Ilhas Cayman: paraíso vai além do “fiscal” ao reunir águas cristalinas, vida marinha única e hotelaria cinco estrelas

Pequeno país caribenho tem "cidade" de arraias e uma das melhores praias do mundo; destino é ideal tanto para mergulhadores quanto para turistas ávidos por cenários deslumbrantes

Saulo Tafarelodo Viagem & Gastronomia , George Town, Grand Cayman, Ilhas Cayman

É surpreendente que um território de 264 km² e uma população total de pouco mais de 71 mil habitantes seja também o lar de cerca de 600 bancos e empresas financeiras, incluindo 43 dos 50 maiores bancos do mundo, de acordo com a organização KPMG.

O apelido de “paraíso fiscal“, porém, vai além e prova que, independentemente das empresas financeiras, as Ilhas Cayman são, de fato, um pedaço do paraíso na Terra.

Em dias ensolarados, as águas do mar do Caribe são facilmente uma das mais transparentes que você pode ver na vida.

Areias branquinhas e supermacias, temperaturas que ficam anualmente entre 26°C e 30°C, serviços de hospitalidade de primeira e vida marinha abundante são outros atrativos que formam um dos combos caribenhos mais fiéis à fama da região.

Não é à toa que o país se destaca ano após ano em listas das melhores ilhas e praias do mundo.

Exemplos atuais são Grand Cayman, a principal das três ilhas do território, que aparece no sexto lugar entre as 25 melhores ilhas do mundo, e a Seven Mile Beach, praia mais famosa de todo o país que se alonga por 10 km e figura entre as 25 melhores praias do mundo, segundo o ranking Travelers’ Choice 2023.

O pequeno país também é morada de uma vida animal singular: aqui vivem as tartarugas-verdes (atualmente em perigo de extinção), as grandes arraias (que formam uma “cidade” no meio do mar) e a iguana-azul (espécie endêmica de Grand Cayman), em que os turistas podem vê-las de perto e ajudar na preservação.

“Destinos como as Ilhas Cayman são promovidos com belas fotos de recifes de corais e praias de areia branca, e nosso objetivo é garantir que as pessoas vejam o valor de minimizar seu impacto em recursos naturais tão incríveis”, diz Jordan Charles, Gerente de Recreação do Ambassadors of the Environment, programa educacional que atua em diversos países e que é uma das autoridades locais quando o assunto é aliar preservação a atividades ecológicas.

Seven Mile Beach tem águas límpidas e concentra hotéis em Grand Cayman / Saulo Tafarelo

Assim, as Ilhas Cayman cumprem também o checklist para turistas que buscam praia, boa gastronomia e luxo. Vale dizer que o custo de vida por aqui está entre os mais caros do mundo. Não obstante, é refúgio de celebridades de alto escalão: Bella Hadid, Jennifer Lopez e Emily Ratajkowski, por exemplo, descansaram aqui no começo deste ano.

Para aqueles que desejam colocar o destino na rota de férias, uma novidade: a partir de 26 de junho não será mais necessário passar pelos Estados Unidos para aterrissar nas Ilhas Cayman.

Sem necessidade de visto em mãos, brasileiros que antes faziam conexão em Miami podem fazer a parada agora na Cidade do Panamá e pegar um voo para a capital George Town às segundas e quintas-feiras pela Cayman Airways, companhia nacional do país.

Raio-X das Ilhas Cayman

Logo na fila de imigração do Aeroporto Internacional Owen Roberts, principal porta de entrada do país, os viajantes se deparam com retratos da Rainha Elizabeth II e do Príncipe Philip.

É um lembrete de que o território é um espaço ultramarino britânico, o que significa que as Ilhas Cayman estão sob jurisdição e soberania do Reino Unido, mas possuem autonomia interna.

A língua oficial é o inglês e a moeda é o dólar das Ilhas Cayman, equivalente a 1,25 dólar americano, os quais são amplamente aceitos por todo o território.

Dados do governo mostra que os serviços financeiros e o turismo são os pilares econômicos do país.

Enquanto o território virou um dos maiores centros internacionais de serviços financeiros do mundo a partir da década de 1980, o turismo engatinhou com o tempo.

Para se ter uma ideia, mais de 2,3 milhões de turistas entraram no país em 2019, ano pré-pandêmico. Os dados do departamento de turismo apontam que grande parte deles chegam pelo mar a bordo de grandes cruzeiros, que atracam em Grand Cayman e descarregam hordas de viajantes, a maioria a passeio por apenas um dia.

