Fazenda no Rio de Janeiro une viagem ao passado do café à produção orgânica do presente
No Vale do Café, Fazenda Alliança recebe com aconchego e resgata seu potencial produtivo - mas desta vez colocando em prática importantes princípios agroecológicos
![](https://preprod.cnnbrasil.com.br/viagemegastronomia/wp-content/uploads/sites/5/2021/08/Daniela-Filomeno-Fazenda-Allianca-e1653402762239.jpg?w=1200&h=674&crop=1)
O engenho de beneficiamento, a tulha e o grande terreiro de pedra logo em frente ao casarão principal revelam que a Fazenda Alliança é intimamente ligada à produção cafeeira. Uso o tempo verbal no presente pois a história se repete: mais de um século depois dos tempos áureos do café, na segunda metade do século 19, a fazenda resgatou suas origens e estabeleceu-se novamente como uma propriedade produtiva, agora certificada e orgânica no século 21.
Localizada em Barra do Piraí, uma das 15 cidades que fazem parte do Vale do Café, no sul do estado do Rio de Janeiro, a fazenda histórica data de 1863 e chegou a pertencer ao 3º Barão de Rio Bonito. 158 anos depois, a Alliança pode ser vista como uma aula de história e agroecologia: o sistema original de transporte e separação dos grãos, que inclui o terreiro de secagem e a tulha de armazenamento, continua preservado enquanto o local torna-se uma referência na produção orgânica.
![terreiro fazenda allianca](https://viagemegastronomia.preprod.cnnbrasil.com.br/wp-content/uploads/sites/5/2021/09/patio-fazenda-allianca.jpg?w=900)
Passando por vários donos ao longo do tempo, a fazenda foi adquirida em 2007 por Josefina Durini, que restaurou o local e implantou uma produção sustentável de leite orgânico de búfala, café especial, horta e pomares orgânicos. De origem argentina, ela chegou a comandar uma galeria de arte em Londres, em que sua personalidade é refletida na decoração: a arquitetura neoclássica e os objetos do casarão de 1863 mesclam móveis de jacarandá com peças da China, Vietnã, Tailândia e Marrocos.
Foi a partir de 2018 que Bruno e Irene Donati, amigos de Josefina e casal anfitrião que recebe os visitantes com ópera e de maneira alegre e superdivertida, “convenceu” a dona a abrir as portas para hóspedes além de seus amigos. Os apenas oito quartos da casa – sete suítes duplas e uma simples – são destinados a grupos fechados de até 15 pessoas, que podem experimentar uma hospedagem mais personalizada. Os aposentos seguem o estilo dos outros cômodos, com uma decoração rústica, quadros e móveis em madeira.
Ao contrário de outras fazendas da região, a casa da Fazenda Alliança é enxuta por não ser originalmente voltada à moradia, mas sim para a produção e a venda do café. A fachada da sede abriga uma varanda de fora a fora – ótima para apreciar um cafezinho à tarde – e tem visão para a alameda de palmeiras imperiais que fica na entrada da propriedade.
Produção orgânica
É interessante notar como o passado influencia o presente na Alliança: nos tempos áureos do café, a fazenda foi reconhecida internacionalmente pela qualidade dos grãos, que eram minuciosamente escolhidos e beneficiados. Atualmente, a propriedade de 300 hectares consegue equilibrar de maneira única o legado histórico com princípios agroecológicos, nos lembrando que é possível sim ter uma relação mais generosa e sustentável com a terra.
Exemplos disso são os pioneirismos que Josefina implementou na fazenda: a Alliança foi precursora na produção de leite de búfalas no Vale do Café, as quais produzem o leite usado nos deliciosos queijos frescos e outros lácteos, e tomou a dianteira na produção de café orgânico certificado – o único na região.
