Turismo de isolamento puxa retomada do setor no Brasil
Hotéis em locais afastados são bastante procurados em tempos de pandemia
Natureza, isolamento e curtas distâncias que podem ser feitas de carro. É esse tipo de viagem que tem ajudado o setor de turismo, um dos mais impactados pela pandemia.
O hotel Unique Garden fica em Mairiporã, a cerca de 50 quilômetros da capital paulista, em uma área ainda preservada da Mata Atlântica. Depois de ficar fechado por dois meses e meio reabriu em 1º de julho com protocolos ainda mais rígidos de higienização.
Dos 28 quartos, 21 estão disponíveis para reservas e, durante a semana, 80% deles têm ficado ocupados. Para o fim de semana, não há mais vagas até 23 de agosto. Segundo o gerente de sustentabilidade, Daniel Martins, o hotel tem recebido mais famílias. No entanto, o que mais mudou foi a maneira dos hóspedes se relacionarem com o espaço.
“Antigamente, nosso hóspede tinha uma vontade muito grande de relaxamento, é um hotel focado para relaxamento, com experiências de contemplação. E a gente percebe que essa contemplação aumentou em curiosidade, vontade de andar, de explorar, vontade de conhecer cada cantinho desse hotel”, afirma ele.
Um exemplo disso é a horta sustentável do Unique Garden, que abastece o restaurante dos hóspedes e o refeitório dos funcionários. Já era uma atração, mas em tempos de pandemia a procura pelo tour dobrou. Em uma das experiências é possível colher o legume e preparar a própria salada.
Retomada gradual
De acordo com dados do IBGE, as atividades turísticas cresceram 19% em junho deste ano, na comparação com maio, que também teve aumento quando comparado a abril. Mas, o ganho acumulado de 28% nesses dois meses ainda não é suficiente para recuperar as perdas de 68% registradas em março e abril deste ano.
Para o presidente nacional da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Manoel Linhares, a retomada do turismo será gradual. “Primeiro o turismo regional, depois o turismo interno. No Brasil, que é um país muito extenso, temos Norte com Amazonas, o Centro-Oeste com o Pantanal, o Nordeste com essas belezas de praias, o Sul e o Sudeste. Com um destino e uma hotelaria que ofereçam maior segurança para receber seus hóspedes desde a chegada até a saída”, acredita ele.
Localizado em Santa Catarina, a uma hora de carro de Florianópolis, o hotel Ponta dos Ganchos ficou totalmente lotado no primeiro fim de semana de abertura, no início de agosto.
Outro exemplo da retomada do turismo em regiões mais tranquilas e isoladas é o hotel Mirante do Gavião, às margens do Rio Negro. Reaberto há cerca de 15 dias e com apenas 12 quartos, já tem quase 100% de ocupação até o mês de novembro. Antes da pandemia, o hotel recebia muitos estrangeiros em busca das belezas da Amazônia. Agora, a maioria dos hóspedes vem de perto, Manaus, que fica a 180 quilômetros.
O casal de engenheiros Ana Luísa Borges e Fabiano Aleixo é uma exceção. De férias, eles viajaram de Minas Gerais ao Amazonas em busca de sossego. “Nós viemos para a Amazônia porque tínhamos o sonho de conhecer, queríamos buscar paz e conexão com a natureza. E, nesse momento, um lugar que nos permitisse isolamento”, afirma Ana Luísa.
(Edição: Amauri Arrais)