Os meses entre dezembro e abril são de alta temporada, mas março e abril são considerados os melhores meses para se visitar, já que o clima é bom e não há tantos turistas.

São dois os períodos climáticos mais marcados do país: de maio a outubro os verões são quentes e chuvosos e de novembro a abril os invernos são mais amenos e relativamente secos.

As ilhas: mergulho e até território “não oficial”

As Ilhas Cayman são divididas em três: Grand Cayman, Cayman Brac e Little Cayman. A porta de entrada é Grand Cayman, onde se debruçam as praias mais famosas, as atrações, os hotéis e a maior parte dos moradores – cerca de 35 mil deles estão na capital George Town.

O aeroporto possui voos regulares para as outras ilhas, já que a via aérea é a única maneira de acessá-las. Em pequenas aeronaves, os voos duram entre 30 e 40 minutos e custam em média US$ 86 para Cayman Brac e US$ 99 para Little Cayman.

As ilhas irmãs são bem menos povoadas e reúnem pouco mais de duas mil pessoas. Em contrapartida, oferecem praias vazias e atrativos voltados à natureza e aos mergulhos.

Em Cayman Brac, o mergulho tem direito a cenários com paredões rochosos e até navio naufragado: uma fragata russa construída pela União Soviética em 1984 pode ser vista no fundo das águas – é um dos poucos navios navais soviéticos afundados no hemisfério ocidental.

Dolinas, cavernas de calcário, florestas recheadas de pássaros e vegetação que é habitat de répteis completam as características. As acomodações são geralmente casas, apartamentos e vilas para aluguel.

Já a remota e pequena Little Cayman, com apenas 16 km de extensão, também tem praias completamente vazias.

A South Hole Sound Lagoon garante banhos de mar em meio a cores azuis vívidas e a Bloody Bay Wall Marine Park oferece aos mergulhadores a oportunidade de se deslumbrar com tubarões, arraias e tartarugas nativas, que convivem a 30 metros abaixo da superfície.

Curiosidade: aqui há uma quarta ilha não oficial. A Owen Island é uma ilhota de águas límpidas e calmas acessada apenas por barco a vela e caiaque, onde turistas geralmente passam a tarde nas areias branquíssimas do local.

Praia entre as melhores do mundo e  “cidade” de arraias

Caso não consiga visitar as outras ilhas, mantenha a calma: Grand Cayman reúne as principais atrações que sumarizam a experiência nas Ilhas Cayman.

Se deseja sair da sombra e água fresca do hotel para conhecer um pouco mais a região ou estiver em um transatlântico com tempo limitado, as atividades a seguir podem ser perfeitamente encaixadas no itinerário.

A começar, impossível não se maravilhar com o cenário deslumbrante da Seven Mile Beach, uma das mais bonitas do mundo. Ela é a mais conhecida do país, em que reúne hotéis, casas e condomínios de veraneio.

Com temperaturas agradáveis, as águas cristalinas impressionam e lembram uma piscina em dias calmos. A dica é pegar uma máscara de snorkeling e nadar pelas águas. Tanto de manhã quanto no pôr do sol, indivíduos caminham pelas areias fofas – muitas vezes com seus pets – admirando o cenário repleto de jet skis e catamarãs.

Outra das atividades imperdíveis é a visita a Stingray City, a “cidade das arraias”. Não é uma verdadeira cidade, mas sim um banco de areia a 40 km da costa que concentra uma alta quantidade de arraias amigáveis. Excursões particulares saem das marinas em direção ao mar aberto, em que se chega ao banco de areia em meia hora.

Snorkeling com as arraias é uma das atividades mais famosas das Ilhas Cayman / Divulgação/The Ritz-Carlton, Grand Cayman

Em dias de sol e mar calmo, os turistas podem nadar lado a lado das arraias e mergulhar com snorkeling. De qualquer maneira, o cenário é para lá de fotogênico.

O passeio tem preços a partir de 90 dólares das Ilhas Cayman por pessoa (cerca de R$ 546) pela Red Sail Sports, uma das mais tradicionais empresas do tipo no país.

Acessível de carro ou de barco, o Starfish Point também atrai turistas por seus encantos naturais: a uma hora de George Town, na Water Cay Road, é uma praia isolada com águas calmas que revelam várias estrelas-do-mar. É um passeio para uma tarde agradável.

Outra das espécies marinhas que pode ser vista de perto é a tartaruga-verde, atualmente em perigo de extinção internacional, de acordo com a World Wild Life (WWF).