![Daniela Filomeno Cafe Fazenda Allianca](https://viagemegastronomia.preprod.cnnbrasil.com.br/wp-content/uploads/sites/5/2021/09/Daniela-Filomeno-Cafe-Fazenda-Allianca.jpg?w=900)
O trabalho no cafezal é como um ritual especial que remonta a um pedaço da história do Brasil. A colheita é toda feita à mão e somente os frutos maduros são retirados dos pés, que são plantados na sombra de árvores da Mata Atlântica – 43% dela está preservada nas imediações da fazenda. Assim, todo esse carinho pode ser degustado no Café Durini, que leva o sobrenome da dona e é produzido em pequenas quantidades.
E a produtividade não para por aí! Podemos ainda presenciar a criação de carneiros e a plantação de uma grande variedade de legumes, verduras e frutas que, assim como o café, são cultivados sem agrotóxicos. No total, a horta e os pomares somam mais de 100 produtos diferentes. Interessante é que a fazenda mantém o plantio e a pesquisa de PANCS (plantas alimentícias não convencionais), fazendo um resgate desta produção que nos ajuda a diversificar a alimentação – quem nunca experimentou peixinho-da-horta não sabe o que está perdendo!
Falando em sustentabilidade, a casa, inclusive, foi restaurada por Josefina a partir da reutilização de diversos materiais já existentes ali. Arquiteta por formação, ela comandou o projeto que utilizou materiais reciclados de pet, telhas de reciclado de TetraPak e bambus do próprio local.
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Iguarias frescas
![iguarias produzidas na fazenda allianca](https://viagemegastronomia.preprod.cnnbrasil.com.br/wp-content/uploads/sites/5/2021/09/iguarias-produzidas-na-fazenda-allianca.jpg?w=900)
E é claro que todo esse trabalho voltado à autossustentabilidade resultaria em iguarias frescas e deliciosas com o que vem da própria terra. À tarde, nada melhor do que se sentar à mesa da cozinha e beliscar com calma um pãozinho de queijo artesanal e arrematar com um doce de leite de búfala.
Geleias, bolos, sucos… tudo é bem fresquinho e com ingredientes vindos também de produtores locais. Uma das características dessa produção é que ela também é sazonal, já que os insumos seguem o ciclo natural, mudando assim periodicamente o que é servido na fazenda.
Como parte de toda a experiência, pude colocar a mão na massa e fazer o meu próprio queijo fresco de leite de búfala – particularmente, ficou uma delícia! E que tal terminar o dia na ampla varanda desfrutando de um cafezinho especial que vem dos cafezais a poucos metros de distância?
Visitação rural
Seja por um dia ou durante a hospedagem em grupo, as atividades da Alliança são voltadas à experiência rural agroecológica. Ao lado de um funcionário, é possível fazer um passeio geral pela fazenda e conhecer as plantações, saber como é feito o café e ainda visitar o sistema histórico de beneficiamento do grão do século XIX – tudo deve ser agendado previamente. Há visitação também ao casarão e aos equipamentos centenários da tulha. É uma das poucas propriedades da região com uma boa preservação dessa herança cafeeira.
Também temos um contato mais direto com os animais, em que acompanhamos a ordenha das búfalas e a colheita das hortaliças – que podem ser preparadas ali mesmo ou ainda levadas para casa no sistema “colhe e pague”, parte do pacote da visitação. Para o grupo que se hospedar na fazenda, há ainda uma piscina para se refrescar nos dias mais quentes que fica ao lado das palmeiras imperiais, criando um cenário especial.
![Daniela Filomeno deck fazenda Allianca](https://viagemegastronomia.preprod.cnnbrasil.com.br/wp-content/uploads/sites/5/2021/09/Daniela-Filomeno-deck-fazenda-Allianca.jpg?w=900)
Como se não bastasse a natureza que preenche o entorno da região do Vale do Café, uma trilha de cerca de 15 minutos – que pode ser feita a pé ou de carro – leva os visitantes a um mirante de madeira com vista espetacular para a cadeia de montanhas da Serra da Concórdia. É perfeito para apreciar o pôr do sol – e para finalizar a aproximação da natureza de maneira gentil que a Alliança propõe.
Fazenda Alliança Agroecológica
Rodovia RJ 145, km 47 – divisa entre Barra do Piraí e Valença
WhatsApp: (24) 98807-6146
fazendaallianca.com.br