O que é afroturismo e sua importância
Mais importante do que nunca, o afroturismo aparece como vertente do turismo tradicional, que inclui e dá destaque à cultura negra local
(Foto: Getty Images)
Bia Moremi, CEO e Diretora Criativa da Brafrika Viagens e da Brafrika DNA, para o CNN Viagem & Gastronomia
Falar de turismo em uma época onde ir à padaria é uma grande questão pode parecer utópico, mas tem se mostrado uma grande oportunidade de olharmos o setor com outros olhos. O Brasil abriga a segunda maior população negra do mundo, ficando atrás apenas da Nigéria – essa informação é pouco conhecida por nós brasileiros e pelo mundo afora. 2020, além de ser o ano em que uma pandemia varreu o mundo, foi também o grande ano antirracista e, desde então, falar de pautas raciais e ações afirmativas se faz cada vez mais necessário. E o turismo não poderia ficar de fora, uma vez que é um setor que movimenta uma cadeia muito extensa de fornecedores, desde o artesão na beira da praia até o piloto das companhias aéreas.
O afroturismo aparece como uma vertente do turismo tradicional incluindo e dando destaque à cultura negra dos locais visitados, colocando como prioridade fornecedores negros nessa cadeia produtiva e tomando ações afirmativas para deixar viajantes negros mais confortáveis, acolhidos e seguros ao viajar.
Gosto de usar Maceió como exemplo por ser um destino largamente desejado por todos por causa de suas praias com piscinas naturais paradisíacas. Se você está viajando com uma empresa de afroturismo, além de passar tempo nas praias e aproveitando todas as facilidades do turismo tradicional (bons hotéis, boa gastronomia e música local) você terá um dia dedicado a visitar o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, que fica a 1 hora de Maceió, e poderá conhecer a importante história desse quilombo que foi maior do que o território de Portugal.
Se optar por fazer um walktour pelo centro, você ouvirá a história da cidade pela perspectiva negra, com histórias de vitórias, resistências, mas também de amores proibidos, sagacidades e audácias que nossos antepassados deixaram pelas ruas da capital alagoana. Essa abordagem é possível em outros destinos largamente trabalhados pelo turismo tradicional e há muito campo para expansão também.
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Mas você pode estar se perguntando, será que o afro-turismo é somente para pessoas negras? Sem cerimônia eu te respondo: não! É essencial que pessoas não negras façam o afro-turismo. Acredito que independente da cor, raça, credo, gênero e orientação sexual, todos temos a ganhar quando conhecemos melhor a história dos povos africanos que constituem nosso país. Por ser uma população muito miscigenada, mesmo que você não seja uma pessoa negra, sua viagem com afro-turismo trará um pouco da sua própria história e te dará a oportunidade de ver com outros olhos um destino que talvez já tenha visitado diversas vezes.
Esse exemplo é uma frente de trabalho do afro-turismo, mas não o esgota. É uma ação afirmativa de, por exemplo, uma rede hoteleira fornecer a opção de ter fronhas de seda para clientes com cabelos crespos e cacheados, uma vez que essa fronha protege os cachos para não amassarem durante o sono. Mas isso talvez seja pauta para uma outra conversa.
Faço aqui o convite para que você desperte e aprenda com essa vertente do turismo tão necessária e urgente, uma vez que nosso país possui mais de 50% da população negra e cheia de histórias lindas e vitoriosas para contar. Assim que pudermos viajar novamente, considere afro-turistar por aí, será uma experiência inesquecível.
*Sobre Bia Moremi
Bia Moremi é CEO e Diretora Criativa da Brafrika Viagens e da Brafrika DNA, ambas empresas focada na reconexão da diáspora negra brasileira com uma África urbana e contemporânea e outras diásporas negras pelo mundo através de viagens e experiência in loco.