No Cayman Turtle Centre, em West Bay, viajantes podem alimentá-las e nadar junto delas, as quais podem ter mais de 1,40 m e pesar cerca de 200 kg. O local ajuda na preservação da espécie, que já foi dizimada por conta da pesca em décadas anteriores.

A visita ocorre todos os dias das 8h às 17h por meio de entradas que variam de US$ 29 e US$ 45 (entre R$ 146 e R$ 228).

Se a vida animal única das Ilhas Cayman te fisgar, ver uma iguana-azul de perto também ficará na memória. Endêmicas de Grand Cayman, ou seja, que não existem em nenhum outro lugar do mundo, elas podem ser apreciadas no Blue Iguana Habitat, dentro do parque botânico Queen Elizabeth II Botanic Park.

Jardins com cerca de 100 iguanas fazem parte do Blue Iguana Conservation Programme, que nasceu na década de 1990 para alavancar o número da espécie. Eram menos de 30 indivíduos antes de 2001, mas que em 2018 bateu a meta de mil deles.

Assim, o projeto mudou de foco e hoje dá ênfase à conservação da espécie, que é caracterizada por animais grandes de cores que variam do cinza ao azul brilhante.

A entrada no parque botânico, que fica em North Side, a 40 minutos da capital, sai por 10 dólares locais (cerca de R$ 60), mas para checar as iguanas é preciso pagar mais 5 dólares locais (R$ 30).

Preservação necessária

Por falar em preservação, uma das melhores maneiras de ajudar neste quesito por aqui é, justamente, visitando estes locais.

“Turistas podem fazer sua parte apoiando iniciativas como o Programa de Conservação da Iguana-Azul e outras que protegem diretamente espécies nativas e endêmicas durante a estada. Quando voltarem para casa, eles também podem ajudar na proteção de belos destinos tornando-se mais conscientes”, diz Jordan Charles, o Gerente de Recreação do programa Ambassadors of the Environment.

Feito em parceria com o hotel The Ritz-Carlton, Grand Cayman, o projeto é um dos principais em termos de conservação e conscientização na ilha e dispõe de atividades ecológicas para todas as idades. Mergulho entre recifes de corais, caiaque no mangue, visita e aulas sobre espécies ameaçadas tornam as Ilhas Cayman um laboratório vivo. Os valores das atividades vão de US$ 95 a US$ 140 (R$ 475 a R$ 700).

Caiaque pelos mangues é uma atividade do programa; local é onde peixes colocam seus ovos / Divulgação/The Ritz-Carlton, Grand Cayman

O programa ainda ajuda o entorno de outras formas. “Realizamos limpezas nos manguezais e no oceano para remover o lixo e ajudar essas áreas a prosperar. Os membros também contribuem com suas competências diversificadas. Uma das minhas contribuições por exemplo, é a remoção de peixes-leões invasores no oceano daqui”, completa Jordan.

Hotelaria cinco estrelas

Claro que, com todos os atributos acima, a ilha teria uma hotelaria a altura. É o caso do The Ritz-Carlton, Grand Cayman, que fincou sua bandeira de qualidade há cerca de 17 anos na Seven Mile Beach.

Mais famoso resort da ilha e um dos únicos cinco estrelas, ele carrega grandes números: 369 quartos, mais de 850 funcionários de 65 nacionalidades (incluindo brasileiros), cinco restaurantes, 58 hectares, duas grandes torres e campo de golfe de nove buracos.

O hotel inclui o que é considerada a maior suíte de todo o Caribe: a cobertura tem cerca de 740 m² com áreas internas e externas. É possível ainda aumentar o espaço: com cômodos adjacentes, o local fica com 1.600 m² e nove quartos.

A decoração do resort tem carpetes e papéis de parede com paleta com cores azuis e verdes inspirados na vida botânica local, além de tons brancos e beges das areias.

Com o fechamento das fronteiras durante a pandemia, a administração decidiu passar por um “renascimento” com interiores reimaginados.

Entra nessa conta também a ligação com a comunidade local: o hotel mantém a maior galeria de arte das Ilhas Cayman, em que dispõe de quadros de artistas locais – todos à venda. Aqui, há grandes chances de se ouvir bossa nova enquanto se aprecia os trabalhos.

Já nas areias da praia ficam oito cabanas particulares – outras seis ficam na piscina – e cadeiras com toalhas e serviço de praia.

