, uma das embaixadoras da bebida e nome por trás da Toca do Guaaja.

Mais delicada que a cachaça, sem o teor adocicado, a tiquira cai bem com a suavidade do sarnambi e revela técnicas e tradições ancestrais com a mandioca, raiz que sintetiza bem o Brasil por conta de sua versatilidade e legado.

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