Quanto mais quente, melhor: o impacto do verão em bares e restaurantes
A receita de estabelecimentos que sabem aproveitar a estação mais aguardada do ano para ampliar o faturamento
O bar tem apenas nove metros de largura, mas responde por quase 90% dos 1.500 frequentadores de um fim de semana qualquer. Os 10% restantes preferem as comodidades — começando pelo ar-condicionado — do restaurante do mesmo empreendimento, no primeiro andar. Já a imensa maioria se acomoda, de bom grado, na mureta em frente, que descortina uma vista deslumbrante da Baía de Guanabara. Falamos, claro, do bar Urca, que completou 85 anos em 2024 e já faz parte do Patrimônio Histórico, Cultural e Turístico do estado do Rio de Janeiro.
É um estabelecimento, como é de imaginar, altamente dependente do bom tempo. Como todo mundo sabe, os quase 300 metros da famosa mureta que faz as vezes de prolongamento do endereço ficam a céu aberto. “Quando chove, o movimento despenca”, resume um dos sócios, Rodrigo Gomes, neto do fundador, Armando Gomes (1916-2012). Quando o sol dá as caras, por outro lado, é só alegria para o estabelecimento, famoso pela empada de camarão e pelo bolinho de bacalhau, entre outros petiscos do tipo, e pela constante aglomeração em frente ao balcão.
Para o faturamento do bar Urca, obviamente, o verão é a melhor época do ano. “Nos últimos cinco anos, nossas receitas aumentaram 20% no período”, informa Rodrigo, que acredita que a estação deste ano poderá se traduzir em um percentual ainda maior. “A expectativa é de um movimento similar, enfim, ao de antes da pandemia. Isso porque a imagem do Brasil para os turistas estrangeiros melhorou nos últimos anos”. Registre-se que 50% dos frequentadores do bar Urca moram em outras cidades.
De olho no lucro extra trazido pelo verão, o estabelecimento se planeja para ampliar o estoque em 20%. Convém lembrar que a alta temporada, no Rio de Janeiro, vai do início de dezembro até o Carnaval — que ocorrerá, em 2025, no começo de março. Para dar conta do maior fluxo de clientes nesta época do ano, o endereço não costuma contratar mais gente. “Vamos sentindo, no dia a dia, se a nossa equipe está dando conta da demanda maior”, explica o neto do fundador. “Em caso de necessidade, mexemos na escala de trabalho”. O estabelecimento emprega 20 pessoas no bar, que se revezam em dois turnos, e 18 no restaurante, que trabalham no mesmo esquema.
Para o Café 18 do Forte, que serve um dos cafés da manhã mais concorridos do Rio de Janeiro, o verão é ainda mais estratégico. A estação mais aguardada do ano costuma incrementar as receitas do empreendimento de 25% a 35%. Também pudera: o Forte de Copacabana, no qual o estabelecimento está localizado, é tido como o terceiro endereço mais visitado da cidade. “No caso desse empreendimento, o movimento é bom o ano todo”, gaba-se um dos sócios, Edu Araújo. “Nunca há queda no número de frequentadores”.
O grupo encabeçado por ele tem oito negócios ao todo, um mais diferente do outro. Os demais estabelecimentos são o Quartinho, o Chanchada, o Pope, o Dainer, o Suru Bar, o Glorioso Sushi e o Fatchia. Nem todos se beneficiam do verão da mesma forma. “Os que privilegiam mais o contato com o clima externo são os que vão melhor na alta estação”, explica Araújo. O Dainer, não por acaso, costuma fazer mais sucesso em dias chuvosos ou nublados. “Se está um dia lindo de sol, os clientes preferem ir para endereços mais abertos ou para a praia”, resigna-se o restaurateur. O Dainer foca em brunch e almoços rápidos.
No caso do grupo de Araújo, a estratégia para o verão varia de endereço para endereço. Com 50 funcionários, o Café 18 do Forte, por exemplo, costuma contratar de quatro a oito extras entre dezembro e o Carnaval. “O Rio de Janeiro está na moda, o aumento de voos no aeroporto do Galeão não deixa mentir”, acrescenta o restaurateur. “Isso se traduz em novas oportunidades de negócio para quem souber se preparar.”
Para Fernando Blower, presidente do SindRio, o Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro, a alta do dólar e do euro devem fortalecer o turismo na cidade neste verão. “A cidade é um dos principais destinos do Brasil e viajar para fora do país está ainda mais caro”, argumenta. Ele acrescenta que eventos como o recente G20 e a premiação deste ano dos 50 Melhores Restaurantes da América Latina também favorecem o turismo local. “Alimentam uma imagem positiva da cidade e repercutem no mundo todo”, destaca.
Aos bares e restaurantes interessados em aumentar os ganhos durante a alta temporada, Blower recomenda planejamento. “É importante reforçar o treinamento dos funcionários levando em conta que boa parte da clientela desta época nunca pisou no seu estabelecimento”, sugere o presidente do SindRio. “Muitos dos clientes vão estar atrás de dicas sobre o que fazer no Rio de Janeiro. Os endereços que souberem fazer uso disso poderão se destacar”.
Dispor de funcionários fluentes em inglês, acrescenta Blower, é o ideal. “Não sendo possível, oferecer um cardápio nesse idioma é o mínimo”, defende. Atenção: ele se refere a inglês bem escrito. Nada de traduzir contrafilé como “against fillet”, como fazem alguns endereços da cidade, alimentando um folclore que não ajuda em nada. Em tempo: o SindRio promove cursos de inglês para atendimento em bares e restaurantes. A próxima turma começa dia 7 de janeiro.
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