Se as águas do mar não forem suficientes para relaxar, o spa é o local perfeito para a missão: são quase 2 mil m² que abarcam 17 salas de tratamento, vestiários com duchas com águas aromatizadas, jacuzzi de águas superquentes e saunas seca e úmida. Com decoração elegante, o spa mira em tratamentos de bem-estar holísticos e antienvelhecimento.

Parque aquático com brinquedões, quadras de tênis e basquete e sala de jogos completam a diversão para a garotada. Vale dizer ainda que os amplos jardins têm despontado como parte do cenário de destination weddings.

Na parte gastronômica, o hotel adiciona requinte à cena local. São cinco restaurantes: o Andiamo é o italiano; o Taikun é o asiático; o Seven é o de carnes e frutos do mar premium; o Silver Palm Lounge é o bar; e o Saint June, pé na areia, é o casual com menu de inspiração latina (há até pão de queijo!).

Por fim, o Blue é o único além do nova-iorquino Le Bernardin sob a batuta do chef Eric Ripert, três estrelas Michelin. O peixe é o protagonista do cardápio e a casa acumula 700 rótulos de vinhos.

“Estamos no Caribe e queríamos ter um restaurante que refletisse a influência da região. Então, antes de mais nada, procuramos pescadores da ilha para obter muitos peixes locais”, comenta o chef, que trabalha com insumos como pargo e espadarte.

Quer um dia perfeito? Relaxe na piscina e na praia beliscando porções de frutos do mar junto da Caybrew, a cerveja local. Reserve um tempo para o pôr do sol e se impressione com as cores alaranjadas no horizonte.

Após o jantar, termine a noite no bar Silver Palm com um drinque em mãos enquanto música ao vivo toca ao fundo. De volta ao quarto, acredite: uma das melhores características do hotel é a cama. Junto dos travesseiros macios e do jogo de cama primoroso, uma boa noite de sono é a melhor aliada dos turistas.

Vale dizer que acomodações menores, como hotéis-boutique como o Palm Heights, com seus característicos guarda-sóis amarelos, também dão as caras na Seven Mile Beach.

Festival gastronômico com time de peso

Após a inauguração do Blue, by Eric Ripert no The Ritz-Carlton, o estrelado chef propôs ir além: com turistas ávidos por experiências de alto padrão, por que não criar um festival gastronômico?

Surgiu então o Cayman Cookout, que há 15 anos agita a cena gastronômica das Ilhas Cayman em meados de janeiro ao reunir um time de chefs reconhecidos mundialmente. Nas areias da Seven Mile Beach, eles trocam os sapatos por chinelos e promovem aulas, almoços e jantares com suas expertises.

Além do anfitrião Eric Ripert, o line-up conta com chefs como Dominique Crenn, Andrew Zimmern e Emeril Lagasse, para citar alguns que participaram nos últimos anos – Anthony Bourdain, amigo próximo de Ripert, chegou a frequentar as primeiras edições. Mixologistas e sommeliers do mais alto escalão também se encontram por aqui.

Quem abriu os trabalhos neste ano foi Daniel Boulud, chef francês com duas estrelas Michelin, que preparou ceviche de vieira com toque apimentado e pequenas lulas recheadas com molho tailandês para convidados e visitantes nas areias da praia.

Outro dos grandes destaques do festival deste ano, o premiado chef espanhol José Andrés, com toda sua personalidade engraçada e agitada, preparou uma grande paella para os convidados e visitantes do festival. Completaram o cardápio sangria com cava e gazpacho com tomate e melancia.

Nome por trás da World Central Kitchen, organização que oferece refeições frescas em momentos de crise, o chef também captou US$ 100 mil no festival, montante revertido para ajuda na Guerra da Ucrânia.

Além dos nomes internacionais, o festival é uma oportunidade de entrar melhor em contato com a gastronomia local: chefs aprendizes ou que comandam restaurantes na ilha são convidados a mostrar seus trabalhos e participam de uma competição.

“O Cayman Cookout é parte do DNA do hotel; ele consolidou nossa posição como principal destino gastronômico do Caribe”, diz Marc Langevin, gerente geral do resort.

Enorme brunch com direito a caviar e lobster-rolls, churrasco noturno na praia com barracas de comidas exclusivas e DJ, grandes festas regadas a champanhe, almoços e jantares feitos sob medida e show de drones marcam as experiências emblemáticas. Para os interessados, a 15ª edição já está em planejamento e deve ocorrer entre 9 e 15 de janeiro de 2024